quarta-feira, 6 de junho de 2018

Festival Varilux de Cinema Francês 2018

NOVA ONDA FRANCESA


Com 20 filmes inéditos e a exibição de clássico de Costa-Gavras, Festival Varilux começa amanhã

Por João Paulo Barreto

A partir de amanhã, dia 07, e seguindo até 20 de junho, a mais recente safra da produção cinematográfica francesa poderá ser conferida em Salvador no Circuito SaladeArte e no Espaço Itaú - Glauber Rocha. Trata-se do já tradicional Festival Varilux de Cinema Francês, que, este ano, chega ao Brasil apresentando vinte longas metragens inéditos, além da exibição do clássico absoluto, Z. Dirigido por Costa-Gavras, o pilar do cinema político está às vésperas de completar cinquenta anos e, diante da fragilidade dos processos democráticos que vivemos no momento, permanece mais atual e essencial do que nunca em suas reflexões e capacidade de suscitar discussões.

Dentre os pontos altos da programação, o novo filme da cineasta Anne Fontaine, Marvin, traz  um dos rostos mais reconhecíveis da nova geração de atores franceses, Finnegan Oldfield, que, aqui, vive um jovem ator a rememorar os traumas de sua infância quando descobriu sua homossexualidade. O filme é um delicado encontro do seu protagonista com um período de reconhecimento e valorização da própria auto-estima.  Sobre a escolha do papel e o seu retorno ao Brasil após dois anos desde seu último filme lançado aqui (o drama Os Cowboys), Finnegan comenta que tinha esperanças de poder dialogar com o público brasileiro. “Eu queria ver o que as comunidades LGBT do Brasil teriam a dizer acerca de Marvin. É bom estar de volta.” A cineasta Anne Fontaine, que teve o drama Agnus Dei exibido no festival Varilux de 2016, exerceu grande influência em Finnegan, que reconhece ter sido enriquecedor trabalhar com uma diretora de mente aberta como ela, uma vez que se trata do ponto de vista feminino acerca da história de um jovem que se descobre gay.  A obra ainda conta com a veterana Isabelle Huppert interpretando a si mesma e servindo como parceira de palco do personagem título.

Rosto marcante do cinema francês, Finnegan Oldfield estrela Marvin
Outro destaque que merece a visita do espectador é O Poder de Diane, que apresenta a história da protagonista do título e a mudança tanto física quanto psicológica que sua vida sofre após esta topar servir de barriga de aluguel para um casal de amigos gays. Uma vez que não deseja ser mãe, a personagem passa a encarar aos poucos a importância e peso daquele ato. Também em visita a Salvador, o diretor da obra, Fabien Gorgeart, comentou que buscou um equilíbrio entre a comédia e o drama, tentando fugir dos comuns artifícios que muitos filmes com gravidez como tema abordam. “Sendo eu um homem, não achei que seria pertinente explorar os clichês de piadas em torno da gravidez. Por isso, o filme caminha mais para um drama. Para a diferença entre engravidar e ser mãe”, explica.

Junto aos trabalhos premiados que estão presentes na mostra, um que merece presença do espectador é Custódia, primeiro longa metragem do diretor Xavier Legrand, e que trouxe para o cineasta o prêmio de melhor diretor na edição do ano passado do Festival de Veneza. Além deste, outro destaque é o novo filme de François Ozon, O Amante Duplo, também exibido em Cannes esse ano, onde o realizador foi indicado à Palma de Ouro.

Novo filme de François Ozon, O Amante Duplo é destaque

MOSTRA EM REALIDADE VIRTUAL

Pelo segundo ano consecutivo, e primeira vez em Salvador, o Festival Varilux realizará uma mostra de filmes dedicada à Realidade Virtual. Na Aliança Francesa (de 05 a 10 de junho) e no Espaço Itaú - Glauber Rocha (entre 10 e 17 de junho) será apresentada uma mostra especial e com entrada franca composta por 11 produções realizadas inteiramente em VR (Virtual Reality, da sigla original).

Com o uso de um equipamento especial, a imersão do espectador dentro do universo de realidade virtual é plena. Trata-se de filmes com uma média de 10 a 20 minutos de duração e em diversos gêneros, como ação, ficção, animação e documentário. Dentre as produções, diversas passaram por festivais especializados no tipo de tecnologia, como o curta Proxima,do diretor Mathieu Pradat, que foi exibido na competição de realidade virtual da Bienal de Veneza, e Héritage, de Benjamin Nuel, exibido no World VR Forum, na Suíça, e no Festival do Cinema Novo, em Montreal.

O hilário A Raposa Má traz o gênero da animação para o evento

ANIMAÇÃO PRESENTE

Para o público amante das animações, o vencedor do César 2018 (o Oscar do cinema francês) na categoria, A Raposa Má, uma fábula na qual a raposa do título tenta ser um lobo para aplacar sua constante fome, mas acaba sem querer adotando três pintinhos que acreditam ser ela uma galinha, é garantia de risadas tanto para o público infantil quanto adulto. O filme tem a co-direção de Benjamin Renner, que já havia sido indicado ao Oscar pela brilhante animação de 2013, Ernest & Célestine. Com um estilo incomum que foge da atual leva hiper-realista de desenhos digitais, A Raposa Má remete a um tipo de trabalho no qual o traço flerta com o da aquarela, sendo que a oportunidade de ver os diálogos no original em francês permite ao espectador brasileiro uma aproximação ao tipo de humor especifico pensado para o filme.

Então, para os apreciadores do cinema feito na terra do lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade, a maratona francesa começa já nesta quinta. Bon voyage a tous!

*Texto publicado originalmente no Jornal A Tarde, dia 06/06/2018


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