quarta-feira, 22 de abril de 2015

Um 2015 cinematograficamente baiano

Um breve panorama do vem por aí na produção baiana para cinema e TV, abrangendo curtas e longas metragens de ficção, documentários e séries para a telinha.



Por João Paulo Barreto

Homenageado com uma Mostra especial na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, dedicada aos seus cinquenta anos de carreira, o ator Paulo José disparou duras críticas ao atual cinema feito no Brasil. Especialmente por conta do domínio de uma produção que parece reciclar o que se vê nas telenovelas, Paulo José, em matéria publicada no jornal O Globo, apresentou uma pertinente visão sobre o que os diretores têm feito na mágica de “transformar roteiros incipientes em filmes medíocres”. Indo mais fundo na sua crítica ao atual cenário praticamente dominado por produções vazias da Globo Filmes, o ator entrega a fórmula de sucesso que prega o macete de utilizar “atores e atrizes de TV fazendo caretas nas cenas de riso e vertendo lágrimas nas de emoção”. No entanto, o veterano salienta uma luz ao afirmar que, sim, ainda há quem faça cinema por uma necessidade de expressão, “mas são poucos”, frisa.

Esse trecho final de sua declaração poderia definir bem o que vem sendo realizado no cinema baiano. A necessidade de expressão é o que rege muito do que é feito aqui atualmente. Não temos uma Globo Filmes bancando execução e distribuição por trás de projetos (e, pensando bem, é provável que nem queiramos correr o risco que esse pacto poderia acarretar) e, quando não contamos com editais que têm demonstrado exemplos de atrasos de pagamento, acaba-se por fazer cinema com o próprio bolso. É o caso de cineastas como Maurício Amorim, que, em 2014, trouxe seu segundo longa metragem (O Seminarista) à vida sem nenhum suporte de edital.

Após a notável presença de Depois da Chuva, longa de estreia dos cineastas Cláudio Marques e Marília Hughes, em diversos festivais mundo afora, além dos prêmios de melhor roteiro, ator e trilha sonora em Brasília, o longa deixou uma boa ansiedade para o que mais o nosso cinema terá a apresentar daqui para frente. E tem muita coisa boa despontando.

O cineasta Daniel Lisboa ao lado de peça de divulgação do filme
O exemplo citado no quesito atraso de repasse de verbas de edital está em Tropikaos, longa de Daniel Lisboa (O Fim do Homem Cordial, Sarcófago) que sofreu com o não pagamento de uma das parcelas do edital, mas que, regularizado esse problema, pôde dar continuidade ao projeto que, atualmente, se encontra na fase de pós-produção. A história aborda o calor de Salvador e sua “ultraviolência solar” assim como seus problemas sociais e desigualdades a partir do olhar de um poeta viciado em crack. Tropikaos, a julgar pela filmografia de seu diretor, promete ser uma experiência inquietante.

Outro cineasta baiano com filme praticamente pronto é Henrique Dantas. Diretor dos documentários Os Filhos de João - Admirável Mundo Novo Baiano e Sinais de Cinza – A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade, Dantas, dessa vez, retorna seu olhar para o período da ditadura militar, tema central do doc sobre o cineasta Olney São Paulo, uma das vítimas do período. Em seu novo trabalho, A Noite Escura da Alma, o diretor traz um recorte do período aqui na Bahia. Sem trabalhar com imagens de arquivo, o longa conta com depoimentos de nomes como Juca Ferreira, Lúcia Murat, Emiliano José, dentre outros. Ao todo, foram trinta entrevistados ouvidos no Forte do Barbalho, local notório por ter sido utilizado nas torturas realizadas pelos militares. As gravações ocorreram sempre durante a noite, o que explica o título do filme, relacionando-o, também, com a densidade de seu tema. As falas são alternadas com performances de atores, algo que ilustra o peso dos depoimentos. O filme teve uma exibição teste no começo do mês para uma platéia paulistana e, agora, encontra-se em fase de montagem. Segundo Henrique, a intenção é exibi-lo em festivais durante 2015 e batalhar por um espaço no circuito comercial em 2016.

A Noite Escura da Alma, documentário de Henrique Dantas
Apesar de nascido na França, Bernard Attal já pode ser chamado de baiano. Radicado no Brasil desde 2005, Attal teve seu primeiro longa, A Coleção Invisível, premiado em diversos países do mundo. Estrelado por Vladmir Brichita e Walmor Chagas, sendo este o último trabalho do veterano ator, que faleceu em 2013, a obra foi rodada em Salvador e no interior da Bahia, e traz a tocante história de um homem em busca da superação do trauma das mortes de amigos enquanto tenta decifrar a relação de um colecionador com seus quadros raros. Attal foi um dos contemplados no Edital de Fomento à Produção Audiovisual Baiana de 2014. Seu próximo longa, A Finada Mãe da Madame, será um telefilme inspirado na peça homônima de Georges Feydeau e narra a história de um bancário boêmio, na Bahia dos anos setenta, que enfrenta uma crise familiar com inesperadas conclusões. Atualmente, o projeto está em fase de pré-produção.

Bernard Attal em entrevista ao BahiaDoc
Contemplados no mesmo edital, os cineastas Cláudio Marques e Marília Hughes já iniciaram as gravações do filme A Cidade do Futuro, longa rodado na cidade de Serra do Ramalho e que, segundo os próprios realizadores, “é um documentário de encenação-construída com fortes elementos dramáticos, onde os personagens são os atores de suas próprias trajetórias”. Após a primeira experiência na construção de um longa-metragem com o êxito de Depois da Chuva, a dupla, que já possui na carreira diversos curtas, assume o desafio de criar mais um longa a partir de um tema de contexto atual no qual quatro jovens enfrentam as dificuldades de assumir sua homossexualidade na cidade localizada no sertão baiano. Apesar de ser uma produção inicialmente voltada para TV, o co-diretor Cláudio Marques planeja uma versão também para as salas de cinema.

Na primeira foto oficial, vemos Serra do Ramalho, local do segundo filme
Vencedores da edição do ano passado do Panorama na categoria Filme Baiano com o curta Menino da Gamboa, a dupla Rodrigo Luna e Pedro Perazzo já tem o próximo trabalho agendado para o segundo semestre desse ano. O Enterro de Neide será um longa metragem ambientado na Chapada Diamantina que conta a história de um jovem de classe média que decide realizar o desejo da empregada doméstica de sua casa que pediu para ser enterrada no mesmo vilarejo onde nasceu. O filme abordará a viagem do jovem que leva o corpo da mulher que praticamente o criou para o local remoto onde ela passou os primeiros anos de sua vida.

Luna e Perazzo  recebem o prêmio de Melhor Curta no Panorama
SÉRIES DE TV

Além de longas, a produção audiovisual baiana também tem em 2015 uma excelente representatividade com séries de TV. Através do Edital de Fomento à Produção Audiovisual Baiana 2014, séries de episódios vão ilustrar essa diversidade de produções. E nomes de notória qualidade vão estar por trás desta empreitada. Um deles é o de Sofia Federico, diretora de elogiados curtas como o Cega Sega (2003), Vermelho Rubro do Céu da Boca (2005) e Caçadores de Saci (2005). No projeto Francisco só quer jogar bola, série infantil com 13 episódios, a diretora apresenta o garoto Francisco, que vive em uma cidade grande que tem de tudo, menos espaço para o futebol. Com roteiro escrito em parceria com João Rodrigo Mattos (Trampolim do Forte), a série será exibida na TVE.

Outra série também destinada à TVE tem a direção de Jorge Alfredo, cineasta por trás do documentário Samba Riachão. Em O Senhor das Jornadas, Alfredo traça um panorama sobre o trabalho de Guido Araújo, cineasta e criador da Jornada do Cinema Baiano. Um dos pioneiros na produção de cinema na Bahia, Guido terá nessa série de cinco episódios de 26 minutos de duração cada, um dossiê acerca de sua filmografia e trabalhos voltados para o audiovisual baiano.

Após o impactante Joelma, curta que aborda o universo LGBT e a violência e preconceitos sofridos por gays e transexuais, o diretor Edson Bastos, em parceria com o cineasta Henrique Oliveira, apresenta a série em 13 episódios, A Professora de Música. Trata-se de um projeto que aborda as dificuldades de Íris, a professora do título, com a preparação de um recital em uma escola de música. A série também terá exibição na TVE.

No universo LGBT, o representante é a série de cinco episódios Diversidade, dirigida por Leandro Santos Rodrigues e Elen Linth, que “acompanhará durante cinco meses oito personagens em processos legais em instituições pública e/ou órgãos jurídicos de direito”. A sinopse oficial publicada no site da Ancine chama atenção para um problema que aflige os membros da comunidade LGBT e a busca por reconhecimento de seus direitos legais em diversos segmentos.

CURTAS METRAGENS

Na produção de curtas metragens, a Bahia se destaca com curtas que alcançaram grande relevância nacional, como é o caso de trabalhos como Menino do Cinco e Carranca, curtas selecionados para festivais como o de Gramado e Paulínia. Seus diretores, Marcelo Matos e Wallace Nogueira, inclusive, já estão com dois novos projetos previstos. Sob o título provisório de A mulher que replicava quadros, um deles aborda a história de amor entre uma deficiente visual e um rapaz que, gradativamente, vem perdendo a visão. ”É um filme que mescla cegueira, amor e arte. Estamos em fase de pré-produção. A ideia é quase a totalidade dos atores seja formada por deficientes visuais”, explica o co-diretor Marcelo Matos. A previsão é que o lançamento fique para o primeiro semestre de 2016.

Os diretores Marcelo Matos e Wallace Nogueira

Outro curta da dupla com a mesma previsão de lançamento é Cavalo Baio, filme que encerra a trilogia da infância iniciada com Menino do Cinco e Carranca. Rodado na cidade de Cachoeira, o roteiro aborda o ciúme de um garoto filho de fazendeiro e o filho de um dos peões por conta do amor que ambos sentem por um cavalo de estimação.

Com uma produção constante, a equipe do CUAL – Coletivo Urgente Audiovisual faz jus ao seu nome e tem três trabalhos em produção no momento. Selecionados para a competitiva nacional da décima edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema, ano passado, com o curta Com fome no fim do mundo, os jovens do coletivo realizaram, recentemente, no Espaço Itaú Glauber Rocha, uma premiere do filme Gaivotas ou o que fazer com os braços. O curta discute o processo de atuação através da conversa de dois atores durante uma cena do texto teatral “A Gaivota”, do dramaturgo e escritor russo, Anton Tchekhov. Além deste, o coletivo trabalha na produção de Vandalismo, próximo a ser finalizado e que aborda o atual contexto político brasileiro. Junto com este, porém já encerrado, aparece o Estamos aqui, que, segundo Ramon Coutinho, um dos cineastas da equipe, “trata-se de um filme hibrido sobre o próprio coletivo, um trabalho ficcional sobre a nossa amizade”, explica. Neandertais é outro trabalho que se une a prolífica produção dos rapazes em 2015. Atualmente em fase de pré-produção, o curta vai abordar “dois funcionários de uma rede de fast foods que acreditam ter encontrado um homem-de-neandertal faminto”. Observando o tom tragicômico de alguns trabalhos do coletivo, esse parece seguir linha semelhante. Fechando, temos o curta Feio, Velho e Ruim, uma crítica à necessidade constante que a geração dos selfies têm de ser aceita, amada e, claro, curtida. Confira o trailer no link: http://cualcinema.com/feiovelhoeruim/

Galera do Coletivo Urgente Audiovisual - CUAL
A dupla Pedro Perazzo e Rodrigo Luna também está envolvida na produção de curtas esse ano, só que em projetos separados. Restos, por exemplo, é um curta metragem cujo roteiro é do próprio Perazzo e a direção ficou com Renato Gaiarsa (que trabalhou na montagem de Menino da Gamboa e Jessy, curta dirigido por Luna em parceria com Paula Lince e Ronei Jorge). Neste novo curta, uma greve de funcionários da limpeza pública cria um cenário caótico na cidade, onde o lixo se acumula. A situação nos é apresentada através do olhar de Souza, um dos garis da região que, apesar de não possuir consciência de classe, observa seu poder crescer a cada novo saco de lixo nas ruas.

Renovando a parceria premiada de Jessy, Rodrigo Luna voltará a trabalhar com Paula Lice e Ronei Jorge em Ridículos. Trata-se de um documentário sobre o ofício e a arte dos palhaços. Com a excelente incursão no universo das drag queens de Jessy, este é mais um curta baiano que promete.

Luna, Lice e Jorge voltam à parceria
Diretor de Nunca mais vou filmar, curta de montagem ágil e história simples, porém cativante e que remete à trilogia do Antes de Richard Linklater, o cineasta Leandro Afonso apresenta nesse ano o curta Argentina, me desculpe. Realizado unicamente através de fotografias, o filme tem em sua sinopse a polêmica rivalidade entre os brasileiros e seus hermanos, só que, aqui, essa rivalidade não fica só no futebol, mas, também, nas mulheres de cada país.

Durante a entrevista para a coleta de dados dessa matéria, o papo com Afonso foi, no mínimo, engraçado e curioso. Ao ser arguido sobre a sinopse de Gengivas Sangrentas, curta dirigido por ele e com o roteiro de Bruno Bandido, foi com surpresa que recebi a resposta de que ele não saberia dizer. “É que eu e Bruno temos em comum uma péssima capacidade para fazê-las”, brincou Leandro. Ao final, consegui extrair o seguinte plot: “Pedro e Mel fugiram de suas cidades e agora vivem num quarto e sala onde recebem a visita de Julio”. Quando perguntei acerca da amizade entre esses três personagens, o diretor respondeu que eles não são amigos. “Na verdade, a palavra ‘tensão’ se aplica melhor entre eles que ‘amizade’”, frisou.

Confesso que bateu um calafrio e a curiosidade foi lá pra cima depois dessa...

O diretor na preparação do set de Argentina, me desculpe (Foto: Bruno Bandido)
Mesmo que este texto seja apenas um breve panorama sobre o que desponta aqui na Bahia nesse ano, dá para concluir que sim, a polêmica declaração de Paulo José citada lá no começo da matéria tem seu embasamento. O atual contexto cinematográfico brasileiro subsiste em produções pobres, mas que, com uma distribuição assombrosa e excludente, drena rios de dinheiro e multiplica esse tipo de filmografia.

No entanto, ao observar o cenário de produções baianas já em andamento nesse 2015, conclui-se que, sim, ainda há aqueles que fazem cinema de expressão . E não, pelo menos por aqui, não são poucos. Não mesmo.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Vingadores - Era de Ultron

(Avengers - Age of Ultron, EUA, 2015) Direção: Joss Whedon. Com Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner. 


Por João Paulo Barreto

Mais um passo no plano da Marvel em criar um equivalente (e bilionário) paralelo de seus heróis de papel nas telas do cinema, Vingadores – A Era de Ultron solidifica ainda mais o terreno narrativo e interligado por todos os filmes dos personagens licenciados pela editora para o cinema desde Homem de Ferro (2008).

Nesta nova aventura, somos apresentados à inteligência artificial, e supostamente pacificadora, Ultron, criada por Tony Stark (Downey Jr.) e pelo Dr. Bruce Banner (Mark Ruffalo) a partir da tecnologia alienígena contida no cetro do personagem Loki, subjugado no filme anterior. Como de praxe, a tal inteligência, capaz de transmutar-se em robôs assassinos, se rebela contra seu criador e parceiros preferindo ela mesma colocar em prática aquilo que chama de pacificação da humanidade através da extinção da mesma.

Com a criação de um antagonista à altura dos poderes dos heróis, resta ao diretor e roteirista Joss Whedon a criação do espetáculo visual habitual nos filmes do grupo. Aqui, utilizando a fórmula já aproveitada na primeira parte, ele volta a colocar parte dos heróis para lutar entre si, deixando, dessa vez, que os esforços se concentrem entre a versão parruda do Homem de Ferro (batizada de Hulkbuster) contra a sua inspiração na forma da fúria verde do Hulk. E a fórmula se repete do mesmo modo eficiente visto no anterior.

Tony Stark em sua versão parruda Hulkbuster
Dando um tempo na já comum destruição da cidade de Nova York, A Era de Ultron leva esse espetáculo visual para a Europa Oriental, onde traficantes de armas negociam com a versão robótica de Ultron o material necessário para a criação do seu exército e este recruta dois novos seres com superpoderes: os irmãos Mercúrio e Feiticeira Escarlate. O primeiro, superveloz, e a segunda, capaz de manipulação mental e de criar rajadas de energia.

Desde a sua cena de abertura, reconhecemos um hábito do diretor Joss Whedon. Com cada ação dos heróis sendo exibida separadamente através de uma câmera baseada em planos contínuos e travellings ágeis, já sabemos que em algum momento os veremos reunidos no mesmo quadro em uma pose heroica (algo já visto no predecessor). As velozes e empolgantes sequências compostas pelo diretor e roteirista de quadrinhos nos levam a reconhecer um estilo de filmagem que marca os dois primeiros filmes dos Vingadores e, claro, encontram diversos ecos nos enquadramentos vistos nas HQs.

No quesito da criação visual do filme, as expressões faciais do Hulk em sua fúria domada pela Viúva Negra, e a inserção de Ultron inicialmente como um destruído e (justamente por isso) horripilante robô para uma evolução gradual à imponente presença no apogeu de sua forma, fazem deste novo capitulo algo realmente admirável. Curioso observar como sua expressão facial nos remete à Maschinenmensch (máquina-humana) de Metropolis, clássico de Fritz Lang. Sendo Ultron uma criação de Stark, nada mais irônico que o complexo de Frankenstein visto nos dois filmes seja tão evidente.

Ultron "in the flesh"
Some a isso o domínio de voz que James Spader utiliza ao dublar Ultron (algo que será perdido pelos que preferem as versões em português),  e o que se vê no personagem é uma criação de vilania que, ironicamente, se mostra muito mais eficiente que a versão em carne e osso trazida pelo vilão Loki, interpretado por Tom Hiddleston e seu forçadamente onipresente sorriso. E a forma encontrada por Ultron para se descrever quando se apresenta salienta ainda mais tal ironia.

Apesar de pecar na ingenuidade simplista como a resolução do conflito é apresentada a partir da ação do novo personagem Visão, que simplesmente deleta Ultron do seu domínio cibernético, e a reciclagem do clímax do filme anterior, onde a destruição de um artefato resolve todos os problemas, Vingadores – A Era de Ultron, se apresenta como uma obra mais bem resolvida que sua primeira parte. 

De fato, o universo Marvel no cinema, com todos os seus filmes formando uma eficiente unidade, acaba se consolidando como algo notável que a sua rival, DC Comics, terá que suar um pouco para alcançar.

  

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Filmes de chocolate no Jornal Correio

A convite do colega Ronney Argolo, repórter do jornal Correio da Bahia, listei alguns filmes que podem ser a opção para os cinéfilos que queiram fugir das reprises dos longas bíblicos que infestam as exibições no período de Páscoa (a lista foi publicada no blog no domingo).

Abaixo, segue a matéria que foi impressa no caderno Bazar, do jornal soteropolitano. Nela, deu para se descobrir o real sentido da Páscoa: se empaturrar de chocolate! 

Clique na imagem para ampliar. 


domingo, 5 de abril de 2015

Páscoa e alguns filmes de chocolate

Direto ao ponto. Que tal seis filmes para fugir das reprises de A Paixão de Cristo e aproveitar o sabor dos chocolates da Páscoa? Confere aí! 

Por João Paulo Barreto 


A Fantástica Fábrica de Chocolates (Willy Wonka & The Chocolate Factory, EUA, 1971)
Pensar em chocolate no cinema e não se lembrar desse clássico absoluto é um tanto impossível. Filme nostálgico para muito trintão de hoje em dia, o longa é baseado no livro do britânico Roald Dahl, e representa um dos mais adorados best sellers do século XX. Narrando a história do pequeno Charlie, um jovem de origem humilde que sonha em conhecer o interior da Fábrica de Chocolates Wonka, o filme apresenta o pequenino e sua pobre família, que ajuda o garoto a realizar seu desejo através de um cupom dourado encontrado por sorte em uma barra da guloseima. Junto com um grupo de crianças que também encontraram (de forma honesta ou trapaceando) um cupom, Charlie adentra com o avô na fábrica capitaneada pelo tal Willy Wonka, um (sádico?) simpático homem que insere diversas provas pelas quais os garotos têm que passar. Diversas teorias conspiratórias pregam que Wonka não passa de um sádico que, na verdade, odeia crianças. Vivido por um sorridente Gene Wilder, essa teoria não é assim tão perceptível durante o longa. A não ser, claro, se você o assista já com isso em mente.


Como água para Chocolate (Como água para Chocolate, México, 1992)
Apesar de seu título, não é somente a iguaria mais consumida nessa época do ano que é abordada nesse filme mexicano que traz o trabalho de fotografia do vencedor dos dois últimos Oscars na categoria, Emmanuel Lubezki (aqui, ainda em começo de carreira). Utilizando como metáfora para o desejo sexual tanto a guloseima à base cacau quanto diversas outras comidas, o filme apresenta uma época em que a repressão desse desejo tem um apoio conservador oriundo da sociedade e da família daquele tempo, período da Revolução Mexicana. Quando vemos uma mulher que havia sido proibida de se casar com o homem que ama por conta dos caprichos da própria mãe, ter sua libido desperta de forma selvagem e autodestrutiva, o simbolismo da libertação a partir de uma arte como a culinária se torna evidente. E uma cena envolvendo um bolo de chocolate e tudo o que ele pode causar a um casamento retrata de forma sagaz essa liberdade perseguida.


Chocolate (Chocolate, EUA, 2000)
Bobinho, embora pretensioso em sua produção feita para ganhar o Oscar de 2001 (e indicado a cinco prêmios da Academia), esse filme dirigido pelo especialista em dramalhões, Lasse Hallström (de Regras da Vida e o recente Querido John), tenta emular um pouco da revolução que a culinária pode causar em um pequeno lugarejo como o visto em Como água para Chocolate. Aqui, a trama é transferida para uma vila no interior da França e o aspecto sociológico e histórico do período político mexicano é reduzido para as fofocas de simplórias donas de casa francesas. Juliette Binoche interpreta uma pequena comerciante de talentos extraordinários na confecção de chocolates que resolve abrir uma pequena loja para vender suas iguarias. Semelhante ao que vimos na película mexicana, os doces causam um rebuliço na vida social e sexual dos casais da região. Tendo um Johnny Depp no papel de um cigano musicista e vitima do racismo local, o par romântico de nossa protagonista está formado.


A Fantástica Fábrica de Chocolates (Charlie and the Chocolate Factory, EUA, 2005)
Em sua refilmagem (feita em parceria com Johnny Depp, seu colega constante), Tim Burton apresenta uma versão mais ácida e óbvia quanto aos ressentimentos que Willy Wonka nutre pelas crianças que convida a conhecer o interior de sua fábrica. Vivido por um Depp que sempre se esforça para tornar evidente a bizarrice de seus personagens, essa colorida versão dirigida pelo quase sempre monocromático Burton investe bem mais no aspecto psicológico do seu protagonista e nos seus traumas familiares para explicar o porquê de suas rusgas para com os pequeninos (e, em alguns casos, irritantes) visitantes. Do mesmo modo como na versão original, a vontade de comer chocolates é inevitável ao subir os créditos. Cantarolar as músicas, idem. Ainda mais, aliás.


Românticos Anônimos (Les émotifs anonymes, França, 2010)
Mais um filme a abordar a confecção do chocolate e suas consequências românticas. Aqui, temos outra expert na arte de criar as guloseimas, mas sem nenhum traquejo social para lidar com pessoas, muito menos para encarar qualquer possibilidade de relacionamento amoroso. Ao conseguir um emprego em uma fábrica de chocolates, Angélique, além de surpreender a todos com seus dotes culinários, precisa lidar com as investidas românticas de Jean-René, seu chefe, que, assim como ela, tem problemas crônicos sobre como lidar com sua timidez. No caso dele, tal problema é exclusivo das relações com o sexo oposto. Situações hilárias e um tanto nonsenses ilustram bem a condição dos protagonistas em um filme bem amarrado e divertido.


Me Late Chocolate (Idem, México, 2013)
Inédito no Brasil, Me Late Chocolate (algo como “Chocolate, me bate”, em tradução livre do espanhol) é mais uma obra mexicana a mesclar relações amorosas ao hábito de confeccionar chocolates. De qualidade inferior aos outros filmes dessa lista, Me Late, Chocolate é uma comédia romântica leve que, apesar de irregular, diverte de forma despretensiosa. Abusando dos desencontros amorosos de sua protagonista, Moni, que, após perder seu quase noivo em um acidente inusitado, decide se dedicar ao que mais gosta: fabricar chocolates. O problema é que qualquer tentativa de achar um novo amor é frustrada por visões hilárias do falecido. Vale tanto pelas risadas das situações absurdas, como pela rápida participação de Edgar Vivar, nosso eterno Seu Barriga, de Chaves.



quinta-feira, 2 de abril de 2015

Golpe Duplo

(Focus, EUA, 2015) Direção: Glen Ficarra, John Requa. Com Will Smith, Margot Robbie, Rodrigo Santoro. 



Por João Paulo Barreto

Já é bem conhecida a simpatia que o público nutre por anti-heróis. Ladrões charmosos que tiram a grana de ricaços inescrupulosos ou de instituições que enxergam apenas o próprio lucro enquanto castigam o povo ao seu redor. Já vimos isso em diversos filmes. Seja nas versões de Robin Hood em live action ou animações, seja no grupo de malandros charmosos chefiado por George Clooney e por Frank Sinatra nas versões para o cinema de Onze homens e um segredo. Torcíamos pelo bando de pilantras mesmo sabendo que o que eles faziam era contra a lei. A simpatia chegava a ser irrestrita.

Por que, então, fui incapaz de sentir o mesmo pelo grupo liderado por Will Smith em Golpe Duplo? Talvez porque, dessa vez, o aspecto honra fique um pouco distante desses meliantes. Ok, ok, temos Margot Robbie ainda abusando da beleza apresentada em O Lobo de Wall Street; temos o membro engraçado e surreal da gangue, aqui representado por Farhad (Adrian Martinez) e suas indiretas deslocadas que, uma pena, não encontram resultado positivo na total falta de timing cômico de Robbie. E, claro, o próprio Will Smith, que tenta ao máximo emular o charme vigarista de Clooney, mas sem sucesso.

A linda Jess (Margot Robbie) e o sem-noção Farhad (Adrian Martinez)
Não que a culpa esteja na interpretação dele. Will Smith até convence como chefe do bando e organizador dos golpes. Mas o problema está justamente nestes golpes. Qual a simpatia que o público pode ter quando a identificação do mesmo está nas pobres vitimas daquelas pessoas? Como torcer por um grupo de ladrões que rouba lentes de câmeras de turistas, relógios, carteiras, clona cartões de crédito, adultera caixas eletrônicos em busca de dados de correntistas? Como gostar de um bando de personagens que não se importam em destruir economias de trabalhadores ou lesar bens materiais de pessoas que se esforçaram, suaram e ralaram muito para conseguir itens de seu conforto?

Diferente de outros filmes desse tipo, cujo roteiro fazia questão de salientar o quão mau caráter eram as supostas vitimas do bando (Andy Garcia e Pacino na trilogia Ocean, por exemplo), em Golpe Duplo, a suposta vitima a seguir esse conceito surge com um certo atraso. Já do meio para o fim é que o tal “vilão” interpretado por Rodrigo Santoro aparece na trama, que sai inexplicavelmente de Nova Orleans para Buenos Aires, deixando de lado os pequenos golpes e partindo para algo mais ambicioso envolvendo combustível de carros de Fórmula 1. Agora, no entanto, já é um pouco tarde demais. Qualquer simpatia que poderíamos começar a nutrir pelo protagonista, dessa vez apaixonado e com ciuminhos, já caiu por terra ao nos colocarmos sempre no lugar das vítimas de seus golpes. Eu, por exemplo, imaginei a dor de cabeça de ter que procurar refazer documentos, pedir estorno em financeiras e bancos e lutar para ter meu nome limpo na praça novamente.

Santoro esbanjando charme como o suposto vilão, Garriga
Curioso. Durante o filme, uma cena que não parava de surgir em minha mente era uma em que John Dillinger, em Inimigos Público, no momento em que assalta um banco, permite que um idoso que deu azar de estar na agência naquele momento guarde o dinheiro que acabara de receber.

Viram? Não é tão difícil assim conseguir a simpatia do espectador, caros.