sábado, 19 de maio de 2018

Deadpool 2

(EUA, 2018) Direção: David Leitch. Com Ryan Reynolds, Josh Brolin, Morena Baccarin, Zazzie Beetz.


Por João Paulo Barreto


Há uma sensação de déjà vu nesta sequência de Deadpool, sucesso absoluto de 2016 por conseguir unir em um mesmo blockbuster tudo aquilo que os fãs adolescentes mais deliram ao observar em uma produção que, de cara, já não se leva a sério: explosões, piadas de cunho metalinguístico, cenas de sexo e, no caso da Marvel, as extensões para a tela das brincadeiras entre a rivalidade do mercenário com Wolverine e aquelas que acabam com a concorrente DC Comics.

Tal déjà vu, infelizmente, fica mais direcionado para uma sensação de já termos ouvido aquela piada antes e, apesar de sorrir, a impressão de anedota velha acaba incomodando um pouco. No entanto, a continuação do longa anterior diverte, não me entenda mal. Mas o incômodo por notar uma franquia que se baseia em um único artifício temático não deixa de causar certa estranheza. Desde a primeira cena, quando vemos o anti-herói exibir uma estatueta que remete ao final de Logan, filme que encerrou a fase Hugh Jackman como o mutante de garras, percebemos que as próximas duas horas vão tentar ao máximo ordenhar aquela originalidade de dois anos atrás visando conseguir algum conteúdo que ultrapasse os tiros e mortes bem engendradas. Por enquanto, tudo bem. Mas um certo desgaste já começa, sem dúvidas, a se fazer notar. Dito isso, vamos lá.

GALHOFA HABITUAL

Livre das amarras de um filme que precisa contar ao espectador a origem de seu protagonista, Deadpool 2 se concentra na galhofa habitual do mascarado vivido por um cada vez mais à vontade Ryan Reynolds. Começando com uma trama até instigante, quando vemos o atirador em trabalhos acontecendo em diversos países, logo se apresenta a real ideia por trás daquele prólogo. Não somente uma piada hilária com o roteiro de Batman v. Superman, mas toda uma nova motivação para personagem se tornar ainda mais suicida. O que, diga-se de passagem, não é pouco.

Blind Al e as hilárias reconstruções físicas de Wade
Após isso, o filme se torna a desculpa habitual para as diversas referências ao universo Marvel no cinema que já vimos na primeira aventura. Aqui, porém, tais inserções conseguem se superar em alguns aspectos, como quando a ausência de outros membros dos X-Men é explicada de modo surpreendentemente criativo e engraçado, ou a capacidade de regeneração do mutante deformado é trazida ao foco de forma ainda mais hilária do que com o crescimento de sua mão decepada no longa anterior. Vamos apenas dizer que, aqui, são outros os membros a renascer e a referência à cruzada de pernas de Sharon Stone não deixa de acontecer. Ainda no campo das referências, o filme vai além ao trazer uma das melhores ao cult Digam o Que Quiserem, clássico da sessão da tarde com John Cusack. Levantar um rádio sobre a cabeça para pedir desculpas ganha outro conceito com Deadpool...

NOVOS PERSONAGENS  

No aspecto novos personagens, a equipe dos quadrinhos X-Force surge de modo espalhafatoso e tragicamente cômico, com uma presença piscou-perdeu de Brad Pitt, além das entradas breves de Terry Crews e Bill Skarsgård. Mas é na presença feminina de Zazie Beetz, da série Atlanta, na pele da mutante com o poder de ter sorte (?!), Domino, que está a melhor inserção do roteiro. Sem contar que ter uma mulher na equipe, atuando diretamente ao lado do anti-herói Deadpool, é a melhor desculpa para as diversas falas (bem situadas, friso) acerca de igualdade de gênero, a começar pela escolha do nome da equipe, que surge quando ele diz que X-Men é um nome muito machista.
Terry Crews e uma participação relâmpago de Brad Pitt surpreendem
No final, a percepção de um roteiro inferior ao do primeiro filme fica um tanto evidente. Por exemplo, faz falta um melhor desenvolvimento para o antagonista Cable (Josh Brolin, em mais um papel Marvel), além de apenas inseri-lo como um viajante no tempo em busca de evitar o assassinato de sua família pelo atual garoto protegido por Deadpool (em uma premissa sem muito conteúdo, vamos ser francos). Mas, já é esperado um filme solo para explicar o personagem, do mesmo modo um outro com a equipe X-Force.

Como bem disse o próprio mascarado tagarela em certo momento ao pensar na reunião de forças, “precisamos fazer essa franquia valer pelos próximos dez anos”. Bem, dando resultado, está. Resta saber até quando o mesmo truque irá funcionar.

*Crítica originalmente publicada no Jornal A Tarde, edição de 20/05/2018


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