(Django Unchained, EUA, 2012) Direção Quentin
Tarantino. Com Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L.
Jackson.
Por João Paulo Barreto
O modo como a relação entre o
negro e o branco fora retratada pelo cinema antes de Quentin Tarantino se
aventurar em abordar um tema tão delicado sempre foi a de protecionismo e de
exclusiva dependência do primeiro em relação ao segundo na resolução de seus
problemas. Filmes como Amistad, Lincoln ou
o sofrível The Help, para citar
apenas três, são exemplos claros de como Hollywood prefere visitar fatos nos
quais os brancos são vistos como, ao mesmo tempo, vilões e salvadores. Observar
o primeiro herói negro do período da escravatura emergir em uma vendeta banhada
de sangue era o mínimo que podíamos esperar de Tarantino após a sua versão para
a morte de Adolf Hitler em Bastardos
Inglórios.
Diferente do longa anterior, no
entanto, dessa vez não houve uma recriação histórica em 100% dos fatos, mas uma
apropriação de um contexto real e a inserção de novos elementos. O Django de
Jamie Foxx, a despeito de levar o nome do personagem imortalizado por Franco
Nero na produção da década de 1960, não possui relação direta com este (apesar
da música e dos créditos iniciais o referenciarem). Nada de caixões repletos de
armas sendo arrastados, mas puramente uma história de vingança na qual corpos
são explodidos com chumbo e o sangue exibido pelos efeitos visuais do mestre
John Dykstra não cria asco no espectador, mas, sim, regozijo.
Stephen e sua posição social de destaque |
Sem maniqueísmo, no entanto,
Tarantino não pinta os negros apenas como as vítimas do processo de escravidão
americano. O personagem de Samuel L. Jackson, Stephen, demonstra de forma
perfeita o interesse econômico e a conveniência de alguns (negros e brancos)
por trás desse processo. A relação estreita entre Stephen e o Calvin de Leonardo DiCaprio, denota o
fato de que não há orgulho ou revolta para alguns dos oprimidos quando o que
está em jogo é o interesse pessoal. Sobrevivência supera qualquer ativismo. E
qual a diferença entre Stephen e Calvin senão apenas a cor da pele? Quando se
trata de dinheiro, até isso se torna irrelevante. Se for preciso abrir mão da
vingança pela morte de um ente querido por grana, Stephen o fará. Mesmo que
isso signifique seu maior erro.
Do mesmo modo que em Kill Bill, em Django, Tarantino criou um diálogo símbolo do filme. Lá, tal
passagem era acerca do Superman e sua relação com a raça humana; aqui cabe a
Leonardo DiCaprio o mais impactante monologo do longa, quando este apresenta
“razões científicas” para o que o roteiro chama de natureza submissa dos
escravos. Tal diálogo chega a chocar em determinado momento, porém, ao
percebermos que o mesmo é proferido por um sociopata que se diverte vendo
homens matando uns aos outros em lutas sanguinárias (UFC? Alguém?), acaba-se
por entender a origem de tal hedionda constatação.
Dr. King: nobre assassino em um mundo de valores corrompidos |
No meio de tudo isso, uma gênese
cômica e imbecil para a Ku Klux Klan (tão imbecil quanto seus preceitos) e um
personagem coadjuvante branco e alemão que representa ao menos um pouco de
esperança para o conceito de humanidade do filme. O Dr. King de Christoph Waltz,
apesar de um assassino e caçador de recompensas, acaba por representar o que há
de mais justo e nobre nos homens daquele universo tarantiniano. Sobrevivente, o
homem é fruto de um contexto histórico. Em um mundo tão corrompido de valores
morais onde a vida de seres humanos é tratada como mercadoria e/ou lixo a ser
descartado, um assassino com aquela natureza benéfica acaba por ser o supra
sumo da bondade e da esperança em dias melhores.
Isso vindo de Quentin
Tarantino é o máximo que podemos esperar de alguém com bom caráter. Mais do que
suficiente, friso.
Olá, João!
ResponderExcluirPassei para lhe convidar à participar do sorteio de aniversário do Lumaniacs! Não sei se vai lembrar ... vc contribui para minha postagem à respeito do filme 31 Minutos! ;)
http://lumaniacs.blogspot.com.br/2013/03/sorteio-de-aniversario_11.html
Bjs Obrigada!