terça-feira, 12 de junho de 2018

Cine OP começa amanhã em Outro Preto - MG


Com um perfil voltado para discutir preservação e história,
Mostra de Cinema de Ouro Preto chega à 13ª edição


Por João Paulo Barreto

Com abertura oficial nesta quinta feira, dia 14 de junho, a décima terceira edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto – Cine OP apresentará até o próximo dia 18 na cidade mineira patrimônio mundial da humanidade, uma série de eventos relacionados à Preservação, Educação e História no âmbito da Sétima Arte no Brasil e no mundo. Como seu próprio slogan já anuncia, “a mostra que trata o cinema como patrimônio”, do mesmo modo que nas outras 12 edições anteriores, não decepcionou na programação dos atrativos cinematográficos destinados aos visitantes. Desde 2006, quando foi criada, a Mostra leva como bandeira os três eixos citados como seus principais focos de atuação, sendo o da Preservação o que mais se destaca na edição desse ano, que trará uma série de encontros e discussões em torno do conceito central da temática.

ÍCONE DO CINEMA NACIONAL

Um dos destaques do festival é a homenagem à icônica atriz Maria Gladys. Dona de um dos rostos mais marcantes das telas brasileiras, a atriz nascida em Cachambi, Rio de Janeiro, que completará oitenta anos em 2019, teve longa e marcante trajetória no Cinema Novo e no cinema marginal brasileiros, bem como na televisão até os dias atuais, e em diversas produções cinematográficas desde o final dos anos 1960 até esta década. Com um invejável currículo, contendo trabalhos realizados sob a batuta de Ruy Guerra, Domingos de Oliveira, Júlio Bressane e Neville de Almeida, Maria Gladys receberá o Troféu Vila Rica e terá duas obras exibidas em sua homenagem: o seminal Sem Essa, Aranha, filme de 1970 com direção de Rogério Sganzerla, e os documentário Maria Gladys, Uma atriz Brasileira, dirigido pela baiana Norma Bengell em 1980, e Vida, assinado por Paula Gaitan e que, também, esmiúça a trajetória da atriz, a primeira, inclusive, a fazer o primeiro nu no teatro brasileiro com a peça O Chão dos Penitentes, de 1965.

Ícone do Cinema Novo e do cinema marginal, Maria Gladys é a homenageada desse ano

PRESENÇA BAIANA 

Alguns filmes baianos também serão exibidos durante os cinco dias da mostra. Um deles é o tocante Jonas e o Circo sem Lona, de PaulaGomes, que terá duas sessões voltadas para estudantes de escolas mineiras previamente inscritas. Premiado em diversos festivais, o documentário é um brilhante registro dos sonhos do pequeno Jonas, que almeja possuir um circo quando crescer e começa a colocar em prática sua ambição ainda criança, com a criação de um circo feito no seu quintal com a ajuda de amigos que também se entusiasmam com a ideia. Sendo uma obra que questiona as restrições da escola para com a criatividade de seu protagonista, para a diretora Paula Gomes, vê-la exibida especificamente para um público oriundo das salas de aula é ­­­­­­­maravilhoso. “Eu me sinto muito agradecida por ver o filme chegar a plateias tão potentes como essa, formada por alunos de escolas mineiras, do interior do Estado. Conversar com jovens tem, sem dúvidas, um peso enorme, e é isso que lá no fundo a gente deseja quando passa tanto tempo sonhando, escrevendo, filmando, vivendo a produção de uma obra: que ela chegue onde ela faz a diferença”, afirma Paula. 
Jonas e o Circo sem Lona ganha duas exibições para alunos de escolas mineiras 
Outra produção marco a ser exibida na Cine OP é Caveira My Friend, clássico de 1970 dirigido pelo baiano Álvaro Guimarães. Trazendo um registro da inquietação de um grupo de jovens a simplesmente passar pela vida, o filme não necessariamente segue a estrutura clássica de começo, meio e fim comum às narrativas, mas, sim, algo mais de acordo com a proposta do cinema marginal feito à época. Aqui, a proposta de esquetes e a ausência de um elo para com as sequências denotam, justamente, o sufocamento e apreensões daquelas pessoas em suas vidas. Vale lembrar que o filme, lançado há 48 anos, havia sido exibido no Festival de Brasília de 1969, ano do AI-5, e teve uma de suas cópias incendiada em plena Praça dos Três Poderes em forma de protesto pela censura que recebeu. 

Clássico baiano Caveira My Friend também será exibido
Com sua trilha marcante na presença do som dos Novos Baianos, e até mesmo a participação da então Baby Consuelo como atriz, a obra de Álvaro Guimarães é um dos principais atrativos da Cine OP. A exibição de Caveira My Friend na atual conjuntura de perdas de direitos que vivemos, do mesmo modo que reflete em seus personagens angústia e sensação de inércia semelhante à nossa, serve como uma tentativa de percepção de um abismo que aquela geração de quase cinquenta anos atrás notou e lutou para escapar. A atual parece querer mergulhar.

* Matéria originalmente publicada no Jornal A Tarde de 13/06/2018



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