(Focus, EUA, 2015) Direção: Glen Ficarra, John Requa. Com Will Smith, Margot Robbie, Rodrigo Santoro.
Por João Paulo Barreto
Já é bem conhecida a simpatia que
o público nutre por anti-heróis. Ladrões charmosos que tiram a grana de ricaços
inescrupulosos ou de instituições que enxergam apenas o próprio lucro enquanto
castigam o povo ao seu redor. Já vimos isso em diversos filmes. Seja nas
versões de Robin Hood em live action ou animações, seja no grupo de malandros
charmosos chefiado por George Clooney e por Frank Sinatra nas versões para o
cinema de Onze homens e um segredo. Torcíamos pelo bando de pilantras
mesmo sabendo que o que eles faziam era contra a lei. A simpatia chegava a ser
irrestrita.
Por que, então, fui incapaz de
sentir o mesmo pelo grupo liderado por Will Smith em Golpe Duplo? Talvez
porque, dessa vez, o aspecto honra fique um pouco distante desses meliantes.
Ok, ok, temos Margot Robbie ainda abusando da beleza apresentada em O Lobo
de Wall Street; temos o membro engraçado e surreal da gangue, aqui
representado por Farhad (Adrian Martinez) e suas indiretas deslocadas que, uma
pena, não encontram resultado positivo na total falta de timing cômico de
Robbie. E, claro, o próprio Will Smith, que tenta ao máximo emular o charme
vigarista de Clooney, mas sem sucesso.
A linda Jess (Margot Robbie) e o sem-noção Farhad (Adrian Martinez) |
Não que a culpa esteja na
interpretação dele. Will Smith até convence como chefe do bando e organizador
dos golpes. Mas o problema está justamente nestes golpes. Qual a simpatia que o
público pode ter quando a identificação do mesmo está nas pobres vitimas
daquelas pessoas? Como torcer por um grupo de ladrões que rouba lentes de
câmeras de turistas, relógios, carteiras, clona cartões de crédito, adultera
caixas eletrônicos em busca de dados de correntistas? Como gostar de um bando
de personagens que não se importam em destruir economias de trabalhadores ou
lesar bens materiais de pessoas que se esforçaram, suaram e ralaram muito para
conseguir itens de seu conforto?
Diferente de outros filmes desse
tipo, cujo roteiro fazia questão de salientar o quão mau caráter eram as
supostas vitimas do bando (Andy Garcia e Pacino na trilogia Ocean, por
exemplo), em Golpe Duplo, a suposta vitima a seguir esse conceito surge com um certo atraso. Já do meio para o fim é que o tal “vilão”
interpretado por Rodrigo Santoro aparece na trama, que sai inexplicavelmente de
Nova Orleans para Buenos Aires, deixando de lado os pequenos golpes e partindo
para algo mais ambicioso envolvendo combustível de carros de Fórmula 1. Agora,
no entanto, já é um pouco tarde demais. Qualquer simpatia que poderíamos
começar a nutrir pelo protagonista, dessa vez apaixonado e com ciuminhos, já caiu
por terra ao nos colocarmos sempre no lugar das vítimas de seus golpes. Eu, por
exemplo, imaginei a dor de cabeça de ter que procurar refazer documentos, pedir
estorno em financeiras e bancos e lutar para ter meu nome limpo na praça
novamente.
Santoro esbanjando charme como o suposto vilão, Garriga |
Curioso. Durante o filme, uma
cena que não parava de surgir em minha mente era uma em que John Dillinger, em Inimigos
Público, no momento em que assalta um banco, permite que um idoso que deu
azar de estar na agência naquele momento guarde o dinheiro que acabara de
receber.
Viram? Não é tão difícil assim
conseguir a simpatia do espectador, caros.
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