(Doctor Strange, EUA, 2016) Direção:
Scott Derrickson. Com Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams,
Mads Mikkelsen, Tilda Swinton.
Por João
Paulo Barreto
Os estúdios Marvel entram, com Doutor Estranho, em uma previamente anunciada nova fase de suas
adaptações cinematográficas oriundas do fértil terreno de histórias de
quadrinhos pavimentado por Stan Lee, Steve Ditko e outras mentes geniais que
criaram um palpável universo de personagens e arcos dramáticos fascinantes.
Aliás, muito da marca vista em todos os longas anteriores do
estúdio são reforçadas neste novo exemplar da sua filmografia. O que, claro,
não representa propriamente um problema. No entanto, após tanto aprendizado, já
teria sido a hora de demonstrarem conhecimento com os próprios erros anteriores
no quesito da entrega de personagens de acordo com a antecipação criada.
Não que haja algum problema com a encarnação de Stephen
Strange, o brilhante cirurgião na pele de Benedict Cumberbatch, que parece ter
nascido para o papel. O problema está na criação de um antagonista à altura de
seu herói. Não se trata de Mads Mikkelsen, aqui bastante eficiente no papel de
Kaecilius, um dos mestres que previamente foi discípulo da Grande Anciã vivida,
também de modo bem convincente, por Tilda Swinton, mas que aderiu ao poder da
Dimensão Sombria (erroneamente traduzida no Brasil como Dimensão Negra).
Kaecilius deseja invocar o poderoso Dormammu, entidade que domina a tal
dimensão, na qual o tempo não existe. E é aqui que o filme decepciona um pouco.
Mads Mikkelsen como o soturno Kaecilius: boa presença |
Nesse ínterim, o arrogante, porém indefectível cirurgião
Doutor Strange, sofre um grave acidente de carro que o deixa impedido de usar
as próprias mãos. Na busca por uma cura, acaba chegando ao templo de Kamar-Tal,
em Katmandu, no Nepal, onde, após uma traumática e violenta iniciação forçada
pela sua prepotência, convence a Grande Anciã a treiná-lo nas forças ocultas da
magia.
Repleto de efeitos especiais que remetem ao longa de Christopher
Nolan, A Origem, (do mesmo modo como suas cenas de luta em cenários
giratórios), Doutor Estranho consegue
não depender tanto de suas intervenções visuais em CGI e cria um bom
desenvolvimento dos laços entre seus personagens, como ao inserir uma relação romântica
entre Strange e a sua colega Christine Palmer (McAdams), ou quando utiliza um
belo momento de reflexão acerca da relatividade do tempo na cena em que um dos
personagens tem uma morte traumática.
A Grande Anciã mostra onde a arrogância de Strange deve permanecer |
Além disso, na inserção do humor, seu roteiro mantém um bom
ritmo em piadas que não chegam a se tornar uma marca irônica constante do
protagonista, como no Tony Stark de Downey Jr., mas que cria uma boa química
entre os personagens (vide o momento em que o nome de Adele e de outros famosos
sem sobrenome são citados).
Ao utilizar as supostas dimensões terrenas como gags visuais
eficientes, o filme acerta bastante no seu tom entre a ação, o drama e a comédia,
usando um mesmo artifício em três saídas diferentes: na já citada postura de um
dos personagens diante da morte; nas cenas e luta entre o Strange e um dos
aliados de Kaecilius e, no melhor uso do artifício, quando o protagonista
conversa com a Dra. Palmer enquanto esta tenta salvar sua vida diante do seu
corpo desacordado.
Dra. Palmer (McAdams) conforta Strange após acidente |
Em seu final, a percepção de um saldo positivo do filme é
inconteste, muito devido ao carisma de Cumberbatch, que, como a comparação
anterior já disse, traz um contra peso eficiente ao que já nos habituamos a ver
na presença irônica de Robert Downey Jr.
Uma pena que a entrega do tal vilão que ouvimos falar durante
todo o filme seja tão decepcionante tanto em sua presença física, quanto no
modo pretensamente criativo de se criar um final pegadinha para o espectador e
para o próprio vilão, que parece tão surpreso (no lado negativo da palavra) com
aquela proposta quanto nós sentados na poltrona do cinema.
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