quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Limonada

(Lemonade, Romênia, 2018) Direção: Ionana Uricaru. Com Mãlina Manovici, Dylan Smith, Steve Bacic.


42ª MOSTRA SP – Sem pieguice ou maniqueísmo, Limonada traz um potente retrato 
da condição do imigrante nos EUA de Trump

João Paulo Barreto

Um dos grandes filmes da Mostra, distante de todo hype que as obras vencedoras em grandes festivais trazem, o romeno Limonada é daqueles pequenos diamantes a serem garimpados entre as badaladas sessões, mas que, uma vez descoberto, seu brilho tarda a abandonar o espectador.

Exato ao abordar a condição do imigrante em terras ianques durante o governo Trump, o filme cria um ritmo fascinante de tensão e afeto do espectador pela condição de sua protagonista, a romena Mara (vivida com uma mescla de aspereza e doçura por Mãlina Manovici). Mara casou-se com um americano e, agora, aguarda pela resolução do seu Green Card. No entanto, ao ser assediada e abusada sexualmente por um agente do setor de imigração, sua apreensão  aumenta por conta da chantagem que passa a sofrer.
Com um ritmo preciso em diálogos cuja exatidão hipnotiza o espectador diante daquele drama, a diretora e co-roteirista Ioana Uricaru cativa pela simplicidade e pela força do seu texto. O embate entre a protagonista e o predador sexual dentro de um carro é sublime, criando no público um fascínio por aquele drama, mas que não deixa de causar asco diante da postura doentia e miserável do perpetrador.

Mara e Drago: insegurança em uma constante busca por uma vida melhor

REFLEXOS DA ERA TRUMP

Sem saídas convenientes para as resoluções do drama pessoal de Mara, Limonada, em seu título a fazer uma referência a um dos símbolos culturais do bem-estar estadunidense, mas que também esbarrando na acidez e amargor que ela atravessa, torna-se um brilhante relato da experiência do estrangeiro na terra do tio Sam, que, mesmo seguindo trâmites legais, é humilhado e menosprezado.

 “Mesmo quem odeia esse país quer morar aqui”, explica um personagem. É justamente disso que Limonada trata. Uma condição doentia imposta por uma nação cujo chefe de estado é declaradamente xenofóbico e racista, e que seu modo de agir influencia negativamente diversas partes dessa pirâmide social. Observe, por exemplo, o personagem de Moji, o assediador que trabalha no departamento de imigração. Seu nome entrega uma origem estrangeira, sua história de vida entrega uma origem pobre. No entanto, o poder concedido por sua ascensão social denota sua verdadeira natureza.

Potente em sua mensagem de luta da sua protagonista feminina ao não colocá-la em momento algum como alguém que se vitimiza, mas que prefere lutar contra aqueles abusos, Limonada se torna um símbolo não somente de uma batalha feminina contra a submissão, mas a de pessoas em busca de dignidade.  

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