quarta-feira, 30 de maio de 2018

Entrevista: Leandro Hassum - Não se Aceitam Devoluções

Em visita a Salvador para divulgar seu novo filme, NÃO SE ACEITAM DEVOLUÇÕES, Leandro Hassum conversou comigo sobre sua carreira, a composição de destaque do Teodoro, de Jorge Amado; experiências de dublar Steve Carell na ótima versão brasileira do Gru; atuar ao lado de Jerry Lewis, seu maior ídolo, bem como acerca da composição de Carlos Imperial, um dos seus próximos personagens.

Sobre o filme que estreia amanhã, bom, uma pena que um cara com tanta bagagem na comédia precise fazer algo tão pobre quanto essa refilmagem...

Crítica e entrevista no jornal A Tarde de hoje.

Hassum vive Juca Valente, um bon vivant supreendido com um filha inesperada
Dono de um estilo de comédia no qual sua presença física elaborava muito do seu humor para o grande público acostumado a vê-lo, por exemplo, em dupla com Marcius Melhem na quadro Os Caras de Pau, Leandro Hassum vive hoje um momento diferente do tipo de graça que busca levar à sua audiência. Apresentando ano passado sua versão para o recatado Teodoro, um dos maridos da Dona Flor, de Jorge Amado, o ator, com uma presença sutil, foi o grande destaque do filme de 2017. Mesmo não sendo arguido acerca de sua perda de peso e adaptação a novos papéis, Hassum, em visita a Salvador para pré estreia de seu novo trabalho, Não se Aceitam Devoluções, fez questão de falar a respeito. “Essa pergunta sobre meu peso sempre surge. Ao contrário do que muita gente pensa, eu ter emagrecido não me fez perder papéis. Fez com que eu ganhasse. O Teodoro é um exemplo disso. Ter essa nova fase e junto com a maturidade, me permitiu escolher papéis onde eu possa me divertir. Papeis como o do Juca Valente, neste novo trabalho”, explica.

DUBLAGEM E INFLUÊNCIAS

Responsável pela marcante e hilária dublagem nacional do Gru, o malvado favorito chefe dos Minions, Hassum traz boa parte de sua versatilidade para este ofício e reconhece que foi um sonho poder dublar um dos seus ídolos, o ator Steve Carell. “Eu lembro que procurei dar ao Gru uma assinatura minha. E ver um gênio como Steve Carell fazer aquele sotaque russo foi um caminho. Eu resolvi colocar um sotaque também em minha versão. Acabou que a Universal Studios não aceitou, mas eu pedi para eles compararem. No final, eu fiquei como o único dublador do Gru, excetuando o original, que colocou a voz com sotaque”, relembra. 

Ainda no campo das influências, Hassum comenta a honra de ter atuado ao lado do mestre Jerry Lewis, que teve uma pequena participação em Até que a Sorte nos Separe 2. “O Jerry sempre foi um ídolo. Foi um sonho realizado poder ter atuado ao lado dele. E quando me disseram que, na figura do Teodoro, eu lembrei um pouco o Jerry Lewis, foi um honra imensa ouvir isso”, comenta o ator.

Ao lado da Jerry Lewis, no filme Até que a Sorte nos Separe 2

CLOWNS DRAMÁTICOS

Na comédia que lança agora, Hassum vive um dublê de cenas de ação que busca criar sozinho a filha, papel que já passou pelos atores Eugenio Derbez, na versão original mexicana, e Omar Sy, na francesa.  Para uma obra que possui um flerte com o drama, torna-se um desafio para o comediante se equilibrar nas duas vertentes.  “As três versões que trazem clowns como protagonistas. Para mim, são caras que possuem esse universo de comédia expressiva muito forte”, salienta.

Em um dos seus próximos lançamentos, comediante terá a chance de mostrar essa mais uma vez essa mescla entre o drama e a comédia ao viver o polêmico produtor artístico Carlos Imperial, na cinebiografia do cantor Wilson Simonal. “As histórias do Carlos Imperial são diversas. Não dá pra falar de MPB sem citar o nome dele. Muito polêmico, mesmo. Foi um papel gostoso de fazer. Conversei muito com o Tony Tornado, que foi seu secretário, e me ajudou muito na construção do personagem”, afirma.





CRÍTICA

Nem Hassum salva roteiro pobre dessa versão de sucesso mexicano

Segunda refilmagem em cinco anos do filme mexicano Não Aceitamos Devoluções, de 2013, (a primeira é a versão francesa estrelada por Omar Sy, Uma Família de Dois, longa de 2016), este Não se Aceitam Devoluções tem na presença cômica de Leandro Hassum sua principal aposta. O comediante até se esforça, mas diante de um roteiro tão pobre, no qual piadas como “o filme Crepúsculo demorou tanto a chegar ao Brasil que quando veio já era Amanhecer” ou “Filha, como é ‘entre’ em inglês?” “humm, between?” “Ah, sim, por favor, between, fica à vontade”, a impressão que fica é a de uma preguiça tamanha para com a escrita, bem como um total menosprezo pela inteligência e senso de humor do seu público alvo.

A desculpa voltada para a popularidade do formato não vale tanto para justificar tamanha tragédia fílmica, uma vez que, em tempos onde o humor na internet revoluciona a ferramenta da comédia através de grupos imensamente populares como o Porta dos Fundos, o mínimo que se pode esperar de um longa no qual um dos principais nomes do gênero no Brasil é protagonista era um pouco mais de apuro no seu texto, que ainda conta com momentos envolvendo sons escatológicos como se barulhos flatulentos ainda possam gerar graça em qualquer faixa etária de espectador.

Adaptação à paternidade: Juca e sua filha

Diante disso, resta a Não se Aceitam Devoluções buscar suporte na relação dramática de seu filme, que aborda a relação do bon vivant Juca Valente, que é surpreendido com uma criança supostamente sua entregue em mãos por uma antiga namorada, que desaparece em seguida. Em busca da mãe, o homem vai até Los Angeles seguindo uma pista do paradeiro da mesma. Uma ideia conveniente seria trazer a comédia física de Hassum para a adaptação de seu personagem aos desafios de cuidar de um bebê. Porém, a elipse que já mostra a criança em sua versão mais velha encerra essa possibilidade de melhoria do resultado. Sendo esta uma refilmagem, porque não adaptar um pouco a história em benefício do tipo de humor que seu protagonista está habituado a fazer?

Apesar de trazer bons momentos, como quando um sósia do Ozzy Osbourne é inserido de forma aleatória na trama, o que não deixa de gerar algumas risadas por conta da exatidão como o cantor é imitado, fica a pergunta se vai ser necessária mais uma refilmagem pobre para uma história que, convenhamos, não possui tantos atrativos assim. Principalmente quando o espectador que já conhece as versões anteriores resolve compará-las e percebe o modo over e de apelo para o melodrama de novela global inserido ao momento em que o desfecho trágico aqui nos é apresentado. Momento em que um facepalm se torna inevitável...

*Matéria publicada originalmente em A Tarde, dia 30/05/2018


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