segunda-feira, 21 de março de 2016

O Jovem Messias

(The Young Messiah, EUA, 2016) Direção: Cyrus Nowrasteh. Com Adam Greaves-Neal, Sean Bean, Sara Lazzaro, Vincent Walsh, Rory Keenan, Christian McKay.


Por João Paulo Barreto

Garoto com superpoderes sofre bullying enquanto é acusado pelo valentão e aparente dono da rua de brincar com meninas. O tal grandalhão e brigão do pedaço quer demarcar território e procura confusão com o menino abordando-o de forma violenta. Após correr atrás da amiga do garoto que tentava defendê-lo, acaba recebendo o que merece.

Parece um plot de algum episódio de Smallville, série que abordava a juventude do herói que veio a terra para salvar a humanidade. Mas, não. Esse é o inicio da história de O Jovem Messias, mais um filme da Páscoa feito para agradar em cheio um segmento específico do público. Porém, diferente da estreia de duas semanas atrás, Ressurreiçãotemos aqui uma suposta originalidade na busca de um recorte da infância de Jesus Cristo, em cujo primeiro enquadramento em cena, claro, já aprece em uma óbvia moldura com a luz do sol.

E, sim, não há como negar a originalidade de sua premissa, uma vez que esta é uma fase da infância do profeta que foi pouco vista no cinema. A ideia de abordar a fuga dos judeus para o Egito por conta das perseguições do governador da Judeia, Herodes, que ordenou o extermínio das crianças devido ao rumor do nascimento de um messias, e o retorno de José, Maria e Jesus para Jerusalém, possui contornos cinematográficos, de fato.

A criança Jesus antes do peso do mundo
Os elementos estão todos ali. A busca pelo garoto cujos rumores dizem ter trazido de volta da morte outro menino que morreu ao tropeçar em uma maçã (!) atirada por satanás (!!) em cuja cena o longa não conseguiu sequer denotar a violência da queda ou qualquer ferimento na cabeça; a perseguição dos centuriões cuja lealdade para com o militarismo parece sempre muito frágil e sendo colocada à prova em todo momento; a curiosidade que todos devem possuir em saber como deve ter sido a relação familiar de Jesus, o revolucionário que desafiou o império romano. Enfim, a velha receita dos filmes que vemos entrar em cartaz nessa época. 

No entanto, o modo como o roteiro escrito pelo próprio diretor Cyrus Nowrasteh e por Betsy Giffen Nowrasteh (dupla responsável pelo incrível O Apedrejamento de Soraya M., de 2008) se excede no melodrama fácil e na utilização demasiada de temas musicais para manipular a emoção do espectador, incomoda por demais. Talvez por reconhecer a fragilidade de seu grupo de atores, cuja carência de boas atuações é notória, a trilha incidental seja tão utilizada na tentativa de se captar o sentimento que o seu elenco não consegue transmitir.

A começar por um afetadíssimo Herodes, cuja presença em cena se resume por gritos e pela desconfiança de se enxergar cobras por todos os lados. Na tentativa de dar certa profundidade ao personagem, o diretor optou por valorizar o fato deste estar sempre descalço, algo demonstrado pelos repetidos enquadramentos de seus pés, mas que, ao final, nada significa. O mesmo se pode falar de Rory Keenan, ator escolhido para viver Satanás, cuja cena principal na obra se perde por um histrionismo irritante.

O centurião Severus (Bean) se depara com o jovem messias 
Como não poderia deixar de haver, o filme traz um alívio cômico, aqui representado pelo tio de Jesus, Cleopas, irmão de Maria. Confesso que tal personagem até me agradou em sua função de fazer rir, principalmente no momento em que tem um abraço recusado pelo próprio filho, Tiago (ou James, na versão original). Já este possui um arco cuja inserção na história não diz a que veio, uma vez que toda e qualquer tentativa de se utilizar o ciúme sentido pelo garoto em relação a toda atenção especial recebida por Jesus não encontra ecos no roteiro. 

Mas, como não poderia deixar de ser, a escolha do elenco tem em seu erro principal a escalação de atores em sua maioria britânicos. A começar pelo protagonista. Com sotaque carregado, Adam Greaves-Neal até tenta trazer para sua interpretação o peso dramático que viver Jesus exigiria, mas sua voz inconfundivelmente britânica prejudica a verossimilhança de sua atuação, que já caminhava em um terreno frágil por conta de sua aparência caucasiana e diversa do povo do oriente médio, local onde nasceu o messias.

Sean Bean, porém, acaba entregando em sua performance aquilo que já conhecemos bem após vê-lo em trabalhos como O Senhor dos Anéis e Game of Thrones, o que não prejudica em nada o filme.

Apesar de inofensivo em sua função, O Jovem Messias ao menos nos traz uma explicação verbal dada pela própria Maria para a polêmica história da concepção sagrada. Não encerrou as dúvidas para com a ideia tão questionável de sua gravidez, mas ao menos já é alguma coisa.

E pensar que o longa tem como base um livro de Anne Rice..

Maria explica para Jesus a história de seu nascimento

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