terça-feira, 29 de outubro de 2019

XV Panorama Internacional Coisa de Cinema


O Cinema no Centro!


Chegando à sua décima quinta edição, o Panorama Internacional Coisa de Cinema 

começa nessa quarta e apresenta mais de 120 filmes

Por João Paulo Barreto

Mais do que um simples slogan, a frase que estampa essa matéria, O Cinema no Centro!, denota precisamente a importância do festival Panorama Internacional Coisa de Cinema na missão de trazer vida ao Centro de Salvador e a salientar a sétima arte, censurada pelo atual (des)governo, como algo central na movimentação cultual e econômica do país. Quinze primaveras cinematográficas rimam com quinze edições do festival. Debutando em 2019, a mais importante janela de exibição fílmica em Salvador começa nessa quarta-feira, dia 30, e segue até o dia 06 de novembro. Nestes oito dias, a maratona cinéfila contará com mais de 120 filmes entre curtas e longas metragens que vão ocupar três espaços, sendo dois em Salvador (o Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha e a Sala Walter da Silveira) e o Cine Theatro Cachoeirano, localizado na cidade de Cachoeira, no recôncavo baiano.

Dentre os destaques, temos logo na abertura, no Espaço Itaú- Glauber, às 20h, o escolhido para representar o Brasil na corrida do Oscar, A Vida Invisível, filme de Karim Aïnouz (de Madame Satá). O filme venceu a Mostra Um Certo Olhar, da edição 2019 do festival de Cannes, e tem recebido boas críticas por onde passa. O longa conta a história das irmãs Eurídice e Guida Gusmão (Carol Duarte e Julia Stockler), duas jovens idealistas que se tornam vitimas de uma sociedade machista e paternalista,  sendo separadas durante os anos 1950 e vivendo um envelhecimento amargo e repleto de desencontros. Aos 80 anos de idade, Eurídice (vivida quando idosa por Fernanda Montenegro), encontra cartas escritas pela irmã desaparecida na juventude. A sessão de A Vida Invisível terá a presença de Carol Duarte, além do diretor Karim Aïnouz.

Outro destaque a lotar as salas do Espaço Itaú – Glauber na abertura do Panorama é o documentário Meu Amigo Fela. Dirigido por Joelzito Araújo, o filme traça um vivo retrato do multi-intrumentista nigeriano Fela Kuti. Falecido em 1997, Fela teve grande destaque como líder político, influenciando toda uma geração africana. Após o filme, um papo com o diretor Joelzito Araújo e o público presente acontece. As duas sessões terão entrada franca com ingressos sendo retirados duas horas antes dos filmes. A noite de abertura se encerra com a apresentação musical de Okwei  + Banda Awetto. Com o setlist baseado no repertório de Fela Kuti, o show acontece no saguão do Espaço Itaú – Glauber. A entrada tem preço simbólico de R$2 (inteira).

A Vida Invisível, filme de Karim Aïnouz

DIFICULDADES E SUPERAÇÕES

Para o diretor geral e um dos curadores do festival, o cineasta Cláudio Marques, a atual conjuntura política e a guerra contra a cultura promovida pela situação governamental, tem dificultado qualquer meio de produção cultural. “Psicologicamente, foi o pior ano para se produzir qualquer coisa desde o início dos anos 2000. Estamos sendo atacados frontalmente, mas também por trás, através de uma crescente burocracia que está asfixiando a produção de eventos, festivais e filmes no país. Está cada vez mais complicado! Eles querem que a gente desista. É uma asfixia”, afirma Cláudio.

Mas a superação do Panorama como essa citada janela de importância vital para a cultura cinematográfica na Bahia, juntamente com a experiência de já ter produzido quatorze edições anteriores, tornam possível o processo de alcançar mais um ano com as já esperadas, mas não menos complicadas, dificuldades. “Nós Já sabemos como fazer o Panorama. Vamos aprimorando aqui e ali, experimentando algumas coisas. Mas, trata-se de um formato consolidado. O Panorama é vital para Salvador, em termos de abertura para o mundo. Um dos festivais mais importantes e reconhecidos do país”, finaliza o cineasta..

Clássico soteropólitano de Edgard Navarro, Superoutro terá exibição de 30 anos

COMPETITIVAS E CLÁSSICOS

Como já é tradicional, o Panorama trará mostras competitivas de curtas e longas metragens baianos, estrangeiros e de outros estados do Brasil. Dentre os destaques estão Pacarrete, filme do Ceará que conta a história da protagonista título, uma já aposentada professora de dança que sonha em organizar um grande balé para a população local. O longa foi o vencedor do Festival de Gramado desse ano. Além deste, Uma Breve Miragem de Sol, filme com Fabrício Boliveira e dirigido por Eryk Rocha, que, para o curador Cláudio Marques, trata-se de uma obra necessária para a reflexão acerca dos tempos atuais. “É um filme pessimista, triste como os nossos tempos. A vontade de cessar a experiência humana. Não é isso que queremos, mas é muito disso que vivemos.”, complementa Cláudio.

Dentre os clássicos exibidos, o Panorama fará apresentações especiais em comemoração a diversos aniversários de lançamentos. 2019 marca os 30 anos de Superoutro , clássico baiano dirigido por Edgard Navarro e estrelado por Bertrand Duarte (a arte dessa edição do festival homenageia o filme, inclusive). Além disso, Meteorango Kid- O Herói Intergalático, outro clássico baiano, dirigido por André Luiz Oliveira, chega aos 50 anos ainda mais atual. Ambos serão exibidos em 35mm. Outro destaque é  Redenção, de Roberto Pires, primeiro longa produzido na Bahia, completa 60 anos, que também contará com sessão especial, juntamente a uma mostra especial em homenagem a Glauber Rocha, que completaria 80 anos de idade em 2019. O Panorama celebra a cultura em um ano cuja lembrança de uma história cinematográfica é perseguida na tentativa de apagá-la. Mas, resistiremos.

“Rever Redenção, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, Meteorango Kid e Superoutro, filmes seminais da nossa cinematografia, em sequência, é uma oportunidade rara! É entender de onde viemos e uma chance para estabelecermos de uma maneira mais adequada o sentido dos nossos caminhos daqui para frente!”, finaliza Cláudio Marques.

A maratona cinéfila começa nesta quarta!

Pacarrete, vencedor em Gramado, terá sessão no Panorama



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