Dylan 80
Robert Allen Zimmerman à frente da revolução iniciada nos anos 1960 |
Beatrice Zimmerman, ou apenas Beatty, mãe de Bob Dylan, tem registrada na biografia do músico, escrita por Robert Shelton, uma passagem definidora: "Quando ele estava planejando ir para a faculdade, eu dizia: 'Bobby, por que você não estuda algo útil?'. Ele dizia: 'Vou estudar Ciência, Literatura e Arte por um ano, então decidirei o que quero'. Eu dizia: 'Não continue escrevendo poesia. Por favor, não faça isso. Vá para a escola e faça algo construtivo. Consiga um diploma'", relembrou Beatty do conselho dado ao poeta sem diploma que, futuramente, iria compor Mamma, You Been On My Mind.
Beatty e Abe Zimmerman, seu pai, enxergavam pouco além dos limites que a suas próprias vidas haviam lhe concedido, sob o próprio suor, avançar. "Não critiquem o que vocês não podem entender. Seus filhos e filhas estão além de seu comando", cantaria Bob anos depois, em um paralelo inevitável que se faz aqui. Naquelas quase duas décadas em que viveu com os pais, e principalmente durante os anos 1950, o frio de Duluth e Hibbing, cidades localizadas em Minnesota, Estados Unidos, não permitia a Dylan ou a qualquer outro jovem, a rebeldia comum àquele período de efervescência em que o Rock surgia através de nomes como Little Richard, Chuck Berry, Gene Vincent e Elvis Presley. As baixas temperaturas , naquela inóspita região estadunidense, representava um equalizador de ações e de comportamentos. Não havia como alguém aspirar a ser James Dean pilotando um carro durante um racha, ou Marlon Brando, de jaqueta de couro, em cima de uma moto. A combinação de termômetros abaixo de zero, uma economia voltada unicamente para mineração e a inexistência de uma cidade para além de, no máximo, seis quarteirões, uma rua comercial e, quiçá, um cinema, não concede muita coisa além de inércia e conformismo de viver pelo vencimento das contas e pelo final do expediente ou das aulas.
Serenidade da experiência e do amadurecer |
O primeiro local mencionado acima é onde Bobby Zimmerman nasceu há exatos 80 anos. Foi criado, porém, em Hibbing. As cidades vizinhas faziam parte da região cuja principal atividade econômica à época era a mineração de ferro. A névoa do minério dominava a atmosfera, simulando o mesmo peso metálico que a tal inércia inaudita e onipresente causava a seus cidadãos. Exceto a Bobby, cujas ambições eram esmagadas por ela, bem como, quase, seus próprios pensamentos. Friso no "quase". Ainda em Hibbing, passava seus dias a ler e as suas noites a tentar captar sinais de estações de rádio longínquas. Emissoras que lhe apresentaram o citado Little Richard, aquele que mais lhe influenciou musicalmente ainda na infância, anos antes de Hank Williams e Woody Guthrie (junto com sua máquina de matar fascistas) se apresentassem como as referências primordiais da música que catapultaria aquele menino à fama alguns anos depois. Após nascer e crescer no gelado estado de Minnesota, com suas terras reviradas pela mineração, Zimmerman morreu e renasceu em Nova York, vinte anos depois, em 1960, quando desembarcou no boêmio bairro de Greenwich Village. Lá, aperfeiçoou seu cantar, dedilhar de violão e soprar de gaitas em cafés e inferninhos, primeiro sob a alcunha de Bob Dillon, nome que já usava em Minnesota; depois como Robert Allyn, para, finalmente, em 1961, batizar a si mesmo como Bob Dylan, lançando seu homônimo disco de estreia em março de 1962, com um contrato assinado pela Columbia Records.
INFLUÊNCIAS
"Um artista precisa tomar cuidado para nunca chegar a um ponto em que ache que já viu tudo. Tem sempre que entender que deve ficar constantemente em transformação. E, enquanto puder permanecer nesse estado, as coisas vão funcionar", disse Bob Dylan anos depois, por ocasião da gravação do documentário de Martin Scorsese, No Direction Home (2005), quando revisitou seus primeiros anos. Tal definição, exata em sua adequação à trajetória do cantor e compositor, norteou seus passos desde o começo. Do lançamento de seu primeiro álbum, surgiu seu registro folk herdado de Guthrie em faixas de tributo como Song to Woody, de autoria do próprio Dylan em homenagem ao cantor que motivou sua ida Nova York com o intuito de visitá-lo no hospital; e Talkin' New York, sua primeira impressão sobre a cidade que o acolhera.
Marcelo Costa e sua paixão dylaniana |
O jornalista, crítico musical e editor do site Scream & Yell, Marcelo Costa, durante o ano de 2018, escreveu um diário intitulado "Bob Dylan com Café", cuja proposta era mergulhar em um disco diferente de Robert Zimmerman por dia, à media que explorava a caixa com a discografia completa, lançada pela Columbia Records. Profundo estudioso de tal obra, Marcelo observa que "se nós olharmos o mundo hoje, rádios, TVs, a indústria cultural como um todo, o nome e a importância de Bob Dylan talvez passem despercebidos para muita gente. O que diz mais sobre o mundo moderno do que sobre Dylan. Porque Bob Dylan foi um big bang no entretenimento moderno, e, provavelmente, sem ele, a música pop teria tomado outro rumo. Sabe-se lá qual, mas não seria a mesma coisa. Porque a cultura pop moderna tem a assinatura de Bob Dylan. Os Beatles foram os grandes divulgadores da nova ordem cultural mundial na segunda metade dos anos 60, e eles estavam fazendo aquilo tudo influenciados por muitas coisas, entre elas, Dylan", afirma.
O olhar tenro do garoto que levantaria a revolução |
"SEM FIM"
A velocidade captada em uma imagem |
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