NOVA ONDA FRANCESA
Com 20 filmes inéditos e a exibição de clássico de
Costa-Gavras, Festival Varilux começa amanhã
Por João Paulo Barreto
A partir de amanhã, dia 07, e seguindo até 20 de junho, a
mais recente safra da produção cinematográfica francesa poderá ser conferida em
Salvador no Circuito SaladeArte e no Espaço Itaú - Glauber Rocha. Trata-se do
já tradicional Festival Varilux de Cinema
Francês, que, este ano, chega ao Brasil apresentando vinte longas metragens
inéditos, além da exibição do clássico absoluto, Z. Dirigido por Costa-Gavras, o pilar do cinema político está às
vésperas de completar cinquenta anos e, diante da fragilidade dos processos
democráticos que vivemos no momento, permanece mais atual e essencial do que
nunca em suas reflexões e capacidade de suscitar discussões.
Dentre os pontos altos da programação, o novo filme da
cineasta Anne Fontaine, Marvin, traz um dos rostos mais reconhecíveis da nova
geração de atores franceses, Finnegan Oldfield, que, aqui, vive um jovem ator a
rememorar os traumas de sua infância quando descobriu sua homossexualidade. O
filme é um delicado encontro do seu protagonista com um período de
reconhecimento e valorização da própria auto-estima. Sobre a escolha do papel e o seu retorno ao
Brasil após dois anos desde seu último filme lançado aqui (o drama Os Cowboys), Finnegan comenta que tinha
esperanças de poder dialogar com o público brasileiro. “Eu queria ver o que as
comunidades LGBT do Brasil teriam a dizer acerca de Marvin. É bom estar de volta.” A cineasta Anne Fontaine, que teve o
drama Agnus Dei exibido no festival
Varilux de 2016, exerceu grande influência em Finnegan, que reconhece ter sido
enriquecedor trabalhar com uma diretora de mente aberta como ela, uma vez que
se trata do ponto de vista feminino acerca da história de um jovem que se
descobre gay. A obra ainda conta com a
veterana Isabelle Huppert interpretando a si mesma e servindo como parceira de
palco do personagem título.
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Rosto marcante do cinema francês, Finnegan Oldfield estrela Marvin |
Outro destaque que merece a visita do espectador é O Poder de Diane, que apresenta a
história da protagonista do título e a mudança tanto física quanto psicológica
que sua vida sofre após esta topar servir de barriga de aluguel para um casal
de amigos gays. Uma vez que não deseja ser mãe, a personagem passa a encarar
aos poucos a importância e peso daquele ato. Também em visita a Salvador, o
diretor da obra, Fabien Gorgeart, comentou que buscou um equilíbrio entre a
comédia e o drama, tentando fugir dos comuns artifícios que muitos filmes com
gravidez como tema abordam. “Sendo eu um homem, não achei que seria pertinente
explorar os clichês de piadas em torno da gravidez. Por isso, o filme caminha
mais para um drama. Para a diferença entre engravidar e ser mãe”, explica.
Junto aos trabalhos premiados que estão presentes na mostra,
um que merece presença do espectador é Custódia,
primeiro longa metragem do diretor Xavier Legrand, e que trouxe para o
cineasta o prêmio de melhor diretor na edição do ano passado do Festival de
Veneza. Além deste, outro destaque é o novo filme de François Ozon, O Amante Duplo, também exibido em Cannes
esse ano, onde o realizador foi indicado à Palma de Ouro.
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Novo filme de François Ozon, O Amante Duplo é destaque |
MOSTRA EM REALIDADE VIRTUAL
Pelo segundo ano consecutivo, e primeira vez em Salvador, o Festival Varilux realizará uma mostra de
filmes dedicada à Realidade Virtual. Na Aliança Francesa (de 05 a 10 de junho)
e no Espaço Itaú - Glauber Rocha (entre 10 e 17 de junho) será apresentada uma
mostra especial e com entrada franca composta por 11 produções realizadas
inteiramente em VR (Virtual Reality, da
sigla original).
Com o uso de um equipamento especial, a imersão do
espectador dentro do universo de realidade virtual é plena. Trata-se de filmes
com uma média de 10 a 20 minutos de duração e em diversos gêneros, como ação,
ficção, animação e documentário. Dentre as produções, diversas passaram por
festivais especializados no tipo de tecnologia, como o curta Proxima,do diretor Mathieu Pradat, que
foi exibido na competição de realidade virtual da Bienal de Veneza, e Héritage, de Benjamin Nuel, exibido no
World VR Forum, na Suíça, e no Festival do Cinema Novo, em Montreal.
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O hilário A Raposa Má traz o gênero da animação para o evento |
ANIMAÇÃO PRESENTE
Para o público amante das animações, o vencedor do César 2018
(o Oscar do cinema francês) na categoria, A
Raposa Má, uma fábula na qual a raposa do título tenta ser um lobo para
aplacar sua constante fome, mas acaba sem querer adotando três pintinhos que
acreditam ser ela uma galinha, é garantia de risadas tanto para o público
infantil quanto adulto. O filme tem a co-direção de Benjamin Renner, que já
havia sido indicado ao Oscar pela brilhante animação de 2013, Ernest & Célestine. Com um estilo
incomum que foge da atual leva hiper-realista de desenhos digitais, A Raposa Má remete a um tipo de trabalho
no qual o traço flerta com o da aquarela, sendo que a oportunidade de ver os
diálogos no original em francês permite ao espectador brasileiro uma
aproximação ao tipo de humor especifico pensado para o filme.
Então, para os apreciadores do cinema feito na terra do lema
Igualdade, Liberdade e Fraternidade,
a maratona francesa começa já nesta quinta. Bon
voyage a tous!
*Texto publicado originalmente no Jornal A Tarde, dia 06/06/2018
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