sábado, 21 de dezembro de 2019

Star Wars - A Ascensão Skywalker



O Declínio Imperialista

Apesar de previsível em suas reviravoltas, novo Star Wars encerra com boa reflexão político-social, emoção e espetáculo visual a trilogia Jedi dessa década

Por João Paulo Barreto

Após dois filmes nos quais a emoção do reencontro com velhos personagens, bem como com elementos pilares da clássica trilogia Star Wars, se sobrepunha dentro da trama em termos de impacto junto às audiências compostas tanto por fãs fervorosos como por apenas apreciadores de ficção espacial e da saga criada por George Lucas, o fechamento da nova série de longas iniciada em 2015 sob a batuta de J.J. Abrams retorna à essência original da ideia de Guerra nas Estrelas como um contexto prioritariamente da luta de classes por sobrevivência.

Sim, basicamente, neste último capítulo da terceira trilogia, o que se propõe é colocar em evidência a ideia precisa de uma resistência indo contra um opressor (ou ideia opressora) que retorna gradativamente à sua força de dominação, tentando espalhar seu poder (ou influência) através da violência (ou de ofertas falsamente promissoras que, ao final, só beneficiarão os seus), mas que bate de frente com a união de pessoas cientes que aquele mal não pode retornar das trevas.

Sim, qualquer semelhança com a realidade, infelizmente, não é mera coincidência e, ainda mais infelizmente, aqui, na nossa galáxia do real, o Lado Sombrio da Força está vencendo. E, sim. É exatamente isso. Tomei a liberdade de salientar um contexto político brasileiro nessa crítica. Nunca é demais lembrar-se do abismo do nosso próprio “Dark Side” e pretenso “Império”.

Rey e seu momento da verdade no despertar de sua Força

UNIÃO FAZ A FORÇA

Por este caminho, é bastante pontual que em seu tomo de encerramento, a trilogia volte à premissa original do clássico de 1977, colocando como argumento central a batalha pela sobrevivência de diversos povos unidos por um ideal de vida e contra a dominação armamentícia e econômica de um Império capaz de destruir todo um planeta com o fugaz apertar de um canhão.  Neste intento, a salvação reside na jovem padawan Ray (Daisy Ridley), que segue seu treinamento Jedi dessa vez sob a batuta da general Leia Organa (Carrie Fisher), irmã de seu antigo mestre, o falecido Luke Skywalker (Mark Hamil).

No reencontro com atormentado e dúbio vilão Kylo Ren (Adam Driver), mais do que uma simples dicotomia entre os símbolos do bem e do mal é trazida pelo filme de J.J. Abrams. Aqui, encontramos o personagem do rapaz corrompido desde a infância pelas ideias maléficas daquele lado obscuro citado acima, que acaba por se tornar um patricida, mas que, gradativamente, percebe o grau da manipulação que sofreu (o que não o redime de seu crime, pontuo). Lá, a jovem conhecida como catadora de sucata, mas que se nota possuidora de um poder Jedi que, neste episódio, percebemos esconder muito mais do que o “simples” equilíbrio da Força.

Na união das duas forças manipuladas pela tentação do Lado Sombrio, exatamente o que é necessário para suprir de energia renovada tal símbolo maléfico representado pelo retorno do Império. O que vemos a seguir, porém, é o acordar de uma autopercepção: a de que a força para destruir aquele mal residia na própria jovem. Intocada, Imperceptível. Bastava a sapiência de notá-la e usá-la de maneira perspicaz. Ok, não é necessário ligar os pontos aqui para compreender o simbolismo de Star Wars - ­ A Ascensão Skywalker em tempos tão sombrios e de levantar de forças obscuras em todo planeta Terra.

Eterna princesa Leia (Carrie Fisher): despedida 

FÓRMULA VS ESPETÁCULO VISUAL

Apesar de sua estrutura previsível de reviravoltas no que tange às batalhas espaciais, o encerramento da franquia pelas mãos J.J. Abrams (um declarado aficionado pelo universo Star Wars), faz jus a um objeto de culto de diversos fã radicais, que, óbvio, torcerão o nariz do mesmo modo como fizeram para muitas coisas vistas nos dois primeiros filmes. Porém, mesmo com seus perceptíveis problemas dentro dessa previsibilidade em seu desfecho, como resolução para a saga reiniciada há quatro anos, este último capítulo entrega visualmente os melhores momentos dos três filmes que integram a trilogia.

As lutas entre Rey e Kylo Ren em um oceano revolto, por exemplo, ou o momento em que certo personagem retorna para um emocional reencontro, compõem um belo cenário para um encerramento de peso.  Além disso, vale salientar o impacto do momento em que o elmo de Vader, como a representar todo um falho e vilanesco Império, é derrubado por um golpe de ambos, Kylo Ren e Rey, trazendo mais uma eficiente metáfora para a união daqueles dois pólos da Força contra um mal maior.

E quando um filme consegue te emocionar a partir do choro doloroso de um wookiee diante da perda de um dos personagens pilares daquele universo, bom, seu intento principal conseguiu ser alcançado. E isso em uma obra que lhe impede, mesmo dentro de um universo tão fantasioso, não esquecer, para o bem ou para o mal, do Lado Sombrio que está na realidade do lado de fora da sala de cinema.

*Texto originalmente publicado no Jornal A Tarde, dia 21/12/2019



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