Há uma sensação de déjà
vu nesta sequência de Deadpool,
sucesso absoluto de 2016 por conseguir unir em um mesmo blockbuster tudo aquilo
que os fãs adolescentes mais deliram ao observar em uma produção que, de cara, já
não se leva a sério: explosões, piadas de cunho metalinguístico, cenas de sexo
e, no caso da Marvel, as extensões para a tela das brincadeiras entre a
rivalidade do mercenário com Wolverine e aquelas que acabam com a concorrente
DC Comics.
Tal déjà vu, infelizmente,
fica mais direcionado para uma sensação de já termos ouvido aquela piada antes
e, apesar de sorrir, a impressão de anedota velha acaba incomodando um pouco. No
entanto, a continuação do longa anterior diverte, não me entenda mal. Mas o incômodo
por notar uma franquia que se baseia em um único artifício temático não deixa
de causar certa estranheza. Desde a primeira cena, quando vemos o anti-herói
exibir uma estatueta que remete ao final de Logan,
filme que encerrou a fase Hugh Jackman como o mutante de garras, percebemos
que as próximas duas horas vão tentar ao máximo ordenhar aquela originalidade
de dois anos atrás visando conseguir algum conteúdo que ultrapasse os tiros e
mortes bem engendradas. Por enquanto, tudo bem. Mas um certo desgaste já
começa, sem dúvidas, a se fazer notar. Dito isso, vamos lá.
GALHOFA HABITUAL
Livre das amarras de um filme que precisa contar ao
espectador a origem de seu protagonista, Deadpool
2 se concentra na galhofa habitual do mascarado vivido por um cada vez mais
à vontade Ryan Reynolds. Começando com uma trama até instigante, quando vemos o
atirador em trabalhos acontecendo em diversos países, logo se apresenta a real
ideia por trás daquele prólogo. Não somente uma piada hilária com o roteiro de Batman v. Superman, mas toda uma nova
motivação para personagem se tornar ainda mais suicida. O que, diga-se de
passagem, não é pouco.
Blind Al e as hilárias reconstruções físicas de Wade |
Após isso, o filme se torna a desculpa habitual para as
diversas referências ao universo Marvel no cinema que já vimos na primeira
aventura. Aqui, porém, tais inserções conseguem se superar em alguns aspectos,
como quando a ausência de outros membros dos X-Men é explicada de modo
surpreendentemente criativo e engraçado, ou a capacidade de regeneração do
mutante deformado é trazida ao foco de forma ainda mais hilária do que com o
crescimento de sua mão decepada no longa anterior. Vamos apenas dizer que,
aqui, são outros os membros a renascer e a referência à cruzada de pernas de
Sharon Stone não deixa de acontecer. Ainda no campo das referências, o filme
vai além ao trazer uma das melhores ao cult Digam
o Que Quiserem, clássico da sessão da tarde com John Cusack. Levantar um
rádio sobre a cabeça para pedir desculpas ganha outro conceito com Deadpool...
NOVOS PERSONAGENS
No aspecto novos personagens, a equipe dos quadrinhos X-Force surge de modo espalhafatoso e
tragicamente cômico, com uma presença piscou-perdeu de Brad Pitt, além das
entradas breves de Terry Crews e Bill Skarsgård. Mas é na presença feminina de Zazie Beetz, da série Atlanta, na pele da mutante com o poder de ter sorte (?!), Domino, que está a melhor inserção do roteiro. Sem contar que ter uma mulher na equipe, atuando diretamente ao lado do anti-herói Deadpool, é a melhor desculpa para as diversas falas (bem situadas, friso) acerca de igualdade de gênero, a começar pela escolha do nome da equipe, que surge quando ele diz que X-Men é um nome muito machista.
Terry Crews e uma participação relâmpago de Brad Pitt surpreendem |
No final, a percepção de um roteiro inferior ao do primeiro
filme fica um tanto evidente. Por exemplo, faz falta um melhor desenvolvimento
para o antagonista Cable (Josh Brolin, em mais um papel Marvel), além de apenas
inseri-lo como um viajante no tempo em busca de evitar o assassinato de sua
família pelo atual garoto protegido por Deadpool (em uma premissa sem muito
conteúdo, vamos ser francos). Mas, já é esperado um filme solo para explicar o
personagem, do mesmo modo um outro com a equipe X-Force.
Como bem disse o próprio mascarado tagarela em certo momento ao pensar na reunião de forças, “precisamos fazer essa franquia valer pelos próximos dez anos”. Bem, dando resultado, está. Resta saber até quando o mesmo truque irá funcionar.
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