Tendo como uma de suas marcas as metragens longas, com mais
de duas horas, algumas beirando as três horas de duração, Christopher Nolan acerta
ao optar por um corte conciso e calcado em uma narrativa mais enxuta (com pouco
mais de cem minutos) em seu mais recente trabalho, Dunkirk, excelente foco dado pelo diretor a um menos conhecido
episódio da Segunda Guerra Mundial.
Ao contar a história de civis moradores da região costeira
da Inglaterra que decidem, em seus barcos de passeio, resgatar soldados ingleses
e aliados sitiados pelos alemães na cidade que leva o título do filme, Nolan
traz um enquadramento bem específico, com poucos núcleos dramáticos.
Inicialmente, essa opção poderia ser vista como uma falha no desenvolvimento de
seus personagens, aparentemente superficiais em suas inserções, porém, ao
sermos apresentados àquela luta pela sobrevivência e ao modo como o episódio
histórico em si é colocado como protagonista naquela narrativa, percebemos a
eficiência na escolha do diretor. Em Dunkirk,
o conjunto de todos os acontecimentos se sobrepõe a eventos isolados, e é
justamente esse viés geral que torna cada um deles um rico e importante
recorte, parte geral de uma equilibrada e bem dosada narrativa.
Soldados observam o desespero tomar conta de um dos seus companheiros |
O diretor opta acertadamente por dividir os acontecimentos
em três pontos da batalha: “O Molhe”, espécie de píer localizado na praia de
Dunkirk; “Mar”, com a iniciativa de um pai que segue com seu barco para
resgatar soldados; e “Céu”, com a melhor das narrativas ao abordar os pilotos
nas batalhas aéreas contra o inimigo. Nesta estrutura, Nolan alterna a
construção de sua história de forma precisa, quase matemática, algo que, com a
montagem de seu habitual colaborador, Lee Smith, consegue criar um ritmo que
não atropela as situações e que, auxiliado pela enérgica e tensa trilha sonora
de Hans Zimmer, alcança uma ambientação que mantém o espectador vidrado.
No citado arco dos personagens dos pilotos vividos por Tom
Hardy e Jack Lowden, o espetáculo visual justifica a opção do cineasta em
filmar Dunkirk em 70mm. Remetendo a
videogames de primeira pessoa, nos quais a imagem exibida é a mesma do ponto de
vista do personagem, Nolan utiliza a imensidão do oceano como forma de
aproximar o público da sensação semelhante à que os pilotos estão vivenciando.
E ao colocá-los dentro de uma angústia definida pela falta total de combustível
que se aproxima, o diretor insere mais um elemento de tensão dentro daquelas já
apreensivas sequências.
Tom Hardy como um dos pilotos a garantir a segurança em Dunkirk |
Do mesmo modo, quando intercala cenas em céu aberto com
momentos claustrofóbicos dentro de porões inundados de navios, sendo a primeira
com os soldados às margens do oceano, no já citado píer, a esperar ou pela
redenção de seus salvadores ou pela aniquilação anunciada dos aviões inimigos a
bombardeá-los; ou, ainda, na segunda situação, quando a esperança de escapar
daquele terror é destroçada por torpedos a afundar embarcações lotadas, o cineasta
consegue criar uma sucessão de impactos ao espectador, que é colocado perante o
terror vivido por aqueles homens.
Há, na proposta do britânico, uma bem construída análise do heroísmo,
sendo que esta característica pode ser encontrada tanto em personagens que
buscam escapar daquele horror ilesos, se aproveitando de situações que os
beneficiem naquela fuga, ou para aqueles que tendem a esquecer da própria segurança
em prol de seus ideais. E diferente de outros exemplares do gênero de filmes
bélicos, há uma contenção no que se refere a ufanismos e lições patrióticas,
algo que ganha pontos com o espectador.
A ajuda veio dos compatriotas civis |
O que define muito bem a mensagem de Dunkirk centra-se na breve fala de um personagem ao final do filme
que, quando confrontado com o fato de os jovens que estão retornando da batalha
apenas estão ali porque conseguiram escapar, escuta um deles dizer que eles
apenas sobreviveram. Sua réplica define bem a insensatez da guerra quando este
argumenta que não há nada de errado em sobreviver.
E, realmente, não há. Soa piegas dizer que a esperança ainda rege, mas ao observar um dos soldados entrar no mar em busca do suicídio por afogamento, nota-se a importância de não perdê-la. Principalmente diante da insensatez da guerra.
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