quarta-feira, 20 de julho de 2016

Dois Caras Legais

(The Nice Guys, EUA, 2016) Direção: Shane Black. Com Russell Crowe, Ryan Gosling, Angourie Rice, Kim Basinger.


Por João Paulo Barreto

Shane Black tinha uma fama de roteirista de qualidade que o precedia quando estreou na direção de seu primeiro longa metragem em 2005. Na ocasião, Beijos e Tiros foi recebido de forma calorosa por seus diálogos rápidos, direção dinâmica, excelente química entre os protagonistas (Val Kilmer e Robert Downey Jr. estavam perfeitos em seus papeis) e uma trilha sonora inspirada. Black conseguira acertar novamente na criação de personagens marcantes, algo que havia feito de modo inspirado quando deu vida à dupla de policiais Martin Riggs e Roger Murtaugh vivida por Mel Gibson e Danny Glover no já clássico Máquina Mortífera.

Com uma recepção fria do seu regular Homem de Ferro 3, foi com curiosidade que acompanhei a sessão de Dois Caras Legais, seu novo filme. E, de fato, Black não decepcionou. Voltando à fórmula que o consagrou, ao unir dois protagonistas dispares e que têm justamente nessa química de opostos o que realmente os torna interessantes para o público, o diretor e roteirista encontra em Russell Crowe e Ryan Gosling a dupla ideal para gerar boas piadas em momentos inspirados.

March pego um tanto desprevenido por Healy
Ambientado em 1977, período no qual as luzes de neon e a música disco dominavam qualquer ambiente pop (algo muito bem utilizado pelo filme, friso), Shane apresenta os dois protagonistas nos papéis de detetives particulares que se unem para solucionar um caso de desaparecimento de uma jovem atriz pornô que parece estar envolvida em um complô relacionado à mafiosa indústria automobilística de Detroit, pólo americano na construção de carros.

Seguindo as pistas do seu desaparecimento, o roteiro escrito por Black em parceria com Anthony Bagarozzi, usa as investigações como pura desculpa para destrinchar suas falas espertas em velozes diálogos, o que funciona muito bem quando temos um personagem durão e violento como o Jackson Healy, de Crowe, fazendo dupla oposta com o abobalhado Holland March, de Gosling. Nessa boa química, as conversas entre os dois entregam os melhores momentos, como quando Healy conhece March e decide conseguir informações de modo não muito pacifico, ou quando este é pego desprevenido no banheiro, o diretor opta por uma rápida, porém eficiente, gag visual envolvendo a porta do toalete e um cigarro.


"Hey, vocês querem ver meu pau?" "Não, garoto, não queremos ver seu pau."
Com uma excelente recriação de época ao inserir os anos 1970 em suas referências musicais e visuais, além, claro, na abordagem da indústria pornô do período, o que lembra um pouco o que vimos em Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson, Dois Caras Legais acerta principalmente por seu perfil descompromissado, sem que isso queira dizer que se trata de um filme de roteiro preguiçoso. Sua história, inclusive, chega a ficar um tanto confusa em certo momento por conta da inserção de reviravoltas e personagens em excesso, mas nada que prejudique o resultado.

No final, a impressão é a de que os realizadores se divertiram no processo de criação tanto quanto o público se diverte conferindo aquela trama. Com a junção perfeita de Crowe e Gosling nos perfis bad cop, good cop (a cena em que eles interrogam um barman é hilária), e os diálogos exatos de Black (“Dad, there are whores here, n’stuff”, “Don´t say n’stuff. Just say, Dad, there are whores here”, March corrigindo a filha), percebe-se o acerto na escolha dos dois.

Boas risadas no melhor estilo Shane Black são sempre bem vindas.


Um comentário:

  1. Gostei de seu texto n_n Dois Caras Legais superou as minhas expectativas ❤️ O ritmo da historia nos captura a todo o momento. Quero vê-la novamente! Se vocês são amantes dos filmes de detetives, este é um que não devem deixar de ver. :)

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