quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Tragam a Maconha

(Traigan la Hierba) Direção: Denny Brechner. Com Denny Brechner, Talma Friedler, Pepe Mujica.


42ª MOSTRA SP – Falso documentário Tragam a Maconha surpreende por inventividade e por ter Pepe Mujica no elenco

João Paulo Barreto

Dentre os filmes conhecidos com mock documentaries, diversos se destacam. O mais notório de todos, This is Spinal Tap, filme de 1984 dirigido por Rob Reiner, até hoje é um marco no começo desse estilo de comédia. Já nos anos 2000, Sacha Baron Cohen, com Borat e Bruno, ampliou esse leque de possibilidades, criando um embate (nem sempre saudável, friso) entre os participantes dos seus filmes. Com Tragam a Maconha, o diretor e roteirista uruguaio Denny Brechner alcança resultados semelhantes aos das pérolas citadas. Mas, em seu ritmo, proposta e modo de abordagem, arrisco dizer que ele se sai ainda melhor que seus predecessores nesse tipo de comédia.

Como o nome já diz, o filme aborda uma missão de levar cannabis ao Uruguai, uma vez que, após a legalização, o governo não conseguiu suprir o mercado com uma produção feita pelo exército. Donos de uma farmácia que almeja faturar vendendo a erva, Alfredo (vivido pelo próprio diretor) e sua mãe, Talma, oferecem brownies com maconha supostamente medicinal, mas que ainda é comprada ilegalmente. Após o sucesso inicial, são descobertos e o rapaz, preso.

A hilária participação de Pepe Mujica

A ideia de importar maconha de Denver, estado americano onde o consumo é legal, o leva a se unir em uma missão de trazer a droga dos Estados Unidos para o Uruguai, contando com a participação do presidente José “Pepe” Mujica (!!) que, no plano, usará sua visita oficial a Obama para fornecer o transporte de volta à América do Sul. Se apenas a participação do ex-presidente uruguaio já não fosse o maior símbolo da sagacidade dessa obra, o desenvolvimento de sua história com a ida de mãe e filho aos Estados Unidos já seria motivo suficiente para o espectador se deliciar.

Pegadinhas e improvisações

Na ida aos EUA, o rapaz, que se diz presidente da Câmara Uruguaia da Maconha Legal, se encontra com representantes de organizações reais em Denver, tudo se valendo do fato de virem do primeiro país do mundo a legalizar a produção. As situações surreais são precisas, principalmente ao se observar as interações e o modo como os americanos se comportam diante deles e do fascínio que causam por serem do Uruguai. Do mesmo modo, os encontros oficiais com diversos burocratas, como o embaixador uruguaio, rendem pérolas perfeitas.

Aliás, neste aspecto, Mujica demonstra sua sagacidade não somente como político, mas, também, como alguém capaz de rir das instituições políticas que soube manejar tão bem em seu mandato (“É preciso saber rir disso. Políticos não gostam que façam graças deles, mas rir é importante. Porém, temos que trabalhar, também”, explica “el jefe”), escreve um capítulo em sua biografia que o coloca em um lugar ainda mais de destaque como estadista em prol dos direitos humanos. Sua participação no papel de si mesmo é o grande destaque do filme, gerando a melhores piadas, como quando algumas longas pausas na conversa com Obama são justificadas como parte do plano na retirada da maconha do solo americano.

Trata-se de uma comédia que tem na ausência de pretensão sua real genialidade. Das jóias descobertas dentre tantos filmes da Mostra SP.

Nenhum comentário:

Postar um comentário