quinta-feira, 18 de outubro de 2018

42ª Mostra de Cinema de São Paulo



Filme sobre Bando de Teatro Olodum 
será exibido na Mostra SP

Mostra Internacional de Cinema de SP traz Ilha, de Glenda Nicácio e Ary Rosa, e doc sobre os 25 anos da companhia de teatro baiana
Por João Paulo Barreto

Com uma maratona de exibições que inclui 336 filmes de vários países, dentre eles diversos premiados nos principais festivais do mundo, como o mexicano Roma, de Alfonso Cuáron (Leão de Ouro no Festival de Veneza); o cingapuriano Uma Terra Imaginada, de Siew Hua Yeo (Leopardo de Ouro no Festival de Locarno), além do romeno Não Me Toque, vencedor do Urso de Ouro, em Berlim,  a 42ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo  começa nessa quinta e segue até o dia 31 de outubro trazendo, também, um leque expressivo de filmes brasileiros, junto a diversas homenagens.

A Bahia se faz presente com duas obras. O documentário Bando, um filme de, longa dirigido por Lázaro Ramos e Thiago Gomes, e Ilha, novo filme de Glenda Nicácio e Ary Rosa, cineastas responsáveis pelo premiado Café com Canela. Agraciado com o Candago de Melhor Roteiro no Festival de Brasília desse ano, Ilha também teve o seu protagonista, Aldri Anunciação, premiado com o Candango Melhor Ator no mesmo festival. Com os dois trabalhos participantes na Mostra SP, a Bahia demonstra uma força dentro do audiovisual que resiste, mesmo com a ausência de editais públicos voltados para produções, uma realidade que se espera ver mudar com a segunda gestão consecutiva que se inicia em 2019.

Cena do espetáculo Bença, do Bando de Teatro Olodum

Teatro como afirmação

Bando, um filme de, destrincha os vinte e cinco anos do Bando de Teatro Olodum através de uma série de entrevistas com os integrantes do grupo de atores e atrizes, que, paralelas às imagens de arquivo que o longa traz, consegue criar um documento da importante presença e, ainda mais válida, da resistência como força de expressão da companhia de teatro com origem no bairro do Pelourinho.  O Bando resiste com diversos artistas, sendo diretores, atores e atrizes, que permanecem na dramaturgia precisando conciliar aquele universo com a necessidade de outras fontes de renda. Nos depoimentos de pessoas como Jorge Washington e Luciana Souza, dois dos veteranos nomes de destaque do Bando, observa-se essa importância de manter-se naquele grupo como modo de criar uma identidade cultural. O co-diretor Thiago Gomes salienta essa luta, algo que foi captado nos depoimentos: “Nas conversas que eu e Lázaro tivemos na pré-produção e na produção do filme, tínhamos em mente essa abordagem do aspecto da luta pelas questões da negritude. Esse era um dos focos”, explica Thiago. Lázaro Ramos é enfático em dizer que o filme “é sobre resistência. É sobre processo criativo. É sobre como um grupo conseguiu sobreviver por 25 anos fazendo teatro em Salvador”, afirma.

Em certo momento do longa, é em uma fala de Jorge Washington que essa proposta do fazer teatro como um ato militante é colocada em evidência de modo concreto. É justamente neste ponto que se observa um dos muitos méritos da obra. “Na Bahia, em Salvador, não dá para ser só artista. Tem que ser militante,” diz Jorge Washington no depoimento para o filme. E o pilar do documentário de Gomes e Ramos é exposto ali. A ideia aqui não é a da glamorização ou da exibição dos bem sucedidos nomes oriundos daquele Bando de Teatro. Sim, é importante salientar as trajetórias de sucesso que muitos que passaram por ali alcançaram, mas, mais do que isso, o impacto que a trajetória daquele grupo de pessoas deixa no espectador que acaba de testemunhar sua história ultrapassa isso e se fixa em um outro patamar: o do filme de função social e política. Porque, longe de qualquer militância que este jornalista possa querer fazer aqui, a longa trajetória de vida de um grupo de teatro formado quase que cem por cento por pessoas negras, é de suma importância que se registre. E que se torne um exemplo de resistência diante de tempos macabros que parecem nos ameaçar.


* Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 18/10/2018


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