(Life, USA, UK,
2015) Direção: Anton Corbijn. Com
Robert Pattinson, Dane DeHann, Peter Lucas, Joel Edgerton, Ben Kingsley.
Por João Paulo Barreto
O mais significativo acerto de Life – Um Retrato de James Dean está na escolha do diretor Anton
Corbijn e do roteirista Luke Davies em apresentar a lenda do jovem ator morto
aos 24 anos de um modo que, apesar de descortinar suas falhas e inseguranças,
mantém a sua personalidade intrigante para, aos poucos, inserir o espectador na
vida pessoal e repleta de fragilidades emocionais de um mito.
Trata-se de uma construção lenta do personagem, que vai
tendo suas camadas desvendadas ao espectador pouco a pouco para, em uma
declamação poética final, ser desnudado por completo.
Aqui, conhecemos Dean no período logo após o lançamento do
clássico de Elian Kazan, Vidas Amargas,
de 1954, meses antes do inicio das gravações de Juventude Transviada, o filme que o transformaria em um ídolo
mundial. Na esteira do sucesso da obra de Kazan, Dean começa a ser visado pela
Warner Bros. (Ben Kingsley roubando a cena no papel do chefão Jack Warner) e é
quando o fotógrafo Dennis Stock (Robert Pattinson) se aproxima do astro ao
perceber estar diante de ícone que ainda não estourou para a fama.
Stock (Pattinson) e Dean (DeHaan) na recriação da icônica imagem |
O filme trabalha de modo bem natural a amizade dos dois
homens. As dúvidas de James Dean em relação ao seu próprio talento e os
problemas pessoais de Stock, ele mesmo com pouco mais de vinte anos, divorciado
e distante do seu filho pequeno, se contrapõem no drama dos dois protagonistas.
No entanto, é ao adentrar nas neuroses e ansiedades de Dean que o filme começa
a engrenar.
Convencido após longa insistência por parte do fotografo, o
ator cede e se permite fotografar em sua rotina em Nova York, local de origem
de sua carreira no teatro e que decide revisitar. As lentes de Stock capturam
Dean em suas atividades comuns, como a ida ao cabeleireiro, uma visita ao Actor
Studios, local onde tomou aulas de atuação com o criador do lendário Método,
Lee Strasberg, e um flagra de bebedeira ao ser capturado dormindo bêbado à mesa
de um bar em uma noite de dança que incluiu passos com a eterna Mulher Gato do
seriado sessentista do Batman, Eartha Kitt, em uma bela cena tributo.
Capturando o astro em sua intimidade |
Famosas pela sua iconicidade, as fotos mais representativas
de James Dean são as capturadas por Stock em Times Square e na fazenda onde
cresceu o rapaz, em Indiana, local que revisita na companhia do fotógrafo, nos
momentos de maior beleza do filme, por apresentar o jovem mais à vontade por
estar com sua família. Nesta aproximação da vida privada do ator, o roteiro de
Davies denota seu ponto alto. Ao trazer à tona a dolorosa lembrança de ter
perdido a mãe aos nove anos (fato que nos é apresentado em um belo dialogo em
um vagão de trem), o filme nos permite adentrar nas camadas daquela
personalidade, desnudando a imagem de mito que o garoto começava a construir e
que, tragicamente, alcançaria níveis absurdos nos meses seguintes.
Falhando ao preferir se manter isento de polêmicas ao não
abordar o lado gay do ator no suposto caso que teve com Marlon Brando e preferindo
focar apenas no romance com a atriz italiana Pier Angeli, o longa até consegue
superar essa falha por conta do modo profundo como trouxe à tona o lado
traumático e afetado pela perda sofrida na morte da mãe em sua infância.
DeHaan e sua atuação minimalista |
Nessa construção do personagem, Dane DeHaan cria sua versão
de James Dean beirando a perfeição. Com seus olhos cansados, às vezes tomados
por gritantes olheiras, voz pausada e postura um tanto curvada, o ator transmite
a tal insegurança do rapaz que parecia desconfiar do quão grande ele viria a se
tornar e temia tamanho fardo a ser carregado, mesmo tendo desejado aquilo desde
o seu primeiro momento em Nova York após ter deixado Indiana.
Em sua última cena, ao recitar o poema We must go home, do poeta James Whitcomb Riley, nascido na mesma
Indiana do astro, ele observa as montanhas da janela de um avião a caminho de
Los Angeles. Não percebendo ter sido a ida a Indiana junto a Stock sua última
visita ao lar, James Dean nota mãe e filho nas poltronas ao lado da sua e os
observa com ternura.
Demoraria, no entanto, poucos meses para ele, realmente,
voltar para casa de forma triste e definitiva.
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