Sessão especial organizada pelo CUAL - Coletivo Urgente de Audiovisual levou a Alagoinhas seis curtas que representam bem a recente produção baiana
Longe do preciosismo e de qualquer tentativa de romantizar a
ideia do cinema como agente mobilizador, eu o vejo como uma ponte para o
diálogo. Uma conexão entre as pessoas que, como presenciei no último final de
semana, se disponibilizam a sair de suas casas em um dia de sol escaldante para
conhecer uma amostra do que se tem feito aqui, no estado onde elas vivem.
Como já disseram, é a discussão e a observação que constroem
o cinema. E posso afirmar com absoluta segurança que a edição do Cine Avuadora,
projeto de exibição de curtas baianos organizado pelo Cual – Coletivo Urgente
de Audiovisual, dessa vez em Alagoinhas, conseguiu seu intento na criação de
uma ponte verbal entre os espectadores, os realizadores e os críticos presentes
na tarde do sábado, dia 27/02.
Com a projeção de seis curtas metragens, exemplos da recente
safra de trabalhos oriundos de diversas partes da Bahia, a sessão trouxe
variados temas que puderam ser explorados no papo com o público.
Ramon Coutinho, um dos realizadores do CUAL apresenta a sessão |
Desde as questões atreladas a incapacidade (que beira à
psicopatia) do homem em viver em grupo, ao descaso e ao compromisso de
profissionais da pedagogia com o ensino a alunos portadores de necessidades
especiais; passando pela invisibilidade das vitimas do abandono social, até as
questões atreladas ao egoísmo e a generosidade entre crianças afastadas pelas
oportunidades de vida ou unidas por um único contexto e realidade: a seleção de
obras exibidas no cineclube permitiu uma ampla reflexão entre os presentes.
Pesquisador Francisco Gabriel comenta os filmes |
Iniciado com Arremate, curta dirigido por Rodrigo
Luna e baseado em uma obra de Neil Gaiman, o cineclube criou de imediato uma
tensão entre os presentes, na história da passagem de um homem do âmbito
meramente vingativo, mas não menos aterrorizante, para o genocida em questão de
minutos. A comprovação da máxima “dê poder a um homem e o conheça de verdade”.
Em seguida, com O Cadeado, de Leon Sampaio, uma
fagulha na discussão acerca do compromisso pedagógico foi lançada, o que
permitiu que diversos dos presentes, ligados diretamente com a área em questão,
pudessem explanar acerca do rico tema em exemplos de suas próprias experiências
profissionais.
O crítico João Paulo Barreto comenta alguns dos curtas exibidos |
Com Carreto, de Cláudio Marques e Marília Hughes, o
encantamento do lúdico apresentado pelo filme na forma do reencontro de uma
criança com o que significa sua infância e o denotar generoso de suas atitudes,
pôde trazer um gancho na comparação com Menino do Cinco, de Marcelo
Matos e Wallace Nogueira, no qual as diferenças de classe e a criação familiar
ressaltaram um chocante egoísmo infantil.
Parte do público presente na sessão |
Destacando-se por uma seleção de curtas que foge do clichê e
do já comum hábito de criar estereótipos a representar a famigerada
“baianidade”, a curadoria do Cine Avuadora permitiu um excelente diálogo, que
contou com a presença do pesquisador Francisco Gabriel Rego e deste que vos
escreve como mediadores no papo que perdurou por mais de uma hora.
"Os meliantes no parquinho": pós sessão =P |
Nenhum comentário:
Postar um comentário