quarta-feira, 13 de julho de 2016

A Bruxa

(The VVitch, A New-England Folktale EUA, 2015) Direção: Robert Eggers. Com Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw.



Por João Paulo Barreto

Há um mal na floresta.” Com essa frase, William, o pai da família de imigrantes europeus que vive na Nova Inglaterra do ano de 1630, define de modo simples toda a premissa de A Bruxa. E do mesmo modo simples, o filme consegue construir uma atmosfera de puro pavor, sem qualquer necessidade de sustos fáceis ou manipulação do público através de artifícios já clichês e comuns ao gênero do terror.

Expulsos do vilarejo onde vivem após serem julgados em um tribunal puritano e religioso (por razões que a obra não evidencia), o patriarca e sua família passam a viver às margens de uma floresta onde tentam levar uma vida comum de fazendeiros e criadores de cabras. Até que o bebê Samuel desaparece nas mesmas margens, o que leva o grupo de pessoas ao colapso emocional na busca pela criança, que todos acreditam ter sido raptada por uma bruxa que vive na mata.

O patriarca William: vítima da própria fé cega
Trata-se de uma obra de sugestão, cujo principal mérito está no poder de causar o medo no espectador a partir unicamente do modo como cria sua atmosfera na utilização de lendas do folclore local da Nova Inglaterra de quatrocentos anos atrás. Tecnicamente perfeito em sua recriação de época, desde o seu figurino camponês até a utilização de um idioma inglês arcaico na composição das falas, o longa coloca a audiência dentro daquele universo, compartilhando conosco a dor daquela família vitima de dogmas religiosos infundados e que vê a sua fé cega como único caminho a seguir.

Fé que se torna, de modo irracional, o último bastião a que pode se prender os membros daquele clã diante de elementos que eles não conseguem entender. Entre rezas proferidas de modo incessante e desesperado, e a dolorosa dor da perda a sufocar pais desolados, a loucura acaba sendo o único meio de se encontrar conforto. Quando se abraça a insanidade, ao menos uma parte do mal que aquelas pessoas se vêem diante passa a fazer sentido. Em seu final brutal, é justamente a essa conclusão que a brilhante obra escrita e dirigida por Robert Eggers nos leva.

O pequeno Caleb e sua redenção diante da própria dor física
E quando vemos certo elemento do filme proferir suas palavras de mau agouro, já é tarde demais para qualquer tipo de fuga. E nós acabamos por nos sentir do mesmo modo desolado tais quais os personagens daquela insana história.

É desse tipo de intervenção junto ao espectador que o verdadeiro cinema trata. A sessão de A Bruxa naquela sala escura denota muito bem isso.


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