sexta-feira, 3 de abril de 2020

Isolados, mas com Cultura


Quarentena
com Cinema Baiano

Astrogildo e a Astronave, de Edson Bastos,
é um dos destaques disponíveis 

Com as imprescindíveis medidas de confinamento para evitar uma ainda maior epidemia do COVID 19, uma opção de acesso à cultura vem da recente filmografia baiana disponível on line

Por João Paulo Barreto

Com o necessário fechamento de salas de cinema, teatros, suspensão de shows musicais e outros eventos de entretenimento, o confinamento em lares até que haja um controle mínimo da pandemia do COVID - 19 tem feito as pessoas se voltarem aos filmes disponibilizados em plataformas digitais, bem como, os que ainda mantêm o hábito de consumir filmes em mídia física (o caso deste que vos escreve), os bons e velhos disquinhos de DVD e blu-ray. E, em decorrência da imprescindível necessidade de se ficar em casa, cineastas da Bahia têm liberado seus conteúdos em plataformas digitais, como YouTube, Vimeo, além de canais de streaming, que já exibem as produções feitas aqui no estado.

CURTAS METRAGENS

A produtora Olho de Vidro, por exemplo, liberou on line no Vimeo curtas recentes, como Estela (vimeo.com/238511289), curta de 2017 estrelado por Paula Lice, que, no Panorama Internacional Coisa de Cinema, recebeu menção honrosa por sua atuação. O curta é dirigido por Hilda Lopes Pontes e também teve exibição no II Festival Poe de Cinema Fantástico. Ainda no âmbito do cinema de gênero, A Triste Figura (vimeo.com/255212158), filme de 2018, dirigido por Calebe Lopes, também teve seu link aberto para apreciação on line. Na obra, Carlos Betão vive um pastor evangélico de comportamento nefasto e abusivo. Confrontado por sua filha, vivida por Dora Goritzki, o homem tem um surpreendente encontro com um destino fatídico. Com uma ambientação precisa na criação de uma proposta sobrenatural, o curta é mais um exemplo da evolução do diretor como contador de histórias no cinema fantástico. Por último, O Sorriso de Felícia (vimeo.com/265312447), psicodélico curta dirigido por Klaus Hastenreiter, também teve seu link liberado no Vimeo. Para o cineasta e fundador da Olho de Vidro, “Esse é um momento muito delicado que estamos vivendo e esta é a nossa singela maneira de procurar contribuir com a rotina enclausurada de quem está neste isolamento”

Paula Lice em Estela, de Hilda Lopes Pontes

A Triste Figura, de Calebe Lopes, e O Sorriso de Felícia, de Klaus Hastenreiter

Outra produtora baiana a liberar alguns dos seus trabalhos on line é a Gran Maître Filmes. Os filmes Ele Foge, de Dino Galeazzi e O Vizinho de Frau Kutner, do diretor Marcos Alexandre, ficam disponíveis no canal YouTube da produtora a partir de 08 e 09 de abril, respectivamente. Na obra dirigida por Marcos Alexandre, uma representação da arte da atuação através das lembranças de um ator e seu último papel. Indiretamente, uma coincidente rima com a necessidade atual da clausura se faz valer. Já em Ele foge, Dino Galeazzi, outro representante do cinema de gênero na Bahia, traz um vislumbre de um apocalipse zumbi. Para o fundador da Gran Maître, Marcos Alexandre, a disponibilidade dos filmes possibilitará com que novos públicos possam conhecer mais sobre as nossas histórias e realizações. “É um momento em que grande parte das pessoas estão em sua casa, em quarentena, usufruindo e a procura de conteúdo audiovisual, seja pela internet e/ou streaming. Portanto, vejo que entraremos junto com outros coletivos, produtoras e realizadores para distribuição online de filmes independentes”, afirma. 

Ele Foge, de Dino Lucas Galleazzi

O Vizinho de Frau Kutner, de Marcos Alexandre

A Voo Audiovisual, dos cineastas Edson Bastos e Henrique Filho, também liberou diversas produções no canal YouTube da produtora. Dentre elas, O Filme de Carlinhos, lúdica homenagem ao cinema pelos olhos infantis, e Astrogildo e a Astronave, outro curta a abordar, através da beleza da fantasia, um notório personagem de Ipiaú, terra natal de Edson. Para o diretor e fundador da Voo Audiovisual, a situação, mesmo apresentando aparência de uma ficção científica, tem resultados brutais na realidade. “Nunca imaginamos que isso um dia aconteceria na vida real. Sets de filmagens adiados, telenovelas adiadas, cinemas fechados, projetos parados, eventos adiados, mas tudo isso porque confiamos nas orientações das organizações de saúde como a OMS, estamos vendo o que outros países estão passando e acreditamos que o isolamento é fundamental”, afirma Edson Bastos e salienta: “Já estamos vivendo desemprego no Audiovisual desde que Bolsonaro foi eleito. São muitos projetos parados, sem liberação de recursos, por questões ideológicas do presidente, que não entende nada sobre cultura e audiovisual, e emperra a nossa economia de gerar emprego e renda.”

O  Filme de Carlinhos, de Edson Bastos e Henrique Filho

LONGAS

No âmbito dos longas baianos, um dos destaques são os da produtora Hamaca Filmes, do cineasta Henrique Dantas, que também disponibilizou alguns dos seus trabalhos, como os documentários Sinais de Cinza – A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade (vimeo.com/133508577) e A Noite Escura da Alma (vimeo.com/134948902). Dentre os curtas, o infantil A Bicicleta do Vovô (vimeo.com/298676827) e o documentário Ser Tão Cinzento (vimeo.com/401492387). 

“Estamos ouvindo nestes tempos recentes essa ladainha deque artistas não servem para nada, que artistas são um câncer para a sociedade. Agora, nesse momento de quarentena, se não existisse arte, estariam todos pirados. Então, a Hamaca Filmes, em tempos de pandemia, onde a Arte ganha novos significados numa sociedade que tentava desmerecê-la, vem a público disponibilizar parte dos seus filmes”, pontua Henrique Dantas e salienta que está fazendo os esforços necessários para disponibilizar o restante das obras. 
                     

Cartazes de dois dos filmes de Henrique Dantas disponibilizados on line na plataforma Vimeo




Outros dois longas baianos disponibilizados on line são Depois da Chuva (vimeo.com/112407880), filme de Cláudio Marques e Marília Hughes, bem como Trampolim do Forte, longa metragem de João Rodrigo Mattos, disponibilizado no YouTube, na página da produtora DocDorma. Em tempos de clausura para nossa própria segurança, esse mergulho na filmografia recente do cinema baiano traz um respiro necessário para a arte. 

Cena de Depois da Chuva, de Cláudio Marques e Marília Hughes 
Cena de Trampolim do Forte, de João Rodrigo Mattos 

*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 04/04/2020






Nenhum comentário:

Postar um comentário