Amada por uma geração inteira de jovens leitores dos anos 1980 e 1990, a Coleção Vagalume, da Editora Ática, apresentou a diversas crianças e adolescentes do período o gosto pela leitura. Fui um deles, devorando obras como A Ilha Perdida e Meninos sem Pátria. Outro livro especial daquele período era O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida, que contava a história de um assassino de ruivos, e que, agora, ganha uma versão para o cinema que consegue emular bem o clima soturno da sua fonte literária.
Acertando na mudança da faixa etária de seu protagonista (no livro, ele é um estudante de medicina), aqui, Alberto é apenas um pré-adolescente na faixa dos 12 anos que tem no seu popular irmão, o motociclista ruivo e bonitão Hugo, a presença de um ídolo. Ao receber pelo correio o tal escaravelho do título, ambos pensam se tratar de uma brincadeira de algum amigo, mas, após ser encontrado morto com uma espada cravada no peito, Hugo torna-se a primeira vitima de uma série de crimes que Alberto, fã de programas como CSI, decide investigar.
Alberto encontra o escaravelho destinado a seu irmão |
Essa alteração na idade reflete no alcance do filme para com seu público alvo, o infanto-juvenil, que, apesar de não ter tido acesso ao livro na época da alta popularidade da coleção Vagalume, poderá se identificar bastante com os personagens na tela. Aqui, há a inserção do par romântico de Hugo, na pele da jovem Raquel. Também ruiva (a cidade, por razões convenientes, é repleta de pessoas assim), a paixão do jovem detetive não tarda a receber o mesmo escaravelho pelo correio e, também, a estar em perigo nas mãos do tal assassino que tem nas pessoas de cabelos avermelhados suas principais vitimas.
Com momentos de tensão bem construídos, como nas cenas passadas em um cemitério onde Hugo é perseguido por criaturas horripilantes e cuja explicação surge no ápice da história, O Escaravelho do Diabo cria uma boa atmosfera diante de um tema que o cinema nacional voltado para a faixa etária deste público não costuma abordar.
Jonas Bloch (Pe. Paulo Afonso) e Marcos Caruso (Del. Pimentel): bom elenco |
E esse é mais um dos acertos do diretor Carlo Milani e dos roteiristas Melanie Dimantas e Ronaldo Santos. Ao optar por não suavizar de modo exagerado o teor brutal do livro de Lúcia Machado de Almeida, mantendo certo grau de violência visual (essencial para a trama) em suas cenas, os realizadores conseguem tanto agradar os leitores adultos que conheceram a obra na adolescência quanto os jovens atuais, sem necessariamente perder de foco a qualidade da fonte original.
Trata-se de um filme eficiente, que consegue atualizar um pequeno clássico literário recente em uma trama fluída, na qual as intenções do vilão são críveis e têm um bom respaldo na realidade.
Uma boa homenagem ao livro preferido da infância e adolescência de alguns trintões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário