segunda-feira, 3 de maio de 2010

Homem de Ferro 2



Após dois anos de expectativa, chega finalmente aos cinemas a continuação de Homem de Ferro. E toda essa expectativa me frustrou. Uma pena... Tentando pinçar elementos clássicos dos quadrinhos, o roteirista Justin Theroux falhou ao utilizar ecos da fase Demônio na Garrafa, saga clássica onde Tony Stark é atormentado pelo alcoolismo. Apesar de não ser obrigado a explicar aos não iniciados no universo das HQs que aquele ponto trata-se de uma referência, Theroux utiliza esse argumento de forma capenga, se valendo de um motivo suicida (o envenenamento por paládio) para que Tony se entregue à bebida. Essa alternativa soa artificial, sendo Stark um pinguço de primeira que poderia ser considerado um alcoólatra sem qualquer dose de paládio em seu bourbon. Os que conhecem a história do personagem percebem essa artificialidade no drama sofrido por ele, já que todo o processo ocorreria de forma gradativa; os que o conhecem apenas pelo cinema e não vêem nenhuma intenção de se referenciar os gibis, ironicamente, são plenamente capazes de notar algo de errado nas atitudes de Stark e na história. Ora, o cara conseguiu escapar de uma caverna sitiada por terroristas! Será mesmo que a atitude mais madura para alguém com esse histórico é dar uma festa onde urinar dentro da armadura seria uma piada? Ok, o personagem não é um primor da maturidade, é preciso admitir.

Nesse ponto é interessante frisar que todos parecem se esforçar para tratar Stark como uma criança crescida. Até ele próprio. Nada contra, friso. A atuação de Downey Jr., com seus diálogos rápidos e olhares cínicos convence justamente por encontrar um par na personalidade do próprio ator, notório piadista como demonstram suas entrevistas de divulgação. No entanto, cansa o fato de que todos os diálogos entre ele e Gwyneth Paltrow (Pepper Potts, a assistente e babá do herói) são centrados em sermões e pedidos de “Cresça, Tony!”. Até mesmo quando ele, finalmente, toma uma atitude séria e a salva da morte certa, ela aproveita para esculachar o herói.

O elenco de apoio do filme conta com um desconfortável Don Cheadle (Coronel James Rhodey) no papel que foi de Terrence Howard; Scarlett Johansson, ansiosa pela sua “cena Matrix” de invasão de um prédio (e desperdiçada em todo resto do longa), não chega a convencer na roupa de couro da Viúva Negra, mas garante seu lugar no terceiro filme da franquia (e em um inútil filme solo, diga-se); Sam Rockwell mostra sua veia cômica e caricata ao viver um quase irmão de Tony Stark, no que se refere às atitudes que beiram à infantilidade, como aparecer chupando um pirulito ou dançando em sua exposição armamentista; Samuel L. Jackson aproveita como pode o presente que recebeu da Marvel ao topar a adaptação de Nick Fury às suas feições; porém, é mais uma vez Mickey Rourke que assusta em sua atuação: ao personificar o vilão Ivan Ranko com um trabalhado sotaque russo, gritos guturais e um passaro de estimação (?!), o ator mostra que merece, realmente, uma segunda chance no cinema. Nada que ele já não tivesse provado em “Sin City” e “O Lutador”. Uma lástima, então, o modo como ele se despede da franquia...

As cenas de ação, felizmente, salvam o longa. As seqüências em Monaco, além de possuir panorâmicas belíssimas do principado, prendem a atenção com os cortes ágeis e o uso sóbrio da câmera lenta de Jon Favreau. Sem contar o fato de que a forma como foi bolado um jeito de Stark vestir a armadura supostamente guardada dentro de uma maleta é genial. Vale salientar uma visível melhora do diretor em relação ao primeiro longa. Nesta seqüência, apesar de ter sido visivelmente prejudicada pela baixa classificação etária nas cenas que exigiam mais violência (uma cidade inteira explode e ninguém se machuca? O caos impera no quarteirão e ainda vemos carros circulando ao fundo num trânsito calmíssimo de final de noite? Alguém?), Favreau soube criar um climax que, apesar de ficar bem atrás do “Hulk” de Edward Norton, encerra o filme antes que a desnecessária e longa duração se prolongue demais.

Que venha o Thor!
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ps. Não posso deixar de fazer uma referência à Disney e à compra da Marvel. Justamente no dia que tive um tempo de conferir Iron Man 2 nos cinemas, nossa primorosa equipe de representantes interditou boa parte das principais vias da região, gerando um impressionante caos no tráfego, para que acontecesse a parada Disney.
Um brinde à nossa incompetência: Pateta, Mickey e os Irmãos Metralha abrem a parada.