segunda-feira, 11 de março de 2019

Capitã Marvel



Capitã Marvel vai além da ação ao destacar 
força de personagem feminina

Em tempos de xenofobia e racismo tão evidentes, 
Marvel Studios acerta ao levantar crucial discussão


Por João Paulo Barreto

O que poderia se render a um roteiro simplório e maniqueísta de bem vs mal (ou, pior, humanóides bonitos vs aliens lagartos feios), o texto por trás de Capitã Marvel, novo filme da Marvel Studios, acaba por gerar uma reflexão importante em tempos nos quais a política se tornou um instrumento abertamente utilizado para justificar atitudes racistas e xenofóbicas. Nesse estruturar de sua trama, o diálogo se torna o principal instrumento dentro do entendimento entre dois povos diferentes cuja sobrevivência de seu legado como seres vivos é meta para ambos. E é justamente neste pilar que o longa acertadamente se sustenta.  

Apresentando Carol Danvers (Brie Larson), ou apenas Vers, sua identidade alienígena, a militar Kree que luta para manter as fronteiras do planeta Hala livres dos Skrulls, uma raça de transmorfos, Capitã Marvel se ambienta em 1995, ano no qual, após uma luta contra os Skrulls, a capitã cai na Terra e segue em busca dos seres que também vieram parar no planeta. Como motivo para diversas piadas, a começar pelo local onde a jovem despenca (uma loja da Blockbuster, popular locadora de filmes em VHS), o ano no qual se passa a trama do filme rende muitas brincadeiras com o uso lento da internet naqueles primórdios da tecnologia, período no qual pagers anunciavam futuras mensagens instantâneas e leitores de CD player levavam alguns minutos carregando dados para leitura.

Força da personagem em um passado obscuro

Com essa ambientação, a obra dirigida pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck, aproveita diversas oportunidades para estabelecer um início para o já consolidado universo cinematográfico Marvel, apresentando elementos símbolos como o Tesseract que contém a uma das Jóias do Infinito, bem como figuras que se tornariam a cara daquele mesmo universo. Nesse viés, os conhecidos (e impressionantes) rejuvenescimentos que a Marvel já trouxe em outros filmes, aqui, traz versões de atores como Samuel L. Jackson e Clark Gregg, apresentados mais jovens de forma a criar para a trama diversas possibilidades de desenvolvimento com as origens de seus personagens, todas elas muito bem aproveitadas por Boden e Fleck, também creditados como roteiristas.

XENOFOBIA EM XEQUE

É pertinente observar como o filme, aproveitando o pilar inicialmente citado de basear-se na paranóia da desconfiança perante aquele que está próximo a você para criar uma reflexão acerca do preconceito, consegue gerar no espectador atento justamente essa análise de como esse medo do desconhecido, apesar de justificável em alguns aspectos, pode ser nocivo. E ainda no aspecto de criar reflexão, o longa traz a presença de duas personagens femininas cuja força e capacidade de sobressair-se em um ambiente comumente observado como masculino as tornam ainda mais fortes, principalmente ao colocá-las como modelo a ser seguido pela filha de uma delas.


Paranoia como ponto de desconfiança

Criando cenas de ação envolvendo aeronaves em cânions, algo que remete de modo satisfatório a perseguições em estrelas da morte, além de colocar a protagonista em voos solos que ilustram todo o poder e capacidade da protagonista, o aspecto visual de Capitã Marvel é de encher os olhos, tornando possível um entretenimento que ultrapassa os aspectos plásticos por conseguir unir efeitos especiais e argumentos de reflexão de forma orgânica, sem forçar lições ao espectador, mas permitindo-o pensar acerca do que lhe está sendo apresentado como algo além de um simples filme pipoca.

E, claro, iniciar seus créditos com uma bela homenagem a Stan Lee, recentemente falecido, com suas participações nas produções do estúdio ilustrando a sua logomarca é um bônus que fará muito fã das histórias em quadrinhos se emocionar. Como ele mesmo gostava de dizer, Excelsior!

*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 11/03/2019

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