Rua Cloverfield, 10 tem em seu inicio uma sutil homenagem ao score dos créditos de abertura de O Iluminado, do Kubrick. Com a sequência da garota arrumando as malas e pegando a estrada (em um take oportunamente captado em plongée, salientando ainda mais a referência), a trilha aqui composta por Bear McCreary emula de forma inteligente a tensão da trilha clássica de Wendy Carlos e Rachel Elkind. Ao percebemos qual será o destino claustrofóbico da protagonista, bem semelhante ao de Wendy e Danny na obra prima, um sorriso de canto não tardou a aparecer.
Aqui está um eficiente e curioso modo de se criar uma franquia. Sem trabalhar inicialmente nenhuma das referências ao catastrófico Cloverfield, filme de 2008, o novo longa capta a atenção do espectador justamente por utilizar a premissa de seu original apenas como um pano de fundo, sem uma relação direta à trama local que aqui nos é apresentada. Há dramas mais urgentes a serem resolvidos e o fato do mundo estar sendo destruído por um monstro em Nova York não vai afetar, pelo menos inicialmente, o trio de protagonistas vivendo em um bunker abaixo do número dez da Rua Cloverfield.
Os três sobreviventes do apocalipse em seu seguro bunker |
De fato, de modo inicial, seriam duas obras totalmente independentes se não fosse pelo seu título utilizar um elemento tão trivial quanto o nome de um logradouro para referenciar o ótimo trabalho anterior. Com um tratamento voltado para o drama psicológico, quando Michelle (Winstead) se encontra presa, junto a Howard (Goodman) e Emmett (Gallagher) no tal abrigo subterrâneo e passa a se perguntar o que está fazendo ali e como foi levada para aquele lugar, Rua Cloverfield prima por criar uma atmosfera de tensão que tem em um dos seus vários trunfos a sempre eficiente presença de John Goodman em cena.
Baseando seu personagem em um viés voltado exclusivamente para a sobrevivência, Goodman acerta ao não abusar do aspecto paranoico caricatural que sua personalidade poderia ter e se faz valer do pragmatismo e de sua presença corporal para denotar justamente sua autoridade junto aos dois jovens presos com ele. Do mesmo modo, o filme acerta ao torná-lo inapto na resolução de alguns problemas no abrigo justamente por conta de seu tamanho não condizer com um local claustrofóbico como aquele. Excetuando isso, trata-se de um homem que, ao menos aparentemente, tem total controle de seu ambiente e sente-se recompensado pela construção do bunker que salvou sua vida após o suposto ataque nuclear que o mundo sofreu. E essa é a ideia que ele vende à jovem Michelle para convencê-la de que ela está em segurança, ao contrário de como estaria lá fora.
Howard (Goodman) e sua intimidante presença perante a "aparentemente" frágil Michelle |
A construção do roteiro de Rua Cloverfield, 10 e o modo gradativo como o diretor Dan Trachtenberg (que demonstra uma boa mão em seu primeiro longa) nos entrega as respostas para todas as dúvidas e suspeitas plantadas durante o desenvolvimento de sua trama, criando uma notável fluidez em sua história. Aos poucos, passamos a entender tudo o que aconteceu com aquelas pessoas e como o que aparentemente ocorreu lá fora poderá afetá-las.
Com a criação de uma heroína e sobrevivente no desenlace surpreendente de seu arco final, esse segundo capítulo se encerra de modo recompensador, demonstrando que a volta a um tema que parecia encerrado pode render uma ótima sequência se houver um bom planejamento.
Curioso pela inevitável continuação.
Depois pesquisa a pagina fake que referencia o Personagem do John Goodman. Campanha legal de gerar curiosidade ao filme.
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