Exercício de escrita crítica proposto para a
Oficina de Crítica de Cinema na 5ª edição da
Mostra de Cinema Contemporâneo do Nordeste
Ministrante: João Paulo Barreto
Anderson Moreira, Thacyla Mendes e Gustavo Simas |
Texto de Gustavo Simas.
O livre arbítrio como privilégio
Longa baiano Café, Pépi e Limão escancara a ilusão da escolha em adolescentes em situação de vulnerabilidade
Assinar um documento sem saber o que ele contém. Fazer escolhas, na pele de uma criança, sem ter um rastro de ideia das consequências.
Baba Yaga
Texto de Anderson E. Moreira
O dia a dia e a saga de um assassino de aluguel que voltou a ativa, nesse quarto filme da franquia o que eu pude observar que foi retirada a melancolia que tinha o primeiro filme e adição de mais cenas de porradaria e violência explicita.
Mas vale ressaltar também que dentro do longa com roteiro de Michael Finch, Shay Hatten e direção de Chad Stahelski pode se encontrar alívios cômicos para tentar arrancar uma gargalha do seu espectador na sala de cinema.
E, sim, isso aconteceu comigo! Principalmente com o próprio John interpretado por Keanu Reeves e o outro personagem chamado de Rastreador / Sr. Ninguém, interpretado pelo ator Shamier Anderson e seu cachorro fiel escudeiro.
Nessas idas e vindas depois de um ano que assisti o capítulo 4 tive um estalo desse filme após participar de uma oficina critica de cinema essa tal cena me chamou atenção! Não que as outras com seus planos sequencias bem executados e o ritmo frenético da câmera na mão não chame a atenção de quem assiste,
Mas a luta nas escadas faz com que a gente sinta na pele aquela adrenalina, e transpondo para o lado social da coisa como eu vi ali eu consegui imaginar um trabalhador que acorda cedo todo santo dia e sobe cada degrau para alcançar uma boa condição de vida, matando um leão e varias outras situações por dia e chega um momento que ele cai e volta novamente lá do começo!
É o que acontece todo santo dia com as pessoas na sociedade que não desiste e sobe novamente.
Com abordagem humorística para discussões sérias, "American Fiction" discorre sobre o papel da representatividade, do pensamento crítico e o perigo dos estereótipos raciais.
O longa dirigido por Cord Jefferson - que teve a façanha de ser indicado ao Oscar logo com seu primeiro filme - conta a história de Monk, um escritor e intelectual que, ao enfrentar dificuldades para vender seus livros, decide assumir um pseudônimo e escrever uma história dotada de estereótipos atribuídos a pessoas negras. Sua intenção era apenas fazer uma piada com os editores, entregando a eles uma obra de má qualidade, contudo, para sua surpresa, a obra é aclamada pela editora, e após a publicação também é abraçada pelo público.
Agora, é importante ressaltar o contexto envolvido na dificuldade do escritor para publicar suas obras. Segundo seu agente, os livros de Monk não eram "negros o suficiente" para as demandas do mercado literário. Nesse ponto questionamos o perigo dos estereótipos e o real valor da representatividade.
O que seria "negro o suficiente"? E com qual regra esse valor é medido? A história que Monk escreve como forma de piada é baseada em crimes e com linguagem pautada em xingamentos. Ainda assim, este livro foi tratado como revolucionário e inovador, tanto pelo público como por autoridades do meio literário.
Enquanto isso, era dito que os outros livros de Monk não atendiam as demandas do mercado literário. Mas então o que mercado busca? Uma representatividade que promova a diversidade ou algo que apenas perpetue a visão de pessoas brancas?
O cenário apresentado em American Fiction denuncia uma representatividade que só importa quando atende a requisitos pré-definidos.
Como o rapper brasileiro Baco Exu do Blues diz na canção Bluesman: "eles querem um preto com arma pra cima, num clipe da favela gritando 'cocaína' Querem que nossa pele seja a pele do crime".
Em determinada cena, Monk vai para uma livraria e percebe que os livros escritos por pessoas negras são todos catalogados como "literatura afroamericana", independente do gênero ou tema, já os livros de autores brancos são devidamente organizados em suas categorias. Essa cena destaca como a literatura (e a arte, de forma geral) de autores negros é frequentemente marginalizada e confinada a um nicho específico, independentemente do conteúdo. Aqui está exposta a tendência de reduzir a identidade negra a uma única categoria, ignorando a diversidade e a complexidade das suas experiências e narrativas, perpetuando a desigualdade e indo contra a tudo aquilo que a representatividade propõe.
O longa também reflete quanto ao pensamento crítico envolvido no consumo da arte, ainda mais quando o protagonista questiona outros personagens negros que também consideraram aquele livro como revolucionário. Refletimos sobre o que consumimos? Prestamos atenção na mensagem transmitida e em como impacta o mundo a nossa volta? Sabemos o que cada obra está comunicando? Ou apenas nos contentamos com o superficial que satisfaz nosso consumo e gera engajamento?
A ficção da trama cutuca a realidade de diversas maneiras. Com tantas camadas envolvidas em apenas 117 minutos de filme, não é a toa que American Fiction levou para casa a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado no Oscar 2024.