Por João Paulo Barreto
Original ao menos em sua premissa ao abordar uma diversão
incomum entre adultos de meia idade que preferem passar suas noites envoltos a
jogos de tabuleiro, trivia, adivinhações e desenhos, ao invés de
entretenimentos mais de acordo com sua faixa etária e imposições do meio social
(leia-se: a busca por álcool e sexo), A
Noite do Jogo remete muito ao jovem clássico Vidas em Jogo, comandado há vinte anos por David Fincher e
protagonizado por Michael Douglas, mas sem, aqui, o fator surpresa e tensão que
embalava o filme de 1998.
A diferença no recente trabalho dirigido por John Francis
Daley e Jonathan Goldstein (dois dos escritores por trás do novo Homem Aranha) reside
no tom de comédia calcada em diálogos rápidos, além de pistas e recompensas que
divertem o espectador ao perceber as piadas visuais que o roteiro apresenta (as
gags envolvendo indestrutíveis mesas
de centro funcionam bem, por exemplo). Ainda na relação com a obra de Fincher
citada anteriormente, é a suspeita do publico em tentar descobrir se aquelas
situações são reais ou parte de um jogo arquitetado que, até certo ponto, leva
a trama para frente. No entanto, após um período, percebemos que A Noite do Jogo não necessariamente se
aterá a essa premissa para contar sua história, que envolve o grupo de pessoas
citado acima em busca de desvendar as pistas deixadas por Brooks (Kyle
Chandler, dando uma pausa nos papéis densos) para seu irmão Max (Jason Bateman,
exagerando nas caras e bocas) em um suposto jogo que envolve sequestro, tiros e
perseguições.
O começo da percepção: algo não está certo nessa brincadeira |
ESTRUTURA DE ESQUETES
Após apresentada essa narrativa, a comédia se torna
justamente o que ela se propõe: uma série de quadros quase de esquetes nos
quais cada dupla possui seu tempo individual em cena para fazer o espectador
rir. Às vezes até conseguindo, como nas discussões entre Kevin e Michelle,
casal junto desde a adolescência, mas que descobrem certa infidelidade em sua
trajetória. A tentativa de Kevin em desvendar com qual celebridade sua esposa
dormiu durante um tempo brigados causa risos, principalmente quando a
possibilidade de ter sido Denzel Washington é levantada. Em outras vezes, tal
química não funciona tanto, como na insistência em colocar o personagem de
Billy Magnussen, Ryan, em uma constante demonstração de estupidez na suposta
inteligência superior dos britânicos.
Somado a isso, o filme erra na longa duração de algumas de
suas sequências, como quando é inserida uma cena totalmente inútil na qual
Annie (Rachel McAdams, voltando ao timing cômico de meados dos anos 2000) tenta
retirar uma bala alojada no braço de Max, ou em todo o desfecho da trama em um
aeroporto. McAdams, entretanto, é
responsável por um dos melhores momentos do trabalho, quando, em um bar, repete
a fala inicial de Pulp Fiction, deixando
o espectador perceber a sagaz referência. Ledo engano, infelizmente, uma vez
que logo em seguida o personagem de Bateman precisa gritar para o público de
onde vem aquela fala, em clara insegurança do roteiro quanto à sua capacidade
de se fazer entender. Em um filme com adivinhações como um dos temas, precisar
explicar uma citação de forma tão óbvia é subestimar demais a inteligência de
quem assiste. Curiosamente, o mesmo se deu no filme do Homem Aranha escrito
pelos diretores, quando uma referência a Curtindo
a Vida Adoidado é feita (e explicada com imagens).
Jesse Plemons, o ladrão de cenas |
CASTING ACERTADO
A Noite do Jogo tem,
porém, cartas na manga (sem trocadilhos) que surpreendem. Uma delas é a opção
dos diretores em utilizar maquetes que, inicialmente, remetem aos jogos de
tabuleiro para, só então, situá-las como cenários reais. Visualmente, uma
excelente opção temática para o longa.
Outro acerto é a atuação de Jesse Plemons como um policial solitário e de
comportamento passivo-agressivo. Os momentos em que ele aparece em cena se
destacam. Com sua voz calma e cãozinho poodle à tira colo, a construção de seu
Gary é o que de mais hilário a comédia tem a oferecer. Inclusive, observar a
evolução desse jovem ator em momentos tão marcantes como as séries Breaking Bad e Fargo, ou o violento Aliança
do Crime, além dos recentes trabalhos com Spielberg e o próximo filme de
Martin Scorsese denotam uma cuidadosa escolha de carreira, aqui, salientada por
um timing cômico que salva A Noite do
Jogo.
*Crítica originalmente publicada em A Tarde, dia 13/05/2018
O filme me surpreendeu. Eu amei esse filme que a atriz fez. É um dos melhores filmes de ação que eu já vi, tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. O Game Night filme um dos melhores que eu vi faz pouco. De verdade, adorei que tenham feito este filme. Mais que filme de ação, é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. Se ainda não viram, deveriam e se já viram, revivam o que sentiram. Se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo.
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