sexta-feira, 22 de junho de 2018

Jurassic World - Reino Ameaçado


(Jurassic World - Fallen Kingdom, EUA, 2018) Direção: Juan Antonio Bayona. Com Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Justice Smith, Rafe Spall, James Cromwell


Terror em casa mal assombrada encontra dinossauros

Com mescla de estilos, Jurassic World: Reino Ameaçado acerta ao inserir
elementos de gênero incomuns à franquia

Por João Paulo Barreto

O principal acerto do diretor espanhol Juan Antonio Bayona ao adentrar no universo criado por Steven Spielberg no clássico de 1993, Parque dos Dinossauros, é utilizar sua experiência em filmes de suspense e de fantasia para reinventar o conceito de pavor que as criaturas ferozes do período jurássico podem causar tanto em suas “vitimas reais” quanto no espectador que experimenta aqueles medos de dentro da sala escura.  Ao optar por não mais apostar na óbvia utilização dos cenários grandiosos da natureza como ponto de clímax para seu filme, algo realizado com eficiência em Jurassic World, longa de 2015, o cineasta trilha um caminho de tensão que se aproxima da eficiente claustrofobia vista no desfecho da obra original. Aqui, entretanto, ele a constrói com uma assumida referência ao gênero do terror.

Claro que o filme ainda investe no espetáculo visual oriundo da Ilha Nublar, que, agora, segue ameaçada não somente pela ingerência humana na ambição de tirar lucro das criaturas não mais extintas, mas, também, por conta de um vulcão em erupção que deverá destruí-la junto a boa parte dos seus animais. As sequências de fuga, tanto dos bichos quanto dos humanos que seguem para o local no intuito de salvar algumas espécies, impressiona. Dentre estes, o herói Owen Grady, vivido por Chris Pratt, e, também, a agora defensora dos direitos dos dinos, Claire Dearing, mais uma vez na pele de Bryce Dallas Howard. 

Climax na mansão: elementos de terror clássico em casa mal assombrada

Acompanhando os dois, os coadjuvantes clichês de sempre, sendo eles uma cientista de aparência moderna e agilidade surpreendente, e o alívio cômico na presença de Justice Smith, jovem ator negro repleto de caras e bocas cujo único propósito em cena parece ser o de fazer a audiência rir por conta de sua insegurança.  Claro que isso o levará à coragem no momento ideal. Curioso como Hollywood ainda insiste em escalar atores afrodescendentes com um intuito reservado apenas ao campo da comédia.

TERROR CLÁSSICO

Mas, mesmo com a estrutura previsível cujo destino dos personagens parece estar fadado no momento em que os conhecemos, o que mais chama atenção na proposta de Bayona é justamente a adequação daquele terror a algo mais de acordo com sua experiência oriunda de filmes como O Orfanato, de 2007, e o recente Sete Minutos Depois da Meia-Noite. Lá, sensações como o suspense e o pânico que experimentavam os habitantes de suas histórias possuíam uma roupagem sobrenatural e de apelo para um cinema thriller mais tradicional. O que vemos em Jurassic World é uma reutilização destes elementos e artifícios clássicos, mas acertadamente usando os repteis não somente como ferramentas de sustos fáceis, mas como símbolos de um terror, apesar de simples, eficiente. Logo, é com um sorriso de canto de boca que vemos um dinossauro caminhar pelo telhado de um casarão para, em seguida, adentrar sorrateiramente em um quarto escuro através da janela para espreitar sua pequena vitima que se esconde debaixo de um lençol. Quer pesadelo mais ameaçador para uma infância do que aquele que se esconde debaixo da cama como um bicho papão?

Dino-Papão: reutilização do terror infantil em estilo jurássico 
O uso elementar da mansão na qual o terceiro ato se desenrola confirma esse controle de Bayona no mesclar de gêneros em seu filme.  No porão da casa, dezenas de monstros se fazem presentes tanto na figura das gigantescas criaturas, quanto na de gananciosos bilionários a participar de um leilão para a compra dos animais. Impossível não pensar nas seminais obras que utilizam o simbolismo da casa mal assombrada com criaturas escondidas, como A Queda da Casa de Usher, A Volta dos Mortos Vivos ou até mesmo Evil Dead. Mais do que isso, neste ponto, Bayona  dá ao seu filme aquela discussão comum, mas ainda pertinente, das obras anteriores e questiona: quem são os verdadeiros monstros naquela história?

Apresentando um final simbólico e que retorna à discussão vista na obra de 1993 acerca dos riscos vinculados aos poderes que a ciência concede ao ser humano, Jurassic World – Reino Ameaçado acaba por levar a franquia para um nível que desperta a curiosidade do espectador justamente pela ideia de sair da premissa básica e, convenhamos, esgotada dos quatro filmes anteriores. Com um desfecho em aberto, as possibilidades que uma conclusão para essa nova trilogia trazem são diversas. Resta torcer para que, no próximo filme, os nomes por trás do roteiro e direção ousem da mesma forma que Juan Antonio Bayona fez aqui.


*Texto publicado original em A Tarde, dia 23/06/2018


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