(Amori Che Non Sanno
Stare al Mondo, Itália, 2017) Direção: Francesca Comencini. Com Lucia
Mascino, Thomas Trabacchi.
Por João Paulo Barreto
Por trás de uma fachada de comédia rasgada, com uma personagem
de comportamento absurdo, Histórias de
Amor que Não Pertencem a Este Mundo esconde uma reflexão bem apropriada
relacionada ao envelhecer. Mas não ao envelhecer comum a todas as pessoas, algo
que acaba por trazer mais momentos de dúvida do que de epifania, porém que se encerra
com mais clareza e discernimento.
Ao focar no passar dos anos de uma personagem feminina e na
carga de autocobrança e consequente desequilíbrio, a diretora e co-roteirista
romana Francesca Comencini traz ao público, além da irritabilidade causada por
sua protagonista, uma curiosa análise comportamental. Algo que, diante de um
rótulo um tanto banal de estrutura romântica, consegue, ao menos, levar ao
espectador que investiu nos 90 minutos de projeção alguma recompensa que lhe
cause reflexão.
Tal recompensa reside na superação da personagem aparentemente
bipolar vivida por Lucia Mascino. Repleta de inseguranças e ausência de uma
personalidade firme, sua Claudia parece possuir o desespero como única resposta
para qualquer indagação atrelada à convivência mútua que sua relação amorosa
lhe trouxe. Neste sentido, o filme de Comencini gera no espectador uma irritação
curiosa, justamente por conta de tamanha fugacidade comportamental de sua
protagonista.
Claudia e Flavio em um começo inesperado, mas promissor |
Calcado no absurdo de suas reações diante do término de um
relacionamento e na insistência nonsense em recuperar a confiança do antigo
amor, o filme começa brincando com as atitudes de Claudia. Ela, mergulhada em um mundo mental particular,
busca em suas idiossincrasias interpretações que lhe soem convenientes para as
negativas do ex, bem como para seus silêncios, como, por exemplo, quando questiona
a possibilidade de não possuir créditos no celular, uma vez que nenhuma das 28
mensagens enviadas (!!) tiveram retorno. Tal formato de comédia, no entanto,
cansa após certo ponto justamente por impedir qualquer identificação do público
com tamanhas excentricidades.
Por sorte, após um tempo, o filme começa a apostar em outra
vertente, conseguindo, de algum modo, cativar a atenção para sua personagem
principal. Tal vertente reside na ideia descrita inicialmente aqui: uma análise
comportamental do envelhecer através de um viés feminino.
Independente do fato de que, mesmo escrito a partir do ponto
de vista de uma mulher, a obra derrape em clichês machistas e típicos de
fantasias masculinas, como quando Claudia cede a uma experimentação lésbica em
busca de alcançar uma felicidade que não teve no comportamento hetero (como se
fosse uma questão de escolha), o mesmo não vemos acontecer no lado masculino da
trama. Aqui, o roteiro prefere ater-se à ideia de que, para o homem, a resposta
para tais dúvidas reside em um novo, jovem, heterossexual e, de preferência,
quase adolescente amor. Resumindo: cabe apenas à mulher o desafio de arriscar
em algo totalmente novo e que, até aquele momento, não havia lhe passado pela
mente.
"Após 28 mensagens, eu não recebi nenhuma resposta?" |
O que fica na reflexão daquela história de amor falível
entre Claudia e Flavio centra-se na ideia de que, em qualquer relacionamento, a
calma é o tom principal para um equilíbrio. Impulsos são saudáveis e, acima de
qualquer julgamento, humanos. Porém, cabe discernimento em qualquer entrega.
Discernimento e respeito mútuo. Não só pelo outro, mas pelo que este acredita
como prioritário em sua vida.
Porém, convenhamos, é um tanto difícil convencer-se de que
uma professora universitária com tamanha bagagem intelectual seja tão frívola
em suas atitudes. Principalmente quando pensamos na sua idade e experiências
prévias de vida.
Enfim, se o filme prefere simbolizar a maturidade com o ato
de se atirar um chapéu de uma ponte, que seja assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário