(Room)
Direção: Lenny Abrahamson. Com Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen, William
H. Macy, Sean Bridges.
Por João
Paulo Barreto
De dentro do quarto, o garotinho olha pela claraboia sem ter
nenhuma ideia do que aquilo representa. É apenas a luz do sol a iluminar o seu
mundo. Sim, todo o seu mundo representado por aquele cubículo que é tudo o que
ele conhece em seus cinco anos de vida.
Analisar O Quarto de Jack como uma experiência
cinematográfica a partir de suas técnicas de representação daquele ambiente, no
qual a direção de arte e a montagem conseguem a proeza de transformar o
minúsculo lugar em todo o universo de uma criança, é um modo pertinente de
penetrar naquela história.
Mas, diferente do pequeno Jack, sua mãe, Joy, colocada ali à
força e obrigada a criar aquela fantasia para o bem de seu filho, a
claustrofobia é inevitável. E, paradoxalmente, o espectador consegue perceber e
discernir as duas “visões de mundo” que aquele ambiente apresenta. Conseguimos
nos sentir claustrofóbicos pela óptica materna e esperançosos pela infantil.
O mundo de Jack e cativeiro de Joy |
No território técnico, esse é o primeiro grande acerto de Room,
novo filme de Lenny Abrahamson (do enigmático Frank), algo que torna
a inicial apresentação do longa menos desconfortável para o espectador que é
colocado, também, dentro daquele cubículo e é levado a experimentar, mesmo que
em pequena escala, a mesma sensação dos seus personagens.
Não há muito para se conhecer naquele ambiente, de fato. No
entanto, somos surpreendidos a cada nova camada que o lugar parece apresentar.
Isso, claro, quando o estamos vendo a partir da experiência de Jack, que
costuma dar bom dia às poucas peças de mobília como se fossem seus
amigos e brinca com um cachorro que só existe em sua mente.
Com seus cabelos longos, olhos curiosos e voz sempre
inquiridora, o pequenino descobre a cada dia algo novo, dentro da fantasia que
sua mãe precisou criar para que a vida do garotinho não se tornasse tão
insuportável quanto a sua. E descobrindo cada nuance do seu planeta, Jack (uma
atuação surpreendente de Jacob Tremblay) completa cinco anos de idade achando
se tratar aquela sua realidade.
Joy tornando aquele mundo mais palatável para Jack |
Ao gritar para pedir ajuda, Joy diz ao garoto estar chamando
por alienígenas. Ao se referir a TV, diz se tratar de mágica, do mesmo modo a origem da comida que o seu captor costuma trazer, momentos estes em que Jack precisa ser
colocado dentro do armário para não ter contato com o psicopata.
De inicio, Room trata-se justamente do modo como
somos levados àquele ambiente. É somente em seu segundo ato que percebemos o
quão ainda mais profundo é o roteiro de Emma Donoghue, baseado no seu próprio
livro. Não é segredo que ambos conseguem escapar de seu cativeiro. Mas é no retorno
ao mundo real que está a verdadeira força da obra. No quão frágil
aparenta ser a criança em relação a sua mãe, mas é justamente nele que estará a
readaptação à nova realidade de ambos.
Seja no reencontro familiar, com um inesperado confronto por
parte do avô (William H. Macy em um papel pequeno, mas tocante) e no modo como
vemos Jack entrar gradativamente em contato com todas aquelas descobertas, o
segundo ato e conclusão de Room traz uma análise do fato de que sair do
cubículo parece ter sido somente uma ação física por parte de Joy (Brie Larson),
mas que ela ainda se vê presa àquele quarto. Como em Alice no País das
Maravilhas, livro que a garota lia para seu filho, as fronteiras que ambos
precisam atravessar mesclam-se bastante às da sanidade. Afinal, para estar
dentro daquele mundo (o real e o do quarto) é preciso ser um pouco louco.
Rotina criada em torno de Jack |
Na tentativa de Joy pela sua volta, percebemos seu esforço
quase vão neste intento. Após nos habituarmos com sua aparência pálida, o
choque de a vermos maquiada e em roupas elegantes na cruel entrevista concedida
a um canal de TV, demonstra bem o contraste e a longa caminhada que ela terá
que seguir naquele retorno. O poder para voltar estará, curiosamente, naquele
que ela protegeu.
No corte das longas madeixas de Jack, algo que oportunamente
Joy usava para representar a força da criança em sua imprescindível fantasia,
denota-se que ela pertencia de forma integral a ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário