segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Livro Jimmy Page no Brasil

Zeppelin Baiano

LIVRO Jimmy Page no Brasil, de Leandro Souto Maior, desmistifica, através de entrevistas com famosos e anônimos, a passagem do guitarrista do Led Zeppelin por Lençóis, Salvador e pelo sudeste

Por João Paulo Barreto

A fama é sedutora e hipnótica. Muitas vezes, nociva. Requer equilíbrio administrá-la. Há quem consegue lidar com ela por décadas. Há quem ceda aos seus encantos e riscos de sufocamento. E há aquelas pessoas que, após anos dentro daquela espiral, apenas almejam por um respiro. Em um exercício de imaginação, é curioso pensar em Jimmy Page passando por essa sensação de busca por esse respiro quando alcançou a marca dos 50 anos de idade. Crise de meia idade? Existencial? A comichão de um grande amor que lhe encantava? As possibilidade são muitas. As décadas de 1960 e 1970, quando fez parte de bandas pilares do Rock como Yardbirds e Led Zeppelin, foram intensas para Page. Junto a Eric Clapton e Jeff Beck na primeira; e a Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham na segunda, o guitarrista ajudou a construir fundações de um estilo que moldaria a Cultura no século XX. Imaginá-lo, então, após recém completados 50 anos de idade a buscar, em 1995, por esse respiro em um local remoto como a cidade baiana de Lençóis, na Chapada de Diamantina, é algo muito compreensível.

O guitarrista inglês e a musa baiana, a cantora Margareth Menezes

Os dias de Jimmy Page no Brasil, há 25 anos, são o tema da pesquisa do jornalista e músico, Leandro Souto Maior, que lança, pela editora Garota FM Books, o livro Jimmy Page no Brasil, extensa pesquisa que refaz os passos do guitarrista britânico não somente em Lençóis, mas em Salvador, Rio e São Paulo durante aqueles dias da pré-internet e sem a fugacidade e imediatismos baratos das redes sociais. "Há mais de vinte livros escritos por jornalistas e pesquisadores gringos sobre Led Zeppelin e sobre Jimmy Page. Em nenhum deles há nada sobre essa fase. Chega nessa época, tem um pulo. Um hiato que parece que não aconteceu", explica Leandro acerca da motivação em registrar essa história em um livro bilíngue. "Eu quero que os fãs do mundo inteiro saibam o que aconteceu. Foi um período longo que ele passou aqui e que viveu coisas que não viveu, por exemplo, nos Estados Unidos ou em algum outro país", pontua o autor.

Jimmy Page e Paulo Ricardo em 1996

FONTES FAMOSAS E ANÔNIMAS

O autor em foto de Maira Coelho
Dentre os diversos entrevistados, nomes como os de Margareth Menezes, Charles Gavin, Roberto Frejat, Paulo Ricardo, Daniela Mercury, Pepeu Gomes, e diversas outras pessoas que, famosas ou não, estiveram com o mestre da guitarra naquele seu período nessa terra brasilis. "Em Lençóis, tinha muita gente que sequer sabia quem era Jimmy Page. Só veio a saber depois, quando a história começou a circular. Souberam que ele era alguém muito famoso. Mas, em um primeiro momento, quem o encontrou por lá, era o cara do açougue ou o padeiro, sabe? ", conta Leandro. "Jimmy Lama", apelido irônico como ficou conhecido no circulo de músicos e admiradores que frequentavam a cidade à época, aproveitou seu anonimato até quando pôde. " Quando o Jimmy foi parar em Lençóis, tem histórias curiosas. Uma delas diz que ele adorava acordar cedinho, nas primeiras horas do dia, e ir para a padaria. Lá, ele comprava o pão da primeira fornada que saia, passava manteiga, e sentava ali mesmo, na calçada em frente à padaria, para comer. E isso era todo dia! Foram vários relatos sobre isso que eu tive. Várias pessoas testemunharam isso", relata Leandro. "A galera o chamava de 'Jimmy Lama' porque ele andava todo largado, de chinelo, de bermuda rasgada, totalmente oposto da visão de um rock star que a gente costuma ver. E até das próprias fotos famosas que a gente vê do Jimmy. Ele sempre muito bem vestido, um verdadeiro lorde inglês", explica.


HUMILDADE

Em Lençóis, Jimmy Page financiou instituições de amparo a jovens em situação de risco, bem como, no Rio de Janeiro, ajudou a fundar a Casa Jimmy, local voltado para abrigar jovens sem lar. Na capital fluminense, inclusive, Page recebeu o título de Cidadão Honorário. Sua passagem pelo Brasil destoa da imagem do astro do rock, do glamour, da soberba tão característica em diversas histórias envolvendo as bandas setentistas em suas lendárias "bad trips".

"
Em todos os relatos, não teve um que não atestasse essa impressão dele como um cara aberto, acessível. Que gostava de conversar, especialmente se o assunto era música. Um cara que se deslumbrava com coisas novas. Por exemplo, há relatos de quando ele viu um berimbau pela primeira vez. Dá pra imaginar um cara que tirou cada efeito mais louco que o outro da guitarra, chegar e dar de cara com um instrumento não eletrificado, de uma corda só, e que faz aquele som hipnótico?", exemplifica Leandro ao citar o interesse de Page sobre o berimbau. "Há entrevistas do Jimmy sobre a época dele na Bahia em que ele fala do seu fascínio pela capoeira. E não só com a dança ou com o visual, mas também com a história. Às vezes eu acho que ele sabe mais sobre a capoeira do que muito brasileiro. Então, acho que ele é um cara muito interessado e humilde, também. Todos os relatos de todo mundo que esteve com o Jimmy usam essa palavra: humilde. Ele não tinha soberba. Ele não se colocava acima, apesar de toda a história, toda influência, todo legado para  a cultura mundial que ele já tinha deixado ali naquela altura da vida", finaliza Leandro.

Oooh, it makes me wonder... 

Jimmy Page no Brasil
280 páginas
                Financiamento Coletivo:
catarse.me/jimmypagenobrasil

*Matéria originalmente publicada no Jornal A Tarde, dia 24/11/2020




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