quinta-feira, 21 de março de 2013

A Crítica de Cinema on line

Os dilemas e desafios da crítica cinematográfica em tempos de internet


Excelente entrevista concedida ao professor André Bomfim (colaborador da revista Cítrica) na qual eu, os críticos Rafael Carvalho (Moviola Digital), Amanda Aouad (Cine Pipoca Cult) e a professora Regina Gomes (coordenadora do GRIM, Grupo de Pesquisa em Recepção e Crítica da Imagem) discorremos sobre essa as vantagens e desvantagens da internet no campo da crítica. Vale a pena a leitura.



Parte 2




terça-feira, 12 de março de 2013

Django Livre


(Django Unchained, EUA, 2012) Direção Quentin Tarantino. Com Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson.


Por João Paulo Barreto

O modo como a relação entre o negro e o branco fora retratada pelo cinema antes de Quentin Tarantino se aventurar em abordar um tema tão delicado sempre foi a de protecionismo e de exclusiva dependência do primeiro em relação ao segundo na resolução de seus problemas. Filmes como Amistad, Lincoln ou o sofrível The Help, para citar apenas três, são exemplos claros de como Hollywood prefere visitar fatos nos quais os brancos são vistos como, ao mesmo tempo, vilões e salvadores. Observar o primeiro herói negro do período da escravatura emergir em uma vendeta banhada de sangue era o mínimo que podíamos esperar de Tarantino após a sua versão para a morte de Adolf Hitler em Bastardos Inglórios.

Diferente do longa anterior, no entanto, dessa vez não houve uma recriação histórica em 100% dos fatos, mas uma apropriação de um contexto real e a inserção de novos elementos. O Django de Jamie Foxx, a despeito de levar o nome do personagem imortalizado por Franco Nero na produção da década de 1960, não possui relação direta com este (apesar da música e dos créditos iniciais o referenciarem). Nada de caixões repletos de armas sendo arrastados, mas puramente uma história de vingança na qual corpos são explodidos com chumbo e o sangue exibido pelos efeitos visuais do mestre John Dykstra não cria asco no espectador, mas, sim, regozijo.

Stephen e sua posição social de destaque
Sem maniqueísmo, no entanto, Tarantino não pinta os negros apenas como as vítimas do processo de escravidão americano. O personagem de Samuel L. Jackson, Stephen, demonstra de forma perfeita o interesse econômico e a conveniência de alguns (negros e brancos) por trás desse processo. A relação estreita entre Stephen  e o Calvin de Leonardo DiCaprio, denota o fato de que não há orgulho ou revolta para alguns dos oprimidos quando o que está em jogo é o interesse pessoal. Sobrevivência supera qualquer ativismo. E qual a diferença entre Stephen e Calvin senão apenas a cor da pele? Quando se trata de dinheiro, até isso se torna irrelevante. Se for preciso abrir mão da vingança pela morte de um ente querido por grana, Stephen o fará. Mesmo que isso signifique seu maior erro.

Do mesmo modo que em Kill Bill, em Django, Tarantino criou um diálogo símbolo do filme. Lá, tal passagem era acerca do Superman e sua relação com a raça humana; aqui cabe a Leonardo DiCaprio o mais impactante monologo do longa, quando este apresenta “razões científicas” para o que o roteiro chama de natureza submissa dos escravos. Tal diálogo chega a chocar em determinado momento, porém, ao percebermos que o mesmo é proferido por um sociopata que se diverte vendo homens matando uns aos outros em lutas sanguinárias (UFC? Alguém?), acaba-se por entender a origem de tal hedionda constatação.

Dr. King: nobre assassino em um mundo de valores corrompidos
No meio de tudo isso, uma gênese cômica e imbecil para a Ku Klux Klan (tão imbecil quanto seus preceitos) e um personagem coadjuvante branco e alemão que representa ao menos um pouco de esperança para o conceito de humanidade do filme. O Dr. King de Christoph Waltz, apesar de um assassino e caçador de recompensas, acaba por representar o que há de mais justo e nobre nos homens daquele universo tarantiniano. Sobrevivente, o homem é fruto de um contexto histórico. Em um mundo tão corrompido de valores morais onde a vida de seres humanos é tratada como mercadoria e/ou lixo a ser descartado, um assassino com aquela natureza benéfica acaba por ser o supra sumo da bondade e da esperança em dias melhores.

Isso vindo de Quentin Tarantino é o máximo que podemos esperar de alguém com bom caráter. Mais do que suficiente, friso.