(EUA, 2017)
Direção: Ridley Scott. Com Michael Fassbender, Katherine Waterston, Billy
Crudup.
Por João Paulo Barreto
Há uma percepção de que Ridley Scott busca, em Alien: Covenant, provar ao espectador
que ainda é capaz de causar a mesma sensação claustrofóbica que conseguiu criar
em 1979, com a sua incursão original no terror gerado pela criatura desenhada
por H.R. Giger. No entanto, apesar de conseguir trazer de volta o horror e o
gore, existe uma clara perda da eficiente ambientação de mistério seguida de
catarse em detrimento de um espetáculo visual calcado apenas no uso da criatura
como elemento artificial de ação descerebrada.
Surpreendendo pelo fato de trazer astronautas treinados
entrando em um mundo completamente desprovidos de roupas especiais (ok, sem isso
não haveria filme, mas...), o roteiro de John Logan e Dante Harper até consegue
criar bons momentos para os fãs do gênero, quando vemos criaturas hibridas da
forma de vida alienígena clássica surgirem de dentro do corpo de dois dos
tripulantes. Do mesmo modo, ao observarmos o robô David (Fassbender, excelente)
chegando ao planeta originalmente habitado pelos engenheiros criadores da vida
na Terra (um dos momentos mais aterradores do longa).
David em sua bem adequada postura de criador |
David, a propósito, é o melhor personagem do filme. O único
com um objetivo concreto, mesmo que insano, e que consegue levá-lo à frente de
modo ao mesmo tempo brutal e sutil, como um titeriteiro a brincar com toda a
tripulação. Seu embate com quem ele chama de irmão, Walter, vivido também por
Fassbender, traz os diálogos mais marcantes da obra. Denota, ao menos aqui, um
apuro na criação de Logan e Harper, quando o roteiro de ambos referencia Byron na
ascensão e loucura de David em sua relação com o Rei Ozymandias.
Com suas paredes repletas de planos e desenhos aludindo ao
traço original de Giger, David é o que se pode chamar de criatura embriagada
pela racionalidade e pragmatismo. Curiosamente, trata-se de um ser artificial,
mas repleto de malícia e dissimulação, características genuinamente humanas. Desenvolvido
por um homem confrontado intelectualmente por ele logo após seu nascimento, David
só demonstra emoções quando se refere ao que cria, algo que gera reflexão justamente
por conta da inexistência de qualquer piedade em seus atos. Na ficção científica
espacial, afinal de contas, são poucas as criaturas cibernéticas que possuem. E
na execução do seu plano, passo a passo vamos observando as nuances de seu
caráter.
Ação meramente visual que beira ao vazio |
Ainda em relação à tentativa de inserção da sufocante
atmosfera vista no original de 1979, Scott recria bem o frenético plano dos
sobreviventes em prender o ser entre os corredores da nave, utilizando os espaços
fechados da Covenant de forma a ilustrar a claustrofobia do espaço. Porém, toda a
sequência anterior, com a criatura ainda do lado de fora, perde seu impacto
justamente por conta da clara tentativa de impressionar pelo aspecto visual e
grandioso dos seus elementos, algo que acaba, ironicamente, tendo o efeito
contrário justamente por banalizá-los. E o fato de serem duas criaturas
distintas ilustra bem o critério descartável do seu uso.
No topo disso, é lamentável ao diretor que tenha sido
necessário se render a alusões sexuais no sentido de causar graça entre o
público adolescente. Porém, a despeito de todas essas travas no seu
desenvolvimento, Alien Covenant consegue
entregar uma satisfatória experiência. Algo que seu final aterrador e longe de
qualquer desfecho feliz acerta ao gerar no público pouco alento, mas muita curiosidade
pela próxima continuação.
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