(The Dark Tower, EUA,
2017) Direção: Nikolaj Arcel. Com
Idris Elba, Matthew McConaughey, Tom Taylor.
Por João
Paulo Barreto
Existem dois modos de se abordar A Torre Negra, filme que tenta adaptar a série de livros criada
durante mais de trinta anos pelo escritor estadunidense Stephen King. Um é sob
a óptica do puro entretenimento cinematográfico, algo que, com a ideia de se
tratar de um rápido programa de 90 minutos, até que pareceria promissor como uma
produto fugaz para divertir o espectador não familiarizado com a obra literária.
Mesmo já tendo lido todos os sete livros da série (sem contar o seu retorno
àquele universo em 2012, com O Vento Pela
Fechadura), foi com isso em mente que entrei na sala de cinema. Afinal, é preciso
lembrar-se que se trata de mídias e propostas distintas.
A esperança era de que, mesmo sabendo ser impossível com a metragem
de uma hora e meia, o diretor Nikolaj Arcel conseguisse algo fluído de sua adaptação.
Quem sabe o público poderia receber uma
história de ação redonda, que extraísse, ao menos, alguma essência do clima de
faroeste que o livro possui, ou talvez, reconhecendo o vasto universo que se
propunha a abordar, se centrasse apenas em um trecho inicial do seu riquíssimo material
previamente existente. Van esperança, infelizmente.
McConaughey exercitando a canastrice |
O que acontece de errado aqui reside prioritariamente em uma
total ausência de cuidado no que tange à fonte escrita por King. Além disso,
percebe-se uma inconcebível falta de planejamento no roteiro escrito pelo
próprio diretor e por mais três (!) pessoas, dentre elas Akiva Goldsman, famoso
por errar bem mais que acertar em seus roteiros adaptados, além de sempre ser
chamado para tapar buracos em projetos que já começam equivocados.
Ao percebemos que esse modo de abordagem caiu por terra, a
solução é, se o espectador conhece o livro, tentar caçar algum traço da
narrativa que remeta à riqueza do calhamaço escrito por King. E olha que é uma
tarefa difícil. O filme busca comprimir na sua curta metragem um material
original de quase quatro mil páginas, tudo para que, ao seu final, seja
resolvido um embate entre dois antagonistas cujo aprofundamento não acontece em
nenhum momento.
Idris Elba, apesar da escolha ideal para viver o pistoleiro
Roland Deschain, pouco pode fazer diante de
tamanha inexpressividade no
desenvolvimento de seu personagem. Sabemos se tratar de um ermitão que vaga por
uma terra devastada e que persegue um vilão bem vestido e maquiado vivido por
um caricato Matthew McConaughey. Este deseja, sabe-se lá por qual razão,
derrubar a tal torre negra do título. Para isso, utiliza feixes de energia extraídos
da cabeça de crianças (!?) e direcionados para a estrutura da torre que,
supostamente, ninguém sabe onde fica (afinal, é a busca por ela que move a história),
mas ele consegue colocá-la facilmente como um alvo.
Idris Elba e Tom Taylor - Talentos desperdiçados em meio a um filme medíocre |
Uma dessas crianças, o garoto Jake Chambers, vivido por um
eficiente Tom Taylor (mais um a não ter seu potencial devidamente explorado em
meio à mediocridade da produção), acaba sendo o elo entre esse mundo devastado
e a realidade atual como a conhecemos, vagando entre portais que, enquanto nos
livros eram tratados de modo misterioso, valorizando suas inserções, aqui são
tão banais que se tornam piadas em certos momentos do filme. Some-se a isso a
tentativa preguiçosa de se inserir uma origem para o personagem de Elba (sim,
em 90 minutos, Arcel consegue achar tempo para uma trama paralela), e o que fica
é aquela sensação de desanimo por mais uma obra de Stephen King entrar para o
rol de mediocridades cinematográficas.
Apesar da ideia de se desenvolver uma minissérie após o
lançamento do filme (algo improvável, agora), o mal já está feito. Fica a
esperança de que It – A Coisa, próxima
adaptação blockbuster do escritor, não
siga pelo mesmo caminho de deixar de lado a estrutura literária que a fez dar
certo. A Torre Negra poderia ter sido
um clássico instantâneo à altura de O
Senhor dos Anéis. Acabou se tornando um desastre de 90 minutos.
PS. Em certo momento do filme, vemos um pôster de Rita Hayworth
preso a uma parede que, por atrás,
esconde um túnel. Apesar de toda a decepção do filme, é divertido perceber
essas piadas com o universo do Stephen King.
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