(Ich Seh Ich Seh, Áustria, 2014) Direção: Severin
Fiala e Veronika Franz. Com Lukas Schwarz, Elias Schwarz. Susanne Wuest.
Por João Paulo Barreto
Boa Noite, Mamâe, longa metragem austríaco de 2014 que chega
agora aos cinemas brasileiros, até consegue criar um incômodo clima de tensão
na história dos gêmeos Lukas e Elias, que, após receberem a mãe em casa depois
da mesma sofrer um acidente de carro que a deixou com sequelas e bandagens no
rosto, passam a desconfiar se aquela é mesmo a progenitora deles.
O longa, escrito e dirigido pela dupla austríaca Severin
Fiala e Veronika Franz, desenvolve de modo intenso uma atmosfera de suspense,
levando o espectador para nuances entre o sobrenatural e o terror meramente
psicológico. Contribui bastante o uso de um cenário extremamente hermético (no
caso, a casa onde os dois garotos vivem e mãe convalesce), com tons pastel e
pouco acolhedor para um lar no qual duas crianças moram. Além disso, colabora
para tal desconforto sensorial inserções de passeios feitos pela suposta mãe do
garoto, que entra em algo semelhante a um transe durante a caminhada.
Bandagens e ferimentos dão o tom misterioso da personagem |
Tal opção no desenvolver do longa acerta pelo envolvimento
desconfortável no qual o espectador se vê, uma vez que boa parte da trama é
desenhada pela dúvida acerca de quem seria, realmente, a pessoa por trás
daquelas bandagens a cobrir o rosto da mulher. E o filme consegue criar
momentos de real pavor em torno deste tema, como quando a vemos remover parte
dos curativos em frente ao espelho (momento testemunhado pelo menino Elias) ou
quando suas caminhadas parecem, de fato, levar a um transe sobrenatural.
No entanto, tal expectativa se perde no momento em que a mamãe retira as bandagens e notamos um rosto sem marcas ou qualquer ferimento,
o que contribui, além do comportamento agressivo da mulher, para a desconfiança
das crianças sobre a real identidade da pessoa com quem eles dividem a casa.
Momento de tensão: bandagem sendo retirada e presenciada por Elias |
Com ecos que remetem a Children of Corn, conto
assombroso escrito por Stephen King, e levado ao cinema de forma não muito
feliz, Boa Noite, Mamãe até poderia ser mais uma obra a se valer da aura
misteriosa que crianças em filmes de terror parecem possuir, mas, ao descambar
para um espetáculo de sadismo e tortura, o filme perde o controle de uma
sutiliza que se apresentava como seu principal trunfo, caso sua história
permanecesse ainda dentro daquela proposta.
Com atuações convincentes dos dois jovens atores, é uma pena que a
reviravolta no roteiro já não tenha tanto impacto junto ao público. Caso não
descambasse para algo cuja necessidade de chocar acaba, contraditoriamente,
resvalando no trivial, poderia ser um grande thriller. Uma pena.
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