domingo, 7 de maio de 2017

Alien: Covenant

(EUA, 2017) Direção: Ridley Scott. Com Michael Fassbender, Katherine Waterston, Billy Crudup.


Por João Paulo Barreto

Há uma percepção de que Ridley Scott busca, em Alien: Covenant, provar ao espectador que ainda é capaz de causar a mesma sensação claustrofóbica que conseguiu criar em 1979, com a sua incursão original no terror gerado pela criatura desenhada por H.R. Giger. No entanto, apesar de conseguir trazer de volta o horror e o gore, existe uma clara perda da eficiente ambientação de mistério seguida de catarse em detrimento de um espetáculo visual calcado apenas no uso da criatura como elemento artificial de ação descerebrada.

Surpreendendo pelo fato de trazer astronautas treinados entrando em um mundo completamente desprovidos de roupas especiais (ok, sem isso não haveria filme, mas...), o roteiro de John Logan e Dante Harper até consegue criar bons momentos para os fãs do gênero, quando vemos criaturas hibridas da forma de vida alienígena clássica surgirem de dentro do corpo de dois dos tripulantes. Do mesmo modo, ao observarmos o robô David (Fassbender, excelente) chegando ao planeta originalmente habitado pelos engenheiros criadores da vida na Terra (um dos momentos mais aterradores do longa).

David em sua bem adequada postura de criador
David, a propósito, é o melhor personagem do filme. O único com um objetivo concreto, mesmo que insano, e que consegue levá-lo à frente de modo ao mesmo tempo brutal e sutil, como um titeriteiro a brincar com toda a tripulação. Seu embate com quem ele chama de irmão, Walter, vivido também por Fassbender, traz os diálogos mais marcantes da obra. Denota, ao menos aqui, um apuro na criação de Logan e Harper, quando o roteiro de ambos referencia Byron na ascensão e loucura de David em sua relação com o Rei Ozymandias.

Com suas paredes repletas de planos e desenhos aludindo ao traço original de Giger, David é o que se pode chamar de criatura embriagada pela racionalidade e pragmatismo. Curiosamente, trata-se de um ser artificial, mas repleto de malícia e dissimulação, características genuinamente humanas. Desenvolvido por um homem confrontado intelectualmente por ele logo após seu nascimento, David só demonstra emoções quando se refere ao que cria, algo que gera reflexão justamente por conta da inexistência de qualquer piedade em seus atos. Na ficção científica espacial, afinal de contas, são poucas as criaturas cibernéticas que possuem. E na execução do seu plano, passo a passo vamos observando as nuances de seu caráter.

Ação meramente visual que beira ao vazio
Ainda em relação à tentativa de inserção da sufocante atmosfera vista no original de 1979, Scott recria bem o frenético plano dos sobreviventes em prender o ser entre os corredores da nave, utilizando os espaços fechados da Covenant de forma a ilustrar a claustrofobia do espaço. Porém, toda a sequência anterior, com a criatura ainda do lado de fora, perde seu impacto justamente por conta da clara tentativa de impressionar pelo aspecto visual e grandioso dos seus elementos, algo que acaba, ironicamente, tendo o efeito contrário justamente por banalizá-los. E o fato de serem duas criaturas distintas ilustra bem o critério descartável do seu uso.

No topo disso, é lamentável ao diretor que tenha sido necessário se render a alusões sexuais no sentido de causar graça entre o público adolescente. Porém, a despeito de todas essas travas no seu desenvolvimento, Alien Covenant consegue entregar uma satisfatória experiência. Algo que seu final aterrador e longe de qualquer desfecho feliz acerta ao gerar no público pouco alento, mas muita curiosidade pela próxima continuação.



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