quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Histórias de Amor que Não Pertencem a Este Mundo

(Amori Che Non Sanno Stare al Mondo, Itália, 2017) Direção: Francesca Comencini. Com Lucia Mascino, Thomas Trabacchi.


Por João Paulo Barreto

Por trás de uma fachada de comédia rasgada, com uma personagem de comportamento absurdo, Histórias de Amor que Não Pertencem a Este Mundo esconde uma reflexão bem apropriada relacionada ao envelhecer. Mas não ao envelhecer comum a todas as pessoas, algo que acaba por trazer mais momentos de dúvida do que de epifania, porém que se encerra com mais clareza e discernimento.

Ao focar no passar dos anos de uma personagem feminina e na carga de autocobrança e consequente desequilíbrio, a diretora e co-roteirista romana Francesca Comencini traz ao público, além da irritabilidade causada por sua protagonista, uma curiosa análise comportamental. Algo que, diante de um rótulo um tanto banal de estrutura romântica, consegue, ao menos, levar ao espectador que investiu nos 90 minutos de projeção alguma recompensa que lhe cause reflexão.

Tal recompensa reside na superação da personagem aparentemente bipolar vivida por Lucia Mascino. Repleta de inseguranças e ausência de uma personalidade firme, sua Claudia parece possuir o desespero como única resposta para qualquer indagação atrelada à convivência mútua que sua relação amorosa lhe trouxe. Neste sentido, o filme de Comencini gera no espectador uma irritação curiosa, justamente por conta de tamanha fugacidade comportamental de sua protagonista.

Claudia e Flavio em um começo inesperado, mas promissor
Calcado no absurdo de suas reações diante do término de um relacionamento e na insistência nonsense em recuperar a confiança do antigo amor, o filme começa brincando com as atitudes de Claudia.  Ela, mergulhada em um mundo mental particular, busca em suas idiossincrasias interpretações que lhe soem convenientes para as negativas do ex, bem como para seus silêncios, como, por exemplo, quando questiona a possibilidade de não possuir créditos no celular, uma vez que nenhuma das 28 mensagens enviadas (!!) tiveram retorno. Tal formato de comédia, no entanto, cansa após certo ponto justamente por impedir qualquer identificação do público com tamanhas excentricidades.

Por sorte, após um tempo, o filme começa a apostar em outra vertente, conseguindo, de algum modo, cativar a atenção para sua personagem principal. Tal vertente reside na ideia descrita inicialmente aqui: uma análise comportamental do envelhecer através de um viés feminino.

Independente do fato de que, mesmo escrito a partir do ponto de vista de uma mulher, a obra derrape em clichês machistas e típicos de fantasias masculinas, como quando Claudia cede a uma experimentação lésbica em busca de alcançar uma felicidade que não teve no comportamento hetero (como se fosse uma questão de escolha), o mesmo não vemos acontecer no lado masculino da trama. Aqui, o roteiro prefere ater-se à ideia de que, para o homem, a resposta para tais dúvidas reside em um novo, jovem, heterossexual e, de preferência, quase adolescente amor. Resumindo: cabe apenas à mulher o desafio de arriscar em algo totalmente novo e que, até aquele momento, não havia lhe passado pela mente.

"Após 28 mensagens, eu não recebi nenhuma resposta?"
O que fica na reflexão daquela história de amor falível entre Claudia e Flavio centra-se na ideia de que, em qualquer relacionamento, a calma é o tom principal para um equilíbrio. Impulsos são saudáveis e, acima de qualquer julgamento, humanos. Porém, cabe discernimento em qualquer entrega. Discernimento e respeito mútuo. Não só pelo outro, mas pelo que este acredita como prioritário em sua vida.

Porém, convenhamos, é um tanto difícil convencer-se de que uma professora universitária com tamanha bagagem intelectual seja tão frívola em suas atitudes. Principalmente quando pensamos na sua idade e experiências prévias de vida.

Enfim, se o filme prefere simbolizar a maturidade com o ato de se atirar um chapéu de uma ponte, que seja assim.