(The Girl in the Book, EUA, 2016)
Direção: Marya Cohn. Com Emily VanCamp, Michael Nyqvist, Ana Mulvoy-Ten.
Por João Paulo Barreto
Existe uma análise bem relevante proposta por A Garota do Livro. Tal ideia está na
premissa que filme tenta levar à frente ao iniciar uma discussão acerca dos
traumas psicológicos que a pedofilia, o abuso de vulneráveis e, tão grave
quanto, a ausência familiar em tais situações podem causar.
No entanto, talvez por preguiça da roteirista e diretora
Marya Cohn, tal tentativa de apresentar em seu filme algo que fugisse do banal
e raso ciclo do “1) apaixonar-se; 2) pisar na bola; 3) perder a pessoa amada; 4)
consequente fossa; 5) luta pela reconquista; 6) previsível final feliz” acaba
ficando em segundo plano justamente por essa proposta simplista com a qual o público
se depara no desenvolvimento da trama.
Curiosamente, é justamente por perceber sua possível
profundidade que a história da agente literária Alice Harvey (VanCamp) capta um
pouco da atenção do espectador. Filha de um editor de livros de sucesso, a
jovem é estimulada desde cedo a dar vazão à sua veia de escritora. Quando Milan
Daneker (Nyqvist), um dos autores agenciados por seu pai passa a servir como
tutor intelectual no desenvolvimento de sua escrita, fica óbvio que o interesse
do escritor naquela relação passará a ser um pouco mais do que avaliar os
textos da bela adolescente de dezesseis anos.
Predador e caça: Daneker manipula os sentimentos de Alice para ter material |
E o filme até ameaça construir de modo pertinente a
situação, colocando ambos em um visível desconforto diante dos sentimentos que
começam a aflorar, em uma clara tentativa de não rotular vilão e vitima naquele
enlace. Claro que, pela própria natureza do fato e pela repulsiva manipulação
que se descobre existir por trás das ações de Daneker, qualquer empatia nesse
desenvolvimento se torna impossível, principalmente ao conhecermos as
consequências psicológicas que aquela relação trouxe para a vida da jovem.
Já adulta, inclusive, Alice acaba por se ver agindo na mesma
posição de seu agressor, quando seduz um adolescente. Tal fato, de certo modo,
corrobora a ideia de que, em algum ponto, o roteiro de A Garota do Livro tentou elaborar uma discussão mais contundente a
respeito dos traumas relacionados à sua premissa, mas a preferência por tornar
o longa maleável e adocicado para a audiência tornou mais atrativa para a
diretora toda a fraca trama secundária abordando a reconquista do namorado
traído no gesto impulsivo de Alice.
Alice e o começo da superação de seu trauma |
Mas até que valeu a pena por podermos confirmar que crescer
é, de fato, um termo bem subjetivo, ainda mais quando vemos a protagonista
criar um blog do tipo “100 razões para você me perdoar” e colocar como uma
dessas razões a ideia de que ela, agora, “está pronta para crescer”.
Tal ação confirma bem esse fato. E qualquer percepção de
profundidade naquela história caiu por terra em algum momento dos incrivelmente
longos 86 minutos de projeção.
Ótima análise do filme!
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