terça-feira, 5 de abril de 2016

Rua Cloverfield, 10

(10 Cloverfield Lane, EUA, 2016) Direção: Dan Trachtenberg. Com John Goodman, Mary Elizabeth Winstead, John Gallagher Jr.


Por João Paulo Barreto

Rua Cloverfield, 10 tem em seu inicio uma sutil homenagem ao score dos créditos de abertura de O Iluminado, do Kubrick. Com a sequência da garota arrumando as malas e pegando a estrada (em um take oportunamente captado em plongée, salientando ainda mais a referência), a trilha aqui composta por Bear McCreary emula de forma inteligente a tensão da trilha clássica de Wendy Carlos e Rachel Elkind. Ao percebemos qual será o destino claustrofóbico da protagonista, bem semelhante ao de Wendy e Danny na obra prima, um sorriso de canto não tardou a aparecer.

Aqui está um eficiente e curioso modo de se criar uma franquia. Sem trabalhar inicialmente nenhuma das referências ao catastrófico Cloverfield, filme de 2008, o novo longa capta a atenção do espectador justamente por utilizar a premissa de seu original apenas como um pano de fundo, sem uma relação direta à trama local que aqui nos é apresentada. Há dramas mais urgentes a serem resolvidos e o fato do mundo estar sendo destruído por um monstro em Nova York não vai afetar, pelo menos inicialmente, o trio de protagonistas vivendo em um bunker abaixo do número dez da Rua Cloverfield.

Os três sobreviventes do apocalipse em seu seguro bunker
De fato, de modo inicial, seriam duas obras totalmente independentes se não fosse pelo seu título utilizar um elemento tão trivial quanto o nome de um logradouro para referenciar o ótimo trabalho anterior. Com um tratamento voltado para o drama psicológico, quando Michelle (Winstead) se encontra presa, junto a Howard (Goodman) e Emmett (Gallagher) no tal abrigo subterrâneo e passa a se perguntar o que está fazendo ali e como foi levada para aquele lugar, Rua Cloverfield prima por criar uma atmosfera de tensão que tem em um dos seus vários trunfos a sempre eficiente presença de John Goodman em cena. 

Baseando seu personagem em um viés voltado exclusivamente para a sobrevivência, Goodman acerta ao não abusar do aspecto paranoico caricatural que sua personalidade poderia ter e se faz valer do pragmatismo e de sua presença corporal para denotar justamente sua autoridade junto aos dois jovens presos com ele. Do mesmo modo, o filme acerta ao torná-lo inapto na resolução de alguns problemas no abrigo justamente por conta de seu tamanho não condizer com um local claustrofóbico como aquele. Excetuando isso, trata-se de um homem que, ao menos aparentemente, tem total controle de seu ambiente e sente-se recompensado pela construção do bunker que salvou sua vida após o suposto ataque nuclear que o mundo sofreu. E essa é a ideia que ele vende à jovem Michelle para convencê-la de que ela está em segurança, ao contrário de como estaria lá fora.

Howard (Goodman) e sua intimidante presença perante a "aparentemente" frágil Michelle
A construção do roteiro de Rua Cloverfield, 10 e o modo gradativo como o diretor Dan Trachtenberg (que demonstra uma boa mão em seu primeiro longa) nos entrega as respostas para todas as dúvidas e suspeitas plantadas durante o desenvolvimento de sua trama, criando uma notável fluidez em sua história. Aos poucos, passamos a entender tudo o que aconteceu com aquelas pessoas e como o que aparentemente ocorreu lá fora poderá afetá-las. 

Com a criação de uma heroína e sobrevivente no desenlace surpreendente de seu arco final, esse segundo capítulo se encerra de modo recompensador, demonstrando que a volta a um tema que parecia encerrado pode render uma ótima sequência se houver um bom planejamento.

Curioso pela inevitável continuação.

Um comentário:

  1. Depois pesquisa a pagina fake que referencia o Personagem do John Goodman. Campanha legal de gerar curiosidade ao filme.

    http://www.tagruato.jp/contact.php

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