segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Umbrella

 Lágrimas na Chuva

CINEMA Qualificado para uma inédita indicação brasileira ao Oscar na categoria Curta-Metragem de Animação, Umbrella, tenro filme de Helena Hilário e Mario Pence, está no YouTube

Por João Paulo Barreto

Após exibição em diversos festivais internacionais, como o Tribeca Film Festival, o Cinequest Film Festival e o Foyle Film Festival, todos eventos que dão aos selecionados a qualificação necessária para a corrida por uma indicação os Oscar, Umbrella, tocante curta brasileiro de animação dirigido por Helena Hilario e Mario Pence, está disponível on line no canal YouTube da produtora Stratostorm até o dia 21 de janeiro.

Idealizado a partir de um triste e real encontro da irmã de Helena com um garotinho órfão em um abrigo para crianças localizado em Palmas, interior do Paraná, em 2011, Umbrella ilustra, em pouco menos de oito minutos, a perda do afeto paterno, a lembrança desse mesmo amor e a esperança em poder contar com aquele  calor humano e familiar novamente. O símbolo desse afeto está em um simples objeto: um guarda-chuva amarelo, última lembrança do pequeno Joseph antes de ser deixado pelo pai no abrigo. "Minha irmã fazia um trabalho voluntário em um local que se tornou um lar para crianças", explica Helena. Ao observar que um dos garotinhos que viva no lugar não queria nenhum dos presentes levados por sua irmã, ela, então, se aproximou e lhe perguntou o que ele queria. "Minha irmã me disse que ele não queria brinquedo, mas pediu a ela por um guarda-chuva, porque, quando o pai o deixou lá, estava chovendo. E que ele falou que ia voltar, mas nunca mais voltou", relembra Helena, comentando a descrição emocionada que teve da irmã sobre o encontro. Para o garoto de, no máximo, seis anos, aquela era sua única lembrança em uma ainda curta vida. Para ele, ter um guarda-chuva significava a esperança de ter o pai de volta.

Helena Hilario e seu protagonista, Joseph


INSPIRAÇÃO MUSICAL

A partir desse ponto e do doloroso relato que teve da irmã, Helena Hilario visualizou uma história que, simples em sua concepção, denotaria uma carga emocional que um curta metragem sem diálogos, porém marcado por uma trilha sonora eficiente, seria capaz de buscar tanto na reflexão quanto na emoção de sua audiência. E o resultado foi alcançado. "Desde o início, queríamos fazer uma animação. Nunca foi uma opção fazer um filme em live action com atores reais. Eu acho que o tema de Umbrella tão delicado. E a mensagem que       a gente gostaria de passar ia ser muito mais difícil de transmitir com atores reais. Seria possível? Sim. Mas acho que seria muito mais difícil em um filme live action transmitir isso sem diálogos", explica Helena ao falar da opção de um curta calcado em expressões, gestos e música. "Queríamos que a música levasse esse sentimento que buscávamos transmitir. A animação e a música juntas conseguem guiar as emoções que queríamos transmitir. A opção foi essa desde o início. E foi muito bonito o processo de trazer o filme à vida desde o começo. Lá em 2015, quando a gente tinha um primeiro storyboard, eu tinha já a música de referência", relembra a co-diretora.

O processo de criação da trilha sonora passou por inspirações específicas dentro a experiência cinéfila da diretora. "Eu amo a trilha sonora do Hans Zimmer para o filme O Amor Não Tira Férias.Era uma referência. Nas conversas com a Vivian Aguiar, produtora da trilha do Umbrella, ela me disse que os temas que me emocionavam na trilha do Zimmer vinham de orquestra. Não era digital", explica Helena. Assim, a criação da trilha sonora composta por Gabriel Dib para o curta metragem precisou contar com uma orquestra que soube captar e transmitir de modo preciso a emoção trazida pela história daquele jovem em busca de uma lembrança do pai que o deixara.

Momento chave do curta, quando a empatia prevalece


INDICAÇÃO SONHADA

Após a seleção por diversos festivais e a qualificação para uma indicação ao Oscar, erimônia que acontece em abril, Helena pontua que a produção de Umbrella, em seu modo simples, porém eficiente e profissional de construção, busca esse símbolo para o trabalho como o coroar de uma trajetória de oito anos de criação. Mas não somente por isso. Na história de um órfão que é julgado por pegar para si um guarda-chuva que pertence a outra pessoa na esperança de trazer de volta alguém que ele ama, a mensagem primordial de não julgar apenas pelas aparências acaba por sobressair. E Umbrella conforta justamente por nos permitir refletir sobre isso. 

"Nós vamos divulgar nosso filme do modo mais singelo, no YouTube. Não temos nada 'fancy' por trás. Não temos nenhum streaming apoiando ou que vamos estar na grade (risos). Vamos no modo mais singelo, mesmo, esperando que as pessoas compartilhem e possam, de fato, assistir e levar essa mensagem de que não podemos julgar as pessoas sem conhecer o que os outros estão passando. Principalmente nesse ano tão difícil de pandemia. Nesse ano tão difícil que bagunçou a vida de todo mundo. Tem tanta gente que perdeu entes queridos. Tanta gente que está passando por dificuldades. Temos que ter empatia. Temos que nos colocar no lugar do outro", finaliza Helena.

Necessidade urgente.

*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 12/01/2020





Nenhum comentário:

Postar um comentário