quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Festival Internacional de Cinema LGBTI



Seleção de 14 filmes 
entre longas e curtas nacionais e gringos


Entre 28 e 30 de agosto, produções nacionais e estrangeiras que abordam importantes temas da diversidade sexual e de gênero são exibidas on line e gratuitamente

Por João Paulo Barreto

Começa hoje e vai até domingo, através do site www.votelgbt.org/flix,  a quinta edição do Festival Internacional de Cinema LGBTI. Com exibição gratuita e uma seleção de 14 filmes entre longas, um média e curtas metragens, a mostra trará amplo leque das produções brasileiras e estrangeiras dos últimos anos dentro do tema LGBTI. São filmes que discutem  questões relacionadas aos dramas atrelados ao preconceito, à violência e à necessidade de autoafirmação na luta por um posicionamento social das pessoas LGBTI dentro da sua orientação sexual.

São contextos ligados à arte da poesia oriunda da periferia do Rio de Janeiro (MC Jess), bem como à precisa noção do uso do corpo como meio de se afirmar dentro da sua transsexualidade (Meu Corpo é Político), dentre vários outros temas e trabalhos. Mas não somente do peso de uma existência é composta a seleção realizada pela curadoria do festival. Trazendo, também, leveza e sorrisos através de outras vivências de pessoas LGBTI em uma abordagem menos densa, a comédia dramática do Uruguai, Os Golfinhos Vão para o Leste, desenvolve a relação de um solitário gay que descobre que será avô na visita da sua filha que, até então, evitava rever. A curadoria do festival é do coletivo #VoteLGBT, que luta por uma ampliação da representatividade das pessoas LGBTI dentro da sociedade.

Cena de Meu Corpo é Político, um dos filmes da Mostra

POESIA DE AFIRMAÇÃO

No sentido de reflexão de uma sociedade menos opressora e calcada em uma hipocrisia religiosa, familiar e moralista, um dos mais impactantes e esperançosos trabalhos selecionados pela curadoria do festival é MC Jess, curta metragem de 2018, escrito e dirigido por Carla Villa-Lobos. "É uma coisa muito intrínseca à vivência LGBT a questão da família. A fase inicial da aceitação é um ponto muito marcante, e que vai dizer muito que individuo essa pessoa irá se tornar. Se ela estiver bem com a família, ela vai viver a sexualidade dela de uma forma. Se a família já não lida bem com isso, vai ser uma outra experiência. Eu quis trazer ao filme esse lugar da família também para pensarmos sobre isso. Sobre essa menina que saiu de casa porque o pai não conseguia lidar", explica a diretora e roteirista. 

Cena de MC Jess, de Carla Villa-Lobos

Na figura de uma poetisa e performer vivida por Carol Dall Farra, que sobrevive como vendedora ambulante em trens do Rio de Janeiro, mas se realiza na leitura de suas inspiradas rimas e cadências poéticas, o filme traz essa reflexão citada dentro uma possibilidade de otimismo para a realidade de quem, além de sofrer preconceito familiar por ser lésbica, precisa ultrapassar as barreiras sociais e econômicas de sua existência como pessoa negra e vinda da periferia.

A cineasta Carla Villa-Lobos

"Enquanto realizadora LGBT, o que eu tenho percebido muito nas mostras é justamente a gente estar falando também não só das personagens LGBTs, mas, também, das outras intersecções que essas pessoas têm", explica Carla acerca da importância do Festival Internacional de Cinema LGBT.   

*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 28/08/2020





sábado, 22 de agosto de 2020

The Sopranos



Questa
Cosa Nostra


MÁFIA Disponível em streaming pela HBO, Família Soprano, série que redefiniu a TV no começo do século 21, chega à segunda década de existência ainda influenciando o gênero da máfia e as novas audiência

Por João Paulo Barreto

Em figuras como Vito, Santino ou Michael Corleone, personagens criados por Mario Puzo para a vigorosa saga narrada em O Padrinho, livro adaptado para o cinema como, no Brasil, O Poderoso Chefão, a fraqueza física e emocional é algo inaceitável. Nas palavras de Don Vito: “Eu passei a minha vida toda tentando não ser descuidado. Mulheres e crianças podem ser descuidadas. Homens, não”. No original, a palavra “carelees” traz um significado ainda mais profundo do que apenas aquele relacionado a “descuido”. Em português, outra palavra que definiria aquele contexto da obra levada ao cinema por Francis Ford Coppola, seria, também, “fraqueza”. Naquele mundo de crimes, sangue, mortes, dinheiro, influência e poder, tais homens não podem ser fracos. Fraqueza física e psicológica é algo inconcebível. Vide o desfecho do quarto homem daquele clã, Fredo Corleone, em sua desesperadora e facilmente manipulável ausência de pulso.

Mas, em um exercício de cinefilia e imaginação, e se quiséssemos mergulhar mais profundamente nos tormentos psicológicos sofridos por tais homens? E nos tormentos das mulheres? Aquelas que habitam um ambiente tão machista, misógino, excludente e perverso. Quais são os pontos de vistas delas diante de tal universo massacrante? Mama Corlene, Connie, a única filha do clã, ou Kay, esposa de Michael, são todas excluídas no desenvolvimento emocional daqueles arcos (excetuando a figura de Kay, cuja participação se torna pilar na trajetória do marido – mas, veja que, mesmo assim, ela ainda vive sob aquela sombra). Mas a pergunta central nesse exercício é: e se aqueles homens não fossem as fortalezas que aparentam? Quais seriam as suas fraquezas?

Lealdade até a morte: Tony e seus capos
O diretor e roteirista David Chase, no final dos anos 1990, ao criar The Sopranos (no Brasil, Família Soprano), propôs justamente essa reflexão à sua audiência obcecada pelo mundo da Máfia no cinema. Qual é o peso daquela responsabilidade, daquela força tradicional, familiar, oriunda de uma prática criminosa milenar, nas costas do líder daquela organização (ou famiglia) que encara aquilo não como algo condenável, mas, sim, apenas como negócios? Como algo deles ou uma "cosa nostra". Na figura do chefe daquela família está Tony Soprano (papel que o saudoso James Gandolfini nascera para interpretar), homem que equilibra carisma, sorrisos e personalidade aprazível com (quando necessário) agressividade, brutalidade e respeito imposto de maneira calculista àqueles a quem comanda. No primeiro capítulo, conhecemos Tony naquele traje que se tornará habitual durante os 86 episódios da série: o roupão de banho que usa no conforto da sua luxuosa casa. É também nesse episódio piloto que sua fraqueza nos é apresentada: os constantes ataques de pânico que surgem a partir da perda de bichos que ele considerava de estimação (alguns patos selvagens que habitavam sua piscina). Nessa simples apresentação, todo um universo de discussão psicológica denotada na partida dos animais é estudado pela médica psiquiatra Jennifer Melfi (Lorraine Bracco, de Os Bons Companheiros) em sessões que visam entender o que o peso daquela vida de “negócios”, bem como os conflitos com sua mãe doente e família conturbada, têm causado à saúde mental de Tony.

ALÉM DOS HOMENS

Questões como a da culpa católica, fé, homossexualidade, conflitos existenciais, tradição vs. modernidade e até mesmo matricídio são abordadas durante as seis temporadas da série que terminou em 2007. E não somente o ponto de vista de Tony Soprano é mostrado dentro desses temas. Mesmo que, desde a sua vinheta de abertura até a simbólica cena final, o show traga a visão de mundo do chefe da família através da qual a audiência é apresentada àquele universo, Família Soprano dedica muitos de seus episódios aos dramas de suas personagens femininas. A começar pela análise de Carmela Soprano (Eddie Falco), mulher de um Tony bígamo e que reprime qualquer discussão ou questionamento trazido por sua esposa diante de um casamento que se desgasta. Ainda assim,temos na figura de Carmela mais uma personagem a destoar do que conhecemos da presença feminina na Máfia dentro do Cinema, e encontramos um dos melhores arcos e reflexões oferecidas pelo time de roteiristas liderado por David Chase no seriado vencedor de cinco Globos de Ouro.


Dentro de uma existência hipócrita, na qual reconhece intimamente que todo o luxo de sua vida advém dos crimes de seu marido, ela busca, em sua visão religiosa de mundo, atenuar sua culpa, criando vínculos sociais com a igreja e com doações financeiras generosas à universidade onde estuda a primogênita. Os filhos, ainda crianças no começo da série, são outros personagens estudados dentro daquele mundo de crime, cujo espelho acaba servindo-lhes de maneira a machucá-los quase irremediavelmente, como vimos na vida de Anthony Jr., caçula de Tony, que chega à fase adulta passando por diversos dramas e crises depressivas.

Carmela e filhos: família (não tão) feliz 

Ainda no aspecto feminino, a veterana Nancy Marchand, que interpretou Livia Soprano, a mãe de Tony, traz para a série um riquíssimo estudo de uma relação freudiana com o chefe da família que seguiu os passos do pai, o falecido marido de Livia, Johnny Soprano. Nos conflitos nervosos e calcados em uma total falta de inteligência emocional entre Tony e sua mãe, descobrimos, tanto através dos encontros explosivos entre ambos quanto pelas consultas médicas entre ele e a Dra. Melfi, que boa parte dos sentimentos reprimidos pelo chefão da máfia em Nova Jersey advém do constante atrito oriundo da criação provida por sua mãe. Algo que, desde o principio, eleva a série a um patamar especial de apreciação por permitir tal destrinchar mental de seu protagonista.

“GANHA PÃO”

“É meu feijão com arroz. Meu ganha pão. Esse é o meu meio de vida.” É assim que Tony classifica sua maneira de ganhar dinheiro durante uma violenta cobrança da dívida que um ex-amigo dos tempos de colégio, e atual viciado em apostas, fez com ele em um jogo de pôquer de alto lastro. Na tentativa de apelar para a empatia pela trajetória de vida que ambos carregam, o amigo comete o erro de abusar da falsa simpatia que Tony tem por ele e acaba sofrendo as consequências de não seguir os conselhos do colega de classe em não apostar alto.  A frase citada explica de maneira exata o modo como Anthony Soprano, em sua deturpada visão da realidade, enxerga o mundo a sua volta. Contraditório, trata-se de um homicida que se compadece da perda de animais mortos ou maltratados, algo que a série trabalha com maestria ao definir e estudar profundamente a psicopatia assassina do seu protagonista. Em seus sonhos ilustrados pela realidade surreal representada pelo texto de David Chase, Tony parece visitar uma obra de Buñel, com seus traços visuais e sonoros. Tudo na simbólica linha tênue do caos no qual sua vida caminha.


Livia e Tony: fracassada tentativa de laços familiares

Em uma série que contou com presenças de cineastas como Peter Bogdanovich, Sydney Pollack, bem como ícones na atuação como Frank Vincent, Steve Buscemi, Robert Loggia e Dominic Chianese, revisitá-la vinte anos após sua estreia e treze anos desde seu final, nos faz perceber o quanto sua relevância dentro de uma sagaz escrita e abordagem de um mundo brutal ainda fascina. Tanto quanto a obra de Puzo e Coppola, reverenciada e referenciada em vários momentos de The Sopranos.  

*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 23/08/2020




sábado, 15 de agosto de 2020

Horas em Casa

Depois de Horas

YOUTUBE Em Horas em Casa, Denise Fraga e Luiz Villaça trazem reflexões (com humor e drama) acerca do confinamento e dos absurdos que tivemos acessos nesses cinco meses de pandemia 

Por João Paulo Barreto

É curioso tentar iniciar essa matéria sem apelar para a frase "Em tempos de confinamento...", linha de abertura em tantos textos do jornalismo cultural nos últimos (quase) seis meses. Talvez seja pelo fato de não estar escrevendo acerca de saídas para tal confinamento dentro de opções de leitura, de filmes, de atividades físicas ou de trabalho para pessoas que têm a sorte de poder laborar em casa (para não usar o "inglesado" termo home office). Enfim, são opções de enxergar formas de conseguir passar pelas 24 horas do dia enquanto pessoas sãs mentalmente. Pessoas que podem ser consideradas conscientes da gravidade da situação pandêmica que muitos (o próprio "mandatário" da nação, inclusive) já pararam de encarar com a seriedade necessária. Aqui, a ideia não é trazer opções para ela, mas falar dessa realidade de clausura e como a mesma tem afetado seres humanos reclusos e, também, muitos daqueles que por necessidades urgentes e de sustento, precisam se arriscar em sair à rua. Na figura dessas várias pessoas que espelham muitos brasileiros e brasileiras está a atriz Denise Fraga, que encarna em um monólogo preciso nossas diversas angústias, preocupações, questionamentos (factuais e existenciais), além, também, de alguns poucos prazeres encontrados em uma rotina em casa de forma compulsória.


Denise Fraga em uma das suas muitas personagens de Horas em Casa

Horas em Casa, websérie semanal disponível no YouTube, foi idealizada por Denise, por seu parceiro profissional e de vida, o cineasta Luiz Villaça, bem como pelos roteiristas Rafael Gomes, Silvia Gomez e Cassia Conti, e traz a rotina não somente da atriz, mãe e dona de casa, Denise. Em sua maneira enérgica e de um carisma singular, enxergamos em Denise Fraga a presença de professores, de entregadores, de vizinhos, de filhas e filhos, de pais de adolescentes, dos próprios adolescentes, de jornalistas, de cientistas, enfim, de uma vasta gama de personagens encarnados pela atriz de maneira a trazer não somente a leveza e graça daquelas situações, mas de nos fazer refletir acerca dos muitos absurdos e tristezas com as quais nos deparamos durante os últimos meses. 

Um dos novos medos advindos com a pandemia vem dos cuidados com objetos

A ideia original para a websérie vem da peça Eu de Você, que estreou em agosto do ano passado, mas teve sua turnê suspensa pela pandemia. Nela, os monólogos trazidos por Denise Fraga e dirigidos por Luiz Villaça já levavam ao público essa ideia de perceber o cotidiano como modo de reflexão. "Foi uma peça feita a partir de relatos reais que recebemos. Lá, o Luiz falava sempre para eu ter cuidado em não fazer muito o personagem. Para eu me deixar atravessar pela vivência da pessoa", explica a atriz. Para a adaptação na proposta vista em Horas em Casa, a naturalidade do ambiente e da permanência da pessoa em sua residência, salientou a proposta. "Essa ideia que parece ser (a personagem) do jeito que está, com a cara limpa, sem peruca, sem caracterização, eu acho que tem uma concepção nisso aí que é a de que eu sou todos. Eu, Denise, sou todos. Porque eu acho que cada um de nós é todo mundo. Essa ideia de que nós somos todas as vivências e há um pouco de nós em cada um que a gente encontra", pontua a atriz.

COMÉDIA E DRAMA

Nas várias situações abordadas e direcionadas para os acontecimentos recentes, Horas em Casa consegue trazer algo além de risos pela identificação da audiência com os relatos das personagens interpretadas por Denise. Em um dos episódios, por exemplo, a vemos falar sobre a brutalidade policial na morte do menino João Pedro, em maio, no Rio. Em outro, vemos o relato de um entregador que prefere trabalhar até tarde para poder chegar em casa e encontrar a filha já dormindo, sem correr o risco dela querer abraçá-lo. O texto nos dá essa precisa noção do drama reflexivo para além da (eficiente, friso) comédia que a série propõe como foco. 

A realidade de muitos sortudos que podem trabalhar em casa: a série também aborda quem precisa sair

O diretor e co-roteirista Luiz Villaça salienta essa abordagem da série dentro do real desde o processo inicial de concepção de escrita de cada episódio. "Toda semana, nas nossas reuniões de roteiro, a gente opta por falar de alguma coisa que está nos gerando uma angústia, essa inquietude para todo mundo", explica o cineasta, exemplificando com os dois episódios citados. "A série se torna muito atual no sentido de que toda semana falamos de um coisa que está acontecendo naquele momento. E, sim, quando existem fatos com nomes reais, como foram o caso do João Pedro e o dos entregadores, tentamos, também, de alguma forma, colocar essa reflexão, essa atitude sobre o que ocorre todos os dias", complementa.

EMPATIA PELO OUTRO

As abordagens das várias personagens interpretadas por Denise Fraga trazem uma reflexão sobre como cada realidade difere na maneira como as pessoas, conscientes da necessidade de isolamento para conter o contágio, têm enfrentado o confinamento. "As diferenças se escancaram", explica Denise. "Parece que jogaram um contraste na humanidade, porque aparece (o modo) como cada um lida diferente com o mesmo problema. As diferenças ficam muito visíveis, muito acentuadas. O programa partiu disso. Dessa inquietude da gente de pensar: 'mas e a pessoa que está vivendo em 70m², com crianças de sete e seis anos tendo aula pela internet? E quem está vivendo em um cômodo com sete pessoas? É a gente ir se colocando nas diversas situações", pontua a atriz. 

O cineasta e roteirista Luiz Villaça em entrevista de 2019 sobre Eu de Você

A empatia reside em perceber que há situações extremas e criar esse laço de observar a si e ao outro. Na criação de suas personagens, a atriz destaca a importância de ficar atenta a não caricaturar aqueles seres. "É você se colocar no lugar do outro. Você se deixar atravessar pela vivência, por aquela experiência, mais do que tentar caricaturar ou compor um personagem. A gente se preocupa com isso, pois é um limite fino. O de deixar se passar por aquela vivência. O que eu penso para fazer é: 'e se fosse eu? E se eu estivesse atravessando isso?' Claro que busco dar essa diferença, um pouco de ritmo, mas eu não tento compor muitas vozes, falar muito diferente, fazer um trejeito exagerado nessa variação, porque eu acho que, assim, fugiríamos da ideia de que tudo isso somos nós. E todos nós estamos passando por isso", finaliza Denise Fraga.

*Texto publicado originalmente no Jornal A Tarde, dia 16/08/2020


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Diáspora Conecta 2020

Diáspora Lab com inscrições

somente até quinta, dia 20


AUDIOVISUAL Com cursos e laboratórios para capacitação de produtores e roteiristas negros, plataforma Diáspora Conecta oferece prêmio de R$10 mil e viagem internacional a melhores projetos

Por João Paulo Barreto

Até a próxima quinta-feira, dia 20, produtores e roteiristas negras e negros podem submeter seus projetos de audiovisual no Diáspora Lab Produção e no Diáspora Lab Roteiro, atividades da plataforma Diáspora Conecta que, em 2020, realiza sua segunda edição. As pessoas que tiverem seus projetos selecionados vão participar de diversas atividades a serem realizadas em caráter remoto, seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde em relação ao distanciamento social necessário por conta da pandemia de COVID-19. Além disso, vão concorrer ao prêmio de estímulo ao desenvolvimento narrativo no valor de R$10mil, bem como a uma viagem para a Espanha no intuito de participar do AFROLATAM LAB - Fórum de Coprodução África - América Latina, que acontecerá na edição 2021 do Festival MiradasDoc, em Tenerife, nas Ilhas Canárias.

Emerson Dindo, diretor executivo do Diáspora Conecta e idealizador do projeto, traz a experiência como produtor e presença atuante no audiovisual baiano e brasileiro nos últimos anos para mais uma edição à frente da equipe da plataforma. Emerson salienta que a mesma "tem como perspectiva essa formação, esse desenvolvimento de carreira de profissionais negros e negras no audiovisual, mas, também, para essas pessoas terem essa carreira como um horizonte", pontua o diretor-executivo. Além das atividades do Laboratório de Roteiro e de Produção, o Diáspora Conecta 2020 também trará novidades a serem divulgadas na segunda fase, próximo mês. "Procuramos nessa edição criar pontes de colaboração entre a indústria cinematográfica latino-americana e a africana, com outras atividades que vão além das do Diáspora Lab Produção e Roteiro, e que divulgaremos em setembro" , explica Emerson.

Emerson Dindo e a equipe do Diáspora Conecta na edição 2019


CONSULTORAS

As atividades do Diáspora Lab Produção têm como consultoras Joelma Oliveira Gonzaga e Tanya Valette. Experiente produtora, Joelma é sócia na Laranjeiras Filmes, além de atuar como colaborada de diversas outras empresas de produção do audiovisual brasileiro, e em obras de sucesso como Cinema Novo e Breve Mirada de Sol, ambas dirigidas por Eryk Rocha, bem como Todos os Paulos do Mundo, tocante documentário de Rodrigo de Oliveira e Gustavo Ribeiro acerca da trajetória do ator Paulo José. Já Tanya Valette trabalha como produtora executiva e é co-gerente da Monte & Culebra SRL, empresa que atua em produções autorais na região caribenha, e em co-produções ibero-americanas. Além da área de produção, Tanya atua como professora no curso de Cinema da Escuela de Diseño Altos de Chavón, na República Dominicana, tendo já dirigido, também, a conceituada Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños, EICTV-Cuba.

As consultoras do Diáspora Lab Produção, Joelma Gonzaga e Tanya Valette

No endereço www.diasporaconecta.com.br estão disponíveis informações detalhadas, regulamento e o formulários para as inscrições. As atividades do Diáspora Lab acontecem entre 06 de outubro e 26 de novembro. Lembrando que podem se inscrever produtores negros e negras com projeto de longa metragem de ficção ou documentário já em fase de desenvolvimento. As pessoas interessadas precisam já ter no currículo a produção de, ao menos, um longa ou dois curtas-metragens, ou, então, uma série de TV como produtores principais. Acesse o site e leia com atenção o regulamento. Para o Diáspora Lab Produção, até seis projetos serão selecionados, sendo três de ficção e três documentário.

No mesmo período de atividades, acontece o Diáspora Lab Roteiro. Até seis projetos para longa-metragem serão selecionados, sendo, também, três de ficção e três documentários. As consultorias de roteiro têm nos nomes de Paula Gomes e Xenia Rivery presenças importantes do audiovisual brasileiro e mundial. Paula Gomes é diretora e roteirista do belíssimo e premiado Jonas e o Circo Sem Lona, e do mais recente Filho de Boi, integrando a Plano 3 Filmes, coletivo de cinema que atua desde 2006 na produção de curtas e longas. Ao seu lado na consultoria do Diáspora Lab Roteiro está a cubana Xenia Rivery. Roteirista e professora, Xenia atuou por 13 anos na como chefa e coordenadora da Cátedra de Roteiro e do Serviço Internacional de Consultorias da Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños, EICTV-Cuba.


As consultoras do Diáspora Lab Roteiro, Paula Gomes e Xenia Rivery
  
PONTES CRIADAS

Trata-se de um evento com nomes de grande relevância e experiência na produção e roteiro do audiovisual brasileiro e mundial. A oportunidade para profissionais negros e negras interessadas no cinema como carreira se apresenta com as consultorias oferecidas pela Diáspora Conecta como guias essenciais. Dindo salienta o peso do currículo das consultoras de forma a compartilhar caminhos e possibilidades através dessa transmissão de conhecimento. "Montamos um time de consultoras latino americanas com bastante experiência. E sei o quanto isso é importante, pois, antes de mais nada, eu sou produtor. Entendo as barreiras, as dificuldades que enfrentamos para desenvolver, para captar recursos para nossos projetos. E também sendo um produtor negro que não está em um grande eixo brasileiro, busco encontrar caminhos e possibilidades para fazer com que esses nossos projetos aconteçam. Eu acredito no espaço de laboratório como esse lugar", finaliza Emerson Dindo.

*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dua 14/08/2020





terça-feira, 11 de agosto de 2020

Mostra de Cinema do Uruguai


Cinema uruguaio on line 
no Cervantes



YOUTUBE Com exibições no canal do Instituto Cervantes Salvador, centro cultural revisita filmografia uruguaia dos últimos anos trazendo obras de ficção e documentário esportivo

Por João Paulo Barreto

Até o dia 30 de agosto, os fãs do cinema de língua espanhola poderão ter acesso rápido pelo YouTube a obras oriundas do país que o grande “Pepe” Mujica ajudou a tornar símbolo de desenvolvimento. O Instituto Cervantes, escola e centro cultural voltado para a cultura de países hispânicos, promove, ao lado do Consulado do Uruguai em Salvador, a Mostra de Cinema Uruguaio. No leque, filmes que trazem desde comédia dramática focada no choque de gerações; documentário esportivo que revisita a paixão do Uruguai por futebol e sua surpreendente campanha na Copa do Mundo de 2010, além de obra focada no riso, mas com um sério viés de denúncia quanto a presença de criminosos de guerra fugitivos e escondidos  na América Latina.

Dividida em fases de exibição, cada filme ficará disponível para acesso no canal YouTube do Instituto Cervantes Salvador por um período de 48 horas. Nessa sexta, dia 14, a partir da 15h, e ficando on line até o domingo, dia 16, a sessão é da comédia dramática Uma Noite sem Lua, filme do jovem diretor uruguaio Germán Tejeira. Em um estudo voltado para adaptações ao envelhecer, novas realidades profissionais advindas da idade e ao choque de relacionamentos entre um casal divorciado cujo homem, para se reaproximar da filha, precisa conviver com a nova família da ex-mulher. Nesse ínterim, em um período de fim de ano no interior do Uruguai, a obra traz ao público o encontro desses  personagens solitários em uma tentativa de recuperar seus dias. Longa premiado como Melhor Filme Estrangeiro no Festival de Cinema de Zurique, na Suíça, em 2014.


COMÉDIA E DOC

Já a partir do dia 21 de agosto (sexta), às 15h, ficando disponível por 48h até o dia 23 (domingo), o empolgante documentário esportivo, 3 Milhões, traz a surpreendente campanha da Celeste, como é carinhosamente chamada a seleção de futebol do Uruguai, durante a Copa do Mundo de 2010, quando chegou à semi final em dramático jogo contra a Holanda. O filme é dirigido por Jaime e Yamandú Roos, pai e filho aficionados por futebol que estiveram na África do Sul durante o mundial e conviveram na energia local durante a empolgante competição. Conhecendo amantes do futebol de outras nacionalidades, em contato com atletas do Uruguai e observando como o esporte modifica vidas, Jaime, popular cantor uruguaio, e Yamandú, conceituado fotografo holandês, têm nessa ocasião uma oportunidade de estreitar os próprios laços. Filme premiado como Melhor Documentário na Mostra de Cinema Ibero-Americano da Nova Inglaterra.

Fechando a programação e ficando disponível para acesso entre os dias 28 (sexta, às 15h) e o domingo, dia 30, a comédia dramática Sr. Kaplan, filme dirigido por Álvaro Brechner, dará ao público a oportunidade de se divertir e emocionar-se com a história do senhor Jacob Kaplan, idoso com trajetória dramática de vida. O senhor Kaplan do título escapou com vida da perseguição nazista contra o povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial na Europa, e se refugiou no Uruguai. Enfrentando uma crise existencial advinda da velhice e da aposentadoria, Jacob se vê diante de um fantasma do passado ao deparar-se com um possível fugitivo nazista escondido na mesma região onde vive. Ao lado de um inesperado ajudante, Sr. Kaplan decide não procurar o polícia, mas conduzir ele mesmo a investigação.



CURADORIA

Lorena Garcia, cônsul do Uruguai em Salvador, salienta que a escolha dos filmes é um convite "a refletir sobre diversos temas relevantes, como o amor, o tempo, os valores sociais e as decisões pessoais, assim como ingressar na identidade cultural uruguaia ao se adentrar na paixão pelo futebol e a música". Sendo uma iniciativa do Instituto Cervantes junto ao Consulado do Uruguai em Salvador, a Mostra é uma oportunidade de acesso à cultura uruguaia pelo público. "Diversos filmes foram apresentados mostrando as costumes nacionais, em relação ao nosso carnaval e outras festas tradicionais", pontua a cônsul uruguaia em Salvador.

A Mostra acontece de modo virtual por conta da necessidade imprescindível de isolamento social que advém da pandemia de COVID-19. E tal possibilidade traz um alcance nacional destacado por Lorena Garcia.  "Em outras oportunidades foram realizadas danças de candombe, ritmo típico do nosso país, e até destacados artistas de tango viajaram especialmente desde Montevidéu para atuar no auditório do Instituto Cervantes.Neste momento, as condições para desenvolver uma mostra presencial não eram as adequadas. Nesse sentido, foi acordado que o ciclo de cinema fosse online, com o propósito de ter alcance para todo o território do Brasil", finaliza.

SERVIÇO
Mostra de Cinema Uruguaio
Onde: Canal YouTube Instituto Cervantes Salvador
Quando: Até dia 30/08 (sexta a domingo)



*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 12/08/2020