segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Aquaman

(EUA, 2018) Direção: James Wan. Com Jason Momoa, Amber Heard, Patrick Wilson, Willem Dafoe, Nicole Kidman.


Por João Paulo Barreto

Abismos desbravados

Novo filme da DC/Warner, Aquaman prova a força de um personagem subestimado

Enxergar ecos de Ben-Hur em Aquaman, novo filme da DC Comics a desembarcar nas telas com o costumeiro domínio de arrasa quarteirões a tomar centenas de salas, pode soar como exagero, mas foi justamente o que me veio à mente durante a projeção da obra. Na história, o exilado Arthur Curry, filho da rainha Atlanna, monarca do reino de Atlântida, que o concebeu após ter fugido de um casamento forçado e conhecer o humano Tom Curry, é convocado ao reino quando o seu tirano irmão, o Rei Orm, deflagra seus planos da destruição do mundo da superfície. Negando-se a aceitar sua origem real, Arthur inicialmente não cede ao clamar da militar Mera, que segue em sua busca na superfície. No entanto, acaba por desafiar o irmão pelo trono real.

As semelhanças entre os filmes parecem se encerrar aqui, mas o que a profundidade deste embate entre irmãos, que remete tanto ao peso entre Judah e Messala, traz para o longa dirigido por James Wan, é o que mais chama a atenção para além do espetáculo visual que os efeitos especiais proporcionam. Na relação entre Orm (Patrick Wilson) e Arthur Curry (personagem que Jason Momoa genuinamente se diverte ao interpretar), está o que de real merece destaque dentro de toda plasticidade que, em alguns momentos, tem sua artificialidade percebida no decorrer das quase duas horas e meia de filme. Mas, nada que prejudique a intenção da grandiosidade que os diversos ambientes que o filme constrói nos trazem em todo sublime CGI.

Mas volto a citar a relação entre Arthur e o irmão como algo que se sobressai diante de todo o contexto da obra. Ao observar a megalomania de Orm, que manipula fatos, cria confrontos na gana gerar guerras que alimentem seus interesses e assassina líderes para forçar seus exércitos a se tornarem aliados, muito de um cenário catártico atual pode ser vislumbrado. Esconder-se por trás de tamanha agressividade, porém, não impede que sua fragilidade como líder seja perceptível. A vaidade, porém, é o que se torna mais evidente e é a partir dela que seu poder e popularidade se espalham. A sequência da primeira luta entre os irmãos, quando uma arena lotada urra a favor do rei e contra o forasteiro, torna essa vaidade perceptível. Por consequência, essa mesma vaidade denota sua fraqueza e consequente derrocada, algo que o filme traz bem, apesar do clichê, ao apresentar o medo de seu protagonista diante de seu maior desafio.

Embate entre irmãos

DC MENOS SOMBRIA? 

Tendo em seu universo cinematográfico recente um tom sombrio como marca, algo valorizado pela estética de filmes como Homem de Aço e Batman v. Superman, Aquaman até ensaia ir contra corrente da DC Comics, ao optar por cenários e tons mais ensolarados, mas ainda é nas trevas que suas melhores sequências acontecem. Uma delas particularmente enche os olhos, quando Mera e o herói protagonista precisam descer até profundidades absurdas do oceano enquanto são perseguidos por seres que remetem muito à criatura Alien, criada por H.R. Giger, algo que funciona muito bem na criação de um ambiente de terror com o qual o diretor James Wan tem muita familiaridade.

Mas, claro, trata-se de uma obra cuja cidade principal onde a trama se passa se chama Atlântida e, como todos sabem, é um reino submerso. Logo, as luzes e toda grandiosidade épica é bem salientada pelo filme, pontos perceptíveis pelos vastos cenários digitais que o longa traz, ilustrando a chegada do protagonista ao reino e apresentando ao espectador a magnificência do cenário digital. Em certos momentos, O Segredo do Abismo, jovem clássico de James Cameron vem à mente, principalmente na cena citada acima, quando a descida às profundezas pelo casal enche a tela e quando o contemplar de Atlântida faz o mesmo, com as criaturas aquáticas bailando diante do olhos.

O espetáculo visual de Atlântida

TRANSPOSIÇÃO ACERTADA

Tido por anos como um personagem sem muito teor cinematográfico, principalmente por conta das adaptações para desenho animado Superamigos, que o limitavam de forma secundária diante dos medalhões Batman e Superman, além, claro, da impossibilidade de utilizar o fundo do mar como cenário do modo como foi visto agora, Aquaman encontrou no cinema uma versão que se aproximou bastante da dramaticidade vista nas páginas recentes da DC Comics, bem como nos anos 1990, quando Arthur Curry decepou a própria mão e a substitui por um arpão (arco que possivelmente aparecerá em alguma sequência). Muito dessa atmosferase deu pelo tom mais brutal trazido por Jason Momoa, com sua presença ameaçadora, mas que balanceia muito bem com uma veia cômica. Até mesmo as piadas do seu poder ser “falar com peixes” foram utilizadas, em um momento que referencia Pinóquio de modo hilário.

Com diversos ambientes e mundos na narrativa, o que bebe muito na fonte Tolkieniana, Aquaman se apresenta como uma eficiente aventura, provando o peso de um personagem subestimado, mas que mostra bem a que veio.

*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 18/12/2018






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