(The VVitch, A New-England Folktale EUA, 2015) Direção: Robert
Eggers. Com Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw.
Por João
Paulo Barreto
“Há um mal na
floresta.” Com essa frase, William, o pai da família de imigrantes europeus
que vive na Nova Inglaterra do ano de 1630, define de modo simples toda a
premissa de A Bruxa. E do mesmo modo
simples, o filme consegue construir uma atmosfera de puro pavor, sem qualquer
necessidade de sustos fáceis ou manipulação do público através de artifícios já
clichês e comuns ao gênero do terror.
Expulsos do vilarejo onde vivem após serem julgados em um
tribunal puritano e religioso (por razões que a obra não evidencia), o
patriarca e sua família passam a viver às margens de uma floresta onde tentam
levar uma vida comum de fazendeiros e criadores de cabras. Até que o bebê
Samuel desaparece nas mesmas margens, o que leva o grupo de pessoas ao colapso
emocional na busca pela criança, que todos acreditam ter sido raptada por uma
bruxa que vive na mata.
O patriarca William: vítima da própria fé cega |
Trata-se de uma obra de sugestão, cujo principal mérito está
no poder de causar o medo no espectador a partir unicamente do modo como cria sua
atmosfera na utilização de lendas do folclore local da Nova Inglaterra de
quatrocentos anos atrás. Tecnicamente perfeito em sua recriação de época, desde
o seu figurino camponês até a utilização de um idioma inglês arcaico na composição
das falas, o longa coloca a audiência dentro daquele universo, compartilhando
conosco a dor daquela família vitima de dogmas religiosos infundados e que vê a
sua fé cega como único caminho a seguir.
Fé que se torna, de modo irracional, o último bastião a que
pode se prender os membros daquele clã diante de elementos que eles não conseguem
entender. Entre rezas proferidas de modo incessante e desesperado, e a dolorosa
dor da perda a sufocar pais desolados, a loucura acaba sendo o único meio de se
encontrar conforto. Quando se abraça a insanidade, ao menos uma parte do mal
que aquelas pessoas se vêem diante passa a fazer sentido. Em seu final brutal,
é justamente a essa conclusão que a brilhante obra escrita e dirigida por
Robert Eggers nos leva.
O pequeno Caleb e sua redenção diante da própria dor física |
E quando vemos certo elemento do filme proferir suas
palavras de mau agouro, já é tarde demais para qualquer tipo de fuga. E nós
acabamos por nos sentir do mesmo modo desolado tais quais os personagens
daquela insana história.
É desse tipo de intervenção junto ao espectador que o
verdadeiro cinema trata. A sessão de A
Bruxa naquela sala escura denota muito bem isso.
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