(Genius, EUA,
2016) Direção: Michael Grandage. Com Colin Firth, Jude Law, Nicole Kidman, Laura Linney, Dominic West.
Por João Paulo Barreto
Dentro de uma reconstrução histórica impecável, Mestre dos Gênios, filme de estreia do
diretor Michael Grandage surpreende pelo modo intimista como o cineasta
conseguiu, já em seu primeiro trabalho atrás das câmeras, uma ótima unicidade
entre os seus protagonistas.
Na história, baseada em fatos reais, o jovem e promissor
romancista Thomas Wolfe busca, durante a depressão americana na Nova York de
1929, a publicação de seu primeiro livro, então conhecido como O Lost, mas que, após a influência do
editor Max Perkins, se tornaria o sucesso Look
Homeward, Angel.
Vivido com paixão por um inspirado Jude Law, Wolfe exala uma
determinação que se mescla bastante com uma sutil insegurança por conta da
dúvida de seu trabalho ser realmente bom. Após recusas em diversas editoras,
tem a proposta de publicação feita pela editora Charles Scibner´s Sons, na qual
o lendário Max Perkins trabalha como principal editor. Aqui, temos um Colin Firth,
sempre contido e oposto ao espalhafatoso (no bom sentido) Law, a entregar uma
atuação que inicialmente reflete sua postura pragmática em relação aos cortes
que sugere em romances em estado bruto, mas que, gradativamente, revela suas
fraquezas e inseguranças comuns a qualquer ser humano.
Wolfe e Perkins: amizade que supera o estritamente profissional |
O filme acerta ao apresentar Perkins em seu ambiente
natural, seu escritório na editora, no qual vemos as obras de Hemingway, F.
Scott Fitzgerald, dentre outras que ele editou. Ao receber os originais de
Wolfe, um calhamaço gigante de páginas, faz uma pergunta: “diga-me que isso é
por conta do espaçamento entre as linhas”. No entanto, o desanimo se transforma
em intensa curiosidade, quando começa a ler já no trem para casa os originais,
só parando de fato ao chegar à última linha.
De modo eficiente e econômico, Grandage opta por descrever a
condição familiar de Perkins em uma única sequência, quando o vemos chegar em
casa e ser recebido por suas quatro filhas e esposa. Não encontrando um cômodo
sequer que esteja desocupado para focar na leitura dos originais, ele precisa
se refugiar dentro de um closet a fim de conseguir se concentrar. Nisso,
percebe-se um interesse de todas por arte, literatura e teatro, sem a
necessidade prolixa de apresentar cada personagem individualmente e, o mais
importante, sem tirar o espectador do foco para com seu protagonista e a forma
como a dedicação irrestrita ao trabalho nem mesmo o lembra de tirar o chapéu ao
chegar.
Wolfe e Aline Bernstein: relação conturbada |
O roteiro de John Logan, experiente nome por trás de
diversos sucessos, constrói a relação entre Max e Thomas de forma a exibir um
sentimento paternal do primeiro, algo intrínseco, uma vez que vemos o editor
como pai de quatro filhas e seu desejo por um filho ser expressado pela esposa
vivida por Laura Linney. Não à toa, vemos Max arrumar um sofá cama para Thomas
ao recebê-lo em sua casa ou tranquilizá-lo acerca de qualquer má impressão que
tenha passado durante o jantar. Max quer que Thomas se sinta como parte daquela
família, ao menos na relação paternal que nutre pelo jovem gênio.
No desenvolvimento daquela amizade, o sucesso recompensa o
esforço de escrita de Thomas, que, após o êxito de 1929 com Look Homeward, Angel passa os próximos
anos contendo sua verborragia na escrita ao conseguir condensar, com a ajuda de
Max, Of Time and The River, seu
segundo best seller, lançado em 1935, e From
Death to Morning, do mesmo ano.
Pearce no papel de F. Scott Fitzgerald ilustra os problemas com a esposa Zelda |
Em uma inundação criativa, Thomas chega a escrever cinco mil
palavras por dia, algo contrastado pelo bloqueio criativo de Fitzgerald, também
agenciado por Max, mas que, desde o icônico O
Grande Gatsby, não consegue escrever mais do que quinhentas palavras em um
bom dia de trabalho. Vivido por Guy Pearce, o autor de Este lado do Paraíso é trazido à trama de modo a contrastar a
facilidade com que Wolfe parece canalizar sua criatividade para o lápis e o
papel, algo muito bem ilustrado pela direção de arte, que opta por exibir o minúsculo
apartamento de Wolfe tomado por folhas e mais folhas de papel contendo seus
escritos.
Em outro ponto, vemos Ernest Hemingway, vivido com um
carisma caricato por Dominic West, em uma cena na qual todas as marcas ligadas
a pessoa do escritor são apresentadas em tela, algo que não deixa de gerar
certa graça, divertindo o espectador. Falhando apenas no desenvolvimento da
personagem de Nicole Kidman, que vive a amante de Wolfe, Aline Bernstein, cuja dependência
afetiva para com o escritor parece não encontrar muita lógica, uma vez que seu
ciúme da relação dele com o editor contrasta diretamente com os planos que o
casal fez para que Thomas alcançasse o sucesso literário (algo que, claro, não
carece de muita lógica em um relacionamento amoroso como aquele), o roteirista
John Logan consegue, no entanto, fechar bem o caráter histórico de seu roteiro.
Dominic West em breve participação como Ernest Hemingway |
Em um final arrebatador e, mais uma vez, econômico em seu
modo definitivo e sem apelações dramáticas excessivas, Grandage encerra a biografia
de forma eficiente, não deixando de inserir um símbolo de desconstrução física
do personagem de Max que, finalmente, cedeu ao seu emocional, deixando de lado
qualquer vestígio do pragmatismo que guiou sua carreira, algo que mantinha seu
trabalho sempre presente em sua vida.
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