quarta-feira, 18 de março de 2020

CORONAVÍRUS - Fechamento dos Cinemas

Cultura e Salas Fechadas 


Com o necessário fechamento dos cinemas como forma de impedir aglomerações e a proliferação do coronavírus, a economia do setor do audiovisual sofre mais um baque 

Por João Paulo Barreto

O trágico impacto da pandemia do coronavírus, também conhecido como COVID-19, começou a ser sentido no Brasil no final de fevereiro. Após surgir na China, local onde o número de mortos já passa de 3500 e ter, fora do oriente, seu maior número de contágios e de vitimas fatais (o número de mortos já passa de 2000) na Itália, país com a população majoritariamente idosa, a doença atravessou o oceano Atlântico e já possui milhares de casos confirmados nas Américas. A primeira morte no Brasil foi confirmada na terça-feira, dia 17, em São Paulo, cidade com maior número de infectados no Brasil (mais de 150) e local onde vivia o homem de 62 anos que estava internado em um hospital particular.

Com mais de 230 casos confirmados em território nacional, as orientações para que aglomerações de pessoas sejam evitadas e os cuidados básicos com higiene (lavar as mãos com frequência, evitar o toque no rosto, usar álcool em gel para esterilização) se tornaram prioritárias. Isso, claro, mesmo que o homem com o maior cargo político do Brasil e símbolo de maior incompetência, com uma missão de desmonte da cultura e da pesquisa científica, queira minimizar a situação e incentive seu gado, digo, seguidores a ir às ruas em manifestações públicas de apoio ao seu desgoverno. 

“Com a chegada do coronavírus ao Brasil, começamos a sentir os efeitos na bilheteria e já sabíamos que, mesmo se o governo não tomasse alguma providencia, teríamos, realmente, que fechar as salas."
Suzana Argollo 


CINEMAS DE SALVADOR

No quesito relacionado ao evitar aglomerações de pessoas, as salas de cinemas de Salvador também já começam a sentir o impacto da suspensão das atividades e da ausência de programação. Fechadas desde a ontem por um período de 15 dias, através de um necessário decreto do prefeito da cidade, e por 30 dias a partir do decreto do governo da Bahia, pela primeira vez na história não haverá estreias de filmes nas telonas da cidade. O negativo impacto econômico para os estabelecimentos é palpável. Cláudio Marques, sócio proprietário e gestor do Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, na Praça Castro Alves, lembra que, em outros locais do mundo, como França, o governo local propôs subsídios como isenções de contas de energia, água e gás para toda a população. “Na Alemanha, o governo local vai subsidiar os cinemas de rua. É um momento dessa economia da maneira com ela vinha sendo tocada em muitos países, ser revista. Esse chamado neoliberalismo, todo poder ao mercado, é o momento em que talvez ele seja revisto. E talvez isso seja alguma coisa positiva, vinda dessa crise. Mas, eu, sinceramente, não sei ainda o que vai acontecer. Estamos em um momento de recessão e, mais grave, de depressão econômica. Vamos ter que esperar um pouco para saber como vamos ressurgir depois de duas, três semanas de quarentena”, afirma Cláudio.

No Circuito Saladearte, que possui cinco salas em Salvador, sendo três delas cinemas de rua, a sócia proprietária, gestora e programadora, Suzana Argollo, salientou uma queda de público de quase 70% no último final semana em comparação ao da semana anterior. “Já esperávamos, mesmo sem a pandemia, uma queda de público em março, uma vez que os filmes do Oscar tiveram seu maior público nos meses anteriores”, explica Suzana. “Com a chegada do coronavírus ao Brasil, começamos a sentir os efeitos na bilheteria e já sabíamos que, mesmo se o governo não tomasse alguma providencia, teríamos, realmente, que fechar as salas. Primeiro por um compromisso social e coletivo. Para que isso não atingisse os mesmo níveis que acontecem na Itália. Segundo porque nosso público é, em sua maioria, formado por idosos”, complementa a gestora. 

“Precisamos pensar em como manter as atividades culturais, como manter os pequenos dentro do comércio, da atividade econômica de uma maneira geral."
Cláudio Marques

FECHAMENTO TEMPORÁRIO

Tanto Suzana Argollo quanto Cláudio Marques pontuam que, diferente da rede Cinemark, que propôs um plano de demissão voluntária, o quadro de seus funcionários é uma prioridade. “A questão dos funcionários é uma preocupação nossa. De que, em um primeiro momento, não existam demissões. É uma situação difícil para todo mundo. Como manter sem ter receita? Lembrando que as duas últimas semanas já foram de diminuição radical da receita e do público aqui nas salas de cinema. Mas é um momento de ter calma para tentar pensar da melhor maneira possível”, pontua Cláudio.

No Circuito Saladearte, Suzana esclarece que a empresa está trabalhando no sentido de minimizar o impacto. “As salas terão que ficar fechadas por 30 dias, segundo decreto do governo do estado”, explica Suzana. “O que a gente pode fazer agora? Dar férias coletivas para os funcionários? Sabemos que vamos tirar os direitos dos funcionários de gozar livremente essas férias, porque, com a quarentena, ele está cerceado até mesmo no direito dele de ir e vir. Mas se nós não fizermos isso, não sabemos se depois a gente sobrevive. Queremos minimizar impactos, reduzir os danos na empresa, mas também não querermos fazer suspensão de contratos de trabalho de ninguém. Não queremos que coisas desse tipo aconteçam, como reduzir salários. Queremos fazer o máximo que puder para minimizar os riscos e os danos sem prejudicar os funcionários. Queremos ter a garantia de que eles terão emprego quando isso tudo acabar”, finaliza.

Sobre os exemplos oriundos de outros locais no aspecto de subsidio governamental voltado para a Cultura, Cláudio Marques é incisivo: “Precisamos pensar em como manter as atividades culturais, como manter os pequenos dentro do comércio, da atividade econômica de uma maneira geral. Caso contrário, vamos ter uma economia totalmente dominada pelos de fora. A estética de fora, o olhar de fora, o dinheiro de fora. E o dinheiro que vai pra fora. Isso em todos os setores”.

CINEMARK E UCI

Seguindo por uma via diferente, a rede Cinemark anunciou um plano de demissão voluntária de seus funcionários ou a opção de um programa de qualificação, no qual o empregado ficaria sem trabalhar, mas teria que realizar cursos on line, e o pagamento do salário ficaria na faixa de até 80%. Tanto a Cinemark quanto a rede UCI, em contato com A Tarde, divulgaram a carta aberta da Feneec (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas), na qual é feito um pedido aos gestores públicos para que os importantes decretos de fechamento das salas sejam feitos de forma emergencial, por conta da pandemia do coronavírus.

Sobre o imbróglio envolvendo a possível demissão de seu quadro de funcionários sem pagamento de multa rescisória, a Cinemark divulgou a seguinte nota: "Em cumprimento às determinações de fechamento das salas pelas autoridades estaduais e municipais, a Rede Cinemark suspendeu o funcionamento dos cinemas. Diante disso, a Rede iniciou diálogo com seus colaboradores em parceria com o sindicato dos funcionários para encontrar de forma conjunta as melhores alternativas para a administração da crise sanitária e econômica.”

*Matéria originalmente publicada no Jornal A Tarde, dua 19/03/2020


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