(SpiderMan Homecoming, EUA, 2017) Direção
Jon Watts. Com Tom Holland, Michael Keaton, Marisa Tomei, Robert Downey Jr.,
Jon Fraveau.
Por João
Paulo Barreto
Quinze anos, seis filmes (sendo três deles verdadeiros
desastres), e parece que o aracnídeo da Marvel encontrou o seu equilíbrio entre
comédia, ação e drama de acordo com a sua fonte oriunda dos quadrinhos. O tal
retorno à casa pregado no título, com alusão à parceira entre Sony (detentora
dos direitos cinematográficos) e Marvel Studios, que pôde, finalmente,
trabalhar uma das suas mais carismáticas figuras, condiz bem com a ideia de
volta. Volta não somente à casa das ideias (aqui, provando ser a casa das boas
ideias), mas ao tom correto no explorar do personagem.
Ao enquadrar de modo convincente a presença de Peter Parker
em uma postura essencialmente adolescente (algo que falharam em fazer nos cinco
longas anteriores por conta da má escolha
dos atores), o filme de Jon Watts já acerta de cara o alvo com seu público mais
cobiçado. E neste sentido, consegue desenvolver o núcleo narrativo do
protagonista em seu ambiente escolar, cativando a empatia do público com os
dramas vistos em tela, explorando ao máximo o conceito de nerd que se destaca
em ambiente hostil (mas sem, necessariamente, apelar para os óbvios conflitos
de bullying) e utilizando esse mesmo conceito para, mais uma vez, acertar na
identificação do público alvo do filme.
Downey Jr. em participação extra em sua já perfeita química como Stark |
Em seu roteiro escrito a muitas mãos (sete pessoas, o que
nunca é um bom sinal), De Volta para Casa
erra pouco. Seus erros vêm, principalmente, do excesso de cenas que
poderiam ser definidas como clímax, algo que torna o filme um tanto inchado,
principalmente quando percebemos que tais momentos são inseridos de modo um
tanto... não queria dizer gratuito, pois as cenas até que se justificam para a
construção dos conflitos internos do protagonista diante dos desafios e dos
choques com autoridades que lhes são apresentados, mas percebe-se uma clara
sedução por vários espetáculos visuais, o que acaba prejudicando o ritmo do
filme e do seu desenvolvimento. Mas, enfim, estamos falando dos trabalhos da
Marvel Studios. O espetáculo visual é algo obrigatório.
Mas o principal acerto do filme ainda é o seu flerte com a
comédia. Desde a adaptação de Peter Parker ao uniforme que lhe foi projetado
(as piadas com a voz gutural no modo ameaça, algo que brinca com o Batman de
Christian Bale, são impagáveis) passando pela referência irônica ao primeiro
longa de 2002, dirigido por Sam Raimi, quando certo beijo icônico foi exibido,
ou mesmo o de 2004, quando o desastre em um meio de transporte é contido pelo
herói usando seu corpo quando as teias não são mais suficientes, toda a proposta de utilizar-se de um tom
cômico em sua evolução é algo muito bem vindo. Principalmente para um
personagem que tem como uma de suas principais marcas as piadas durante os momentos
de ação, algo pouquíssimo aproveitado anteriormente.
Michael Keaton em sua crível criação |
Nessa construção de graça, inclusive, é impossível não
imaginar o que um diretor que domina a cultura pop do modo como Edgard Wright
domina faria aqui. Para observar a falta que sua subliminaridade faz, perceba a
homenagem óbvia aqui feita a Ferris Buller, quando Peter Parker corre de quintal
em quintal, mas o filme, para tornar tudo mastigado para um público subestimado
e possivelmente tido como preguiçoso, prefere inserir uma TV com a mesma cena
oriunda do clássico de John Hughes. Do mesmo modo, a necessidade d explicar em diálogo claramente expositivo que o amigo Ned de Peter havia, finalmente, se tornado o escudeiro ajudante do herói, algo que ele vinha preconizando desde o começo.
Em outro ponto de acerto, porém, percebemos a inserção de um vilão
que, apesar de suas semelhanças físicas com o vivido por Willem Dafoe em 2002,
possui sua construção calcada em algo sólido, de acordo com uma proposta
inserida, curiosamente, pela DC com os filmes dirigidos por Christopher Nolan.
Sua motivação é compreensível, sua proposta de atuação no mercado de armas,
crível. Sua presença no filme se destaca em uma proposta que, apesar de um
claro foco em uma audiência juvenil, dialoga com uma análise essencialmente
adulta. Até meso a vestimenta do personagem, com aquele casaco de gola que
remete ao abutre dos quadrinhos, possui uma organicidade palpável, distante
daquela ideia baseada em vilão de seriado japonês vista no Duende Verde de Sam Raimi.
Momento de prova: construção da coragem de Peter é fluída e seus erros, inevitáveis |
Além disso, observar a contínua ascensão de Michael Keaton
em bons papéis desde seu retorno em Birdman
é algo que gera certo regozijo no espectador que tanto admira o ator. Aqui,
sua atuação escapa da armadilha de criação caricata e forçadamente voltada para
uma ideia excêntrica de personagem, algo que Jesse Eisenberg falhou com seu Lex
Luthor a aludir Ledger em Dark Knight e, do mesmo modo, Jared Leto sendo
desperdiçado no mesmo papel. Em sua
postura de vilão, Toomes está interessado apenas na sua sobrevivência e de sua
família, deixando bem claro isso no embate direto com o próprio Peter Parker,
em uma cena cuja iluminação traz um quê, muito bem observado pelo colega de
cabine Klaus Hastenreiter, de Hitchcock, com certa revelação sendo feita entregue
pelo personagem e as cores de um semáforo denotando aquela percepção e aludindo
diretamente à imagem de seu alter ego.
E, fechando, Tom Holland, jovem ator que parece se divertir
muito com a oportunidade de dar vida a tão icônica figura da cultura pop. Sua
caracterização honra o personagem, mesmo que os gadgets tecnológicos inseridos por Tony Stark em seu uniforme fujam um pouco do conceito simples do Homem-Aranha que "nunca bate, só apanha". Esse detalhe, inclusive, é muito bem utilizado pelo filme em seu último ato, quando o herói surge utilizando não o tal uniforme futurista, mas, sim sua fantasia feita a mão, algo inserido justamente como uma proposta de compensar tamanha, digamos, vantagem concedida ao adolescente em seus confrontos.
No mais, a presença de Robert Downey Jr. é,
com o perdão da expressão clichê, a sempre hilária cereja do bolo.
Finalmente.
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