Com um perfil voltado para discutir preservação e história,
Mostra de Cinema de Ouro Preto chega à 13ª edição
Mostra de Cinema de Ouro Preto chega à 13ª edição
Por João Paulo Barreto
Com abertura oficial nesta quinta feira, dia 14 de junho, a décima
terceira edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto – Cine OP apresentará até o
próximo dia 18 na cidade mineira patrimônio mundial da humanidade, uma série de
eventos relacionados à Preservação, Educação e História no âmbito da Sétima
Arte no Brasil e no mundo. Como seu próprio slogan já anuncia, “a mostra que
trata o cinema como patrimônio”, do mesmo modo que nas outras 12 edições
anteriores, não decepcionou na programação dos atrativos cinematográficos
destinados aos visitantes. Desde 2006, quando foi criada, a Mostra leva como
bandeira os três eixos citados como seus principais focos de atuação, sendo o
da Preservação o que mais se destaca na edição desse ano, que trará uma série
de encontros e discussões em torno do conceito central da temática.
ÍCONE DO CINEMA NACIONAL
Um dos destaques do festival é a homenagem à icônica atriz
Maria Gladys. Dona de um dos rostos mais marcantes das telas brasileiras, a
atriz nascida em Cachambi, Rio de Janeiro, que completará oitenta anos em 2019,
teve longa e marcante trajetória no Cinema Novo e no cinema marginal
brasileiros, bem como na televisão até os dias atuais, e em diversas produções
cinematográficas desde o final dos anos 1960 até esta década. Com um invejável
currículo, contendo trabalhos realizados sob a batuta de Ruy Guerra, Domingos
de Oliveira, Júlio Bressane e Neville de Almeida, Maria Gladys receberá o
Troféu Vila Rica e terá duas obras exibidas em sua homenagem: o seminal Sem Essa, Aranha, filme de 1970 com direção de Rogério
Sganzerla, e os documentário Maria
Gladys, Uma atriz Brasileira, dirigido pela baiana Norma Bengell em 1980, e Vida, assinado por Paula Gaitan e que,
também, esmiúça a trajetória da atriz, a primeira, inclusive, a fazer o
primeiro nu no teatro brasileiro com a peça O
Chão dos Penitentes, de 1965.
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Ícone do Cinema Novo e do cinema marginal, Maria Gladys é a homenageada desse ano |
PRESENÇA BAIANA
Alguns filmes baianos também serão exibidos durante os cinco dias da mostra. Um deles é o tocante Jonas e o Circo sem Lona, de PaulaGomes, que terá duas sessões voltadas para estudantes de escolas mineiras previamente inscritas. Premiado em diversos festivais, o documentário é um brilhante registro dos sonhos do pequeno Jonas, que almeja possuir um circo quando crescer e começa a colocar em prática sua ambição ainda criança, com a criação de um circo feito no seu quintal com a ajuda de amigos que também se entusiasmam com a ideia. Sendo uma obra que questiona as restrições da escola para com a criatividade de seu protagonista, para a diretora Paula Gomes, vê-la exibida especificamente para um público oriundo das salas de aula é maravilhoso. “Eu me sinto muito agradecida por ver o filme chegar a plateias tão potentes como essa, formada por alunos de escolas mineiras, do interior do Estado. Conversar com jovens tem, sem dúvidas, um peso enorme, e é isso que lá no fundo a gente deseja quando passa tanto tempo sonhando, escrevendo, filmando, vivendo a produção de uma obra: que ela chegue onde ela faz a diferença”, afirma Paula.
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Jonas e o Circo sem Lona ganha duas exibições para alunos de escolas mineiras |
Outra produção marco a ser exibida na Cine OP é Caveira My Friend, clássico de 1970
dirigido pelo baiano Álvaro Guimarães. Trazendo um registro da inquietação de
um grupo de jovens a simplesmente passar pela vida, o filme não necessariamente
segue a estrutura clássica de começo, meio e fim comum às narrativas, mas, sim,
algo mais de acordo com a proposta do cinema marginal feito à época. Aqui, a
proposta de esquetes e a ausência de um elo para com as sequências denotam,
justamente, o sufocamento e apreensões daquelas pessoas em suas vidas. Vale
lembrar que o filme, lançado há 48 anos, havia sido exibido no Festival de
Brasília de 1969, ano do AI-5, e teve uma de suas cópias incendiada em plena
Praça dos Três Poderes em forma de protesto pela censura que recebeu.
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Clássico baiano Caveira My Friend também será exibido |
Com sua
trilha marcante na presença do som dos Novos Baianos, e até mesmo a
participação da então Baby Consuelo como atriz, a obra de Álvaro Guimarães é um
dos principais atrativos da Cine OP. A exibição de Caveira My Friend na atual conjuntura de perdas de direitos que
vivemos, do mesmo modo que reflete em seus personagens angústia e sensação de
inércia semelhante à nossa, serve como uma tentativa de percepção de um abismo
que aquela geração de quase cinquenta anos atrás notou e lutou para escapar. A
atual parece querer mergulhar.
* Matéria originalmente publicada no Jornal A Tarde de 13/06/2018
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