domingo, 5 de agosto de 2018

Último filme de Conceição Senna será exibido no Cine Ceará


Veterana cineasta baiana encerra carreira como diretora com doc Anjos de Ipanema

Cineasta baiana lança terceiro e último filme no Cine CE 2018

Por João Paulo Barreto

Começa neste dia 04, e segue até domingo, 11 de agosto, a vigésima oitava edição do Cine Ceará, evento que trará diversos destaques da produção ibero-americana, dentre eles o filme da diretora baiana Conceição Senna, Anjos de Ipanema. Terceiro documentário dirigido pela realizadora de 81 anos, o longa aborda a história da contracultura presente no Rio de Janeiro durante a década de 1970 com foco no Pier de Ipanema, ponto de encontro de diversas personalidades do cinema, da música, do teatro e da literatura na capital fluminense.

Conceição Senna teve papel importante na filmografia baiana, atuando em obras precursoras como o censurado Caveira My Friend, o marco da ficção cientifica do estado, Abrigo Nuclear, filme de Roberto Pires, além do seminal Iracema – Uma Transa Amazônica, noa qual atuou sob a batuta do companheiro de longa data, o também baiano Orlando Senna. Anjos de Ipanema é definido por ela mesma como a conclusão de seu ciclo cinematográfico como diretora. “É o meu terceiro e último filme. Nos três, eu busquei de alguma forma abordar as transformações que passavam as cidades onde vivi”, explica.

TRAJETÓRIA

Anteriormente, ela dirigiu Memória de Sangue e Brilhante, documentários que abordam transformações em duas das mais importantes cidades da Bahia. O primeiro, de 1987, trata de Canudos e dos descendentes diretos do povoado que foi massacrado pelo exército durante a insurreição liderada por Antonio Conselheiro. “Foi a cidade onde eu cresci. Para fazer o filme, eu vim de Cuba, país onde morava à época. Reencontrei as minha memórias. Aquilo ali era território de guerra. Quando criança, nós achávamos as balas dos conflitos”, relembra a cineasta.

Brilhante, segundo filme de Conceição Senna, abordou as gravações de Diamante Bruto, filme dirigido por Orlando Senna em 1977. “Quando Orlando esteve lá em Lençóis para filmar Diamante Bruto, a cidade estava desmoronando. Ele captou muito da beleza do lugar. O filme deu muita visibilidade a Lençóis. Tanto que, hoje, trata-se de um dos pólos turísticos principais do Brasil”, salienta. Dirigido em 2006, o documentário Brilhante revisitou as pessoas que participaram do longa de 1977, que tinha José Wilker como protagonista,  e, através de uma criteriosa seleção de material de arquivo, entrega uma reflexão sobre a relação dos moradores tanto com a produção do filme como com a ascensão que a obra deu à cidade. “Em Brilhante, eu quis abordar o mote do ‘pode um filme transformar uma cidade?’, uma vez que foi justamente isso que o trabalho de Orlando fez”, afirma.

QUADRILÁTERO BAIANO

Com seu novo doc, Conceição afirma ter encerrado sua contribuição cinematográfica. Sendo baiana, a cineasta também salienta que o foco do filme teve um salientar para o chamado “Quadrilátero Baiano de Ipanema”, quarteirão formado por ruas cujos nomes levam homenagens a heróis da História da Bahia.  “Após homenagear Canudos e Lençóis, foquei no Rio, cidade onde vivo. Em Anjos de Ipanema, eu captei depoimentos de personalidades que viveram aquele movimento intelectual que teve seu centro no Pier de Ipanema ”,  comenta. Dentre as falas, Maria Gladys, Evandro Mesquita, Graça Medeiros, Luiz Carlos Maciel, pessoas que viveram aquele período de efervescência. “Foi uma época marcante culturalmente, onde as pessoas falavam muito de amor, paz, solidariedade, coisas em falta nos dias de hoje”, conclui.


*Matéria publicada originalmente em A Tarde, dia 05/08/2018
  

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