O Película Virtual conversou com o cineasta Edson Bastos, produtor e um dos curadores do Festival de Cinema Baiano - FECIBA. O resultado você confere na matéria abaixo. Boa leitura!
Amanhã, dia 08 de abril, tem início na cidade de Juazeiro mais um Festival do Cinema Baiano (FECIBA), que esse ano chega à sua sexta edição apresentando uma variedade de temas nas Mostras tanto competitiva quanto nas demais escolhas que ilustram muito bem a produção baiana de curtas metragens, bem como exemplares do que vem sendo produzido fora do estado.
Entrocamento, de Maria Carolina e Igor Souza |
Cordilheira de Amora II, de Jamile Fortunato |
Sísifo do Vale, de George Neri é um dos curtas selecionados |
Salitre, de Lara Belov |
A animação Órun Àiye: A Criaçao do Mundo |
Retomada, de Leon Sampaio |
“Um ponto da curadoria que a gente buscou ressaltar foram filmes com temas que rompessem limites sociais e políticos. Barreiras que não podemos aceitar mais. É preciso dar voz, ouvir e conhecer a história pela perspectiva negra, indígena e da mulher. É preciso ter outros representes como protagonistas dos filmes”, explica Clarissa Rebouças. Sobre a labuta da seleção, a cineasta afirma que “foi bem difícil fazer a curadoria. Neste ano tivemos uma ótima qualidade de filmes inscritos, de diversos lugares e fechar em 10 filmes realmente foi uma tarefa árdua”, completou.
Neandertais, de Marcus Curvelo |
Ana, de Camila Camila |
Ainda nesta edição, haverá uma homenagem ao pioneiro do teatro e cinema baianos, primeiro ator negro a se formar pela escola de teatro da UFBA e símbolo da luta pela resistência, Mário Gusmão. Na ocasião, será exibido o documentário Mário Gusmão - O Anjo Negro da Bahia, que conta com a direção de Elson Rosário.
Cena do documentário abordando a vida de Mário Gusmão |
Além da exibição do seu filme, Elson Rosário ministrará uma oficina de produção de elenco. Outras duas oficinas na área do audiovisual serão realizadas, entre elas a de Produção de Curta-Metragem, com a roteirista e diretora Paula Gomes, bem como a de Direção de Fotografia, com o diretor de fotografia, Jerônimo Soffer.
Outras mostras do festival vão apresentar trabalhos voltados para o público infantojuvenil, além de outros longas recentes, como os documentários A Loucura entre Nós, de Fernanda Fontes Vareille e Faz-se Filmes, de Violeta Martinez.
Outro ponto alto do evento será a mesa “A Linha de Fronteira se Rompeu” (Wally Salomão) que, nas três cidades, contará com a presença de diversos representantes do audiovisual nacional.
O Película Virtual conversou com o idealizador do festival, produtor e um dos seus curadores, Edson Bastos, acerca do projeto, do desafio de realizá-lo em três cidades, além da política de editais atualmente realizada na Bahia e no Brasil. Confira a continuação do papo logo abaixo.
O diretor, produtor, curador e um dos idealizadores do FECIBA, Edson Bastos |
Edson Bastos - Ainda não sabemos o resultado. Só no final para avaliarmos. Mas já percebemos dificuldades e limitações em realizar o projeto, agora em 03 cidades, com o mesmo orçamento dos outros anos. Acredito que a itinerância é algo importante para possibilitar acesso, sobretudo em lugares carentes de recursos e o FECIBA, por ter o papel de apresentar o que o nosso estado produz, precisa estar cada vez mais próximo dos espectadores, da população.
Juntamente com o Panorama Internacional Coisa de Cinema, o FECIBA tem conseguindo manter uma regularidade das suas edições, principalmente por conta do incentivo de editais. No entanto, outros importantes eventos, como a tradicional Jornada de Cinema da Bahia e o Festival Cinco Minutos, não aconteceram em 2015. Qual sua opinião em relação à política de editais oriunda tanto do governo da Bahia quanto do MinC?
Edson Bastos - É uma política importante, na medida em que antes, precisávamos ir ao balcão, pedir ao secretário, ou ter amizade com deputado para conseguir realizar um projeto. Os editais possibilitam a concorrência entre os produtores, que precisam cada vez mais se aperfeiçoar. Mas ao mesmo tempo, é uma política ainda excludente pois, aprova 50 projetos e exclui 250. Sem contar a concentração de recursos na Capital e Região Metropolitana (85%), uma vez que no último Edital Setorial de Audiovisual de 2013, o último aberto pelo Fundo de Cultura, apenas 15% foi direcionado para projetos do interior da Bahia. A SECULT-BA não lança editais setoriais desde 2013 (o resultado do edital saiu em 2014), estamos há dois anos sem os Editais Setoriais. Não fosse pelo Fundo Setorial do Audiovisual, do Governo Federal, as produtoras estariam paradas. Mas hoje temos, aproximadamente, 15 a 20 longas e séries de ficção, documentais e de animação, sendo produzidos nos próximos meses. É preciso haver uma continuidade, os editais precisam ser garantidos anualmente, pois são eles que têm possibilitado a realização de diversos projetos em nosso estado, têm gerado emprego, renda, além de estar mostrando uma diversidade de imagens nunca antes vista. Em contraponto é preciso pensar em outras políticas que agreguem mais, que diminuam as diferenças territoriais, que descentralizem mais recursos.
Outros eventos, como o itinerante Cine Avuadora, do CUAL, o Cineclube Walter da Silveira, em Salvador, o Cine Odé, em Ilhéus, têm conseguido manter viva a importante questão do “discutir cinema”. Você acredita na possibilidade de haver incentivos para que mais importantes eventos como estes possam acontecer?
Edson Bastos - Sim, existem incentivos em diversas instâncias, privado, público, sobretudo para o debate, a formação, muito mais que a produção. Todos esses eventos, assim como o FECIBA, foram fruto do Edital de Agitação Cultural, promovido pela SECULT-BA. Eles pegaram todo o recurso de caixa do Fundo, 15 milhões, e investiram exclusivamente nesse edital. Esperamos que neste ano de 2016, além de serem abertos os editais Setoriais de Audiovisual, que seja aberto novamente o Edital de Agitação Cultural, com o dobro do valor investido.
Qual sua expectativa para o FECIBA 2016?
Edson Bastos - Que as fronteiras sejam rompidas em todos os aspectos. Desde a perspectiva de público, à formação de mão-de-obra, aos temas dialogados, nas reflexões proporcionadas e nas ações a serem tomadas após essa edição.
Mais informações sobre o FECIBA 2016 você encontra no site do festival: www.feciba.com.br
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