(EUA, 2016) Direção Paul Greegrass. Com Matt Damon, Tommy
Lee Jones, Alicia Vikander, Vicent Cassel, Julia Stiles.
Por João Paulo Barreto
Após a sequência filmada na estação de trem Waterloo, em
Londres, a qual rendeu o Oscar de melhor montagem para Christopher Rouse por
seu trabalho em O Ultimato Bourne, imaginar
que a parceria do montador com o cineasta Paul Greengrass poderia superar
tamanho esplendor técnico era algo desafiador. Em Jason Bourne,novo capitulo da saga do herói em busca do seu
passado, essa possibilidade foi
alcançada.
Ao preferir batizar o longa apenas com o nome do seu
protagonista, os realizadores dão o tom desta última parte, colocando-o como
uma força motriz em busca de retaliação contra as pessoas que lhe retiraram
tudo. Sem Identidade, sem supremacia e seu nenhum ultimato. Nesse mais recente
episódio (o que não deve ser encarado como último), o personagem de Jason
Bourne age de modo instintivo, buscando apenas causar dor e morte àqueles que o
construíram do modo como ele é.
Rosto sem passado: Jason Bourne confronta a si mesmo |
Aqui, temos o homem novamente às voltas com suas memórias perdidas e em busca de respostas para seu passado como o agente assassino a serviço do governo estadunidense. Ao nos colocar diante de peças familiares de Bourne (ou David Webb), o filme acerta por mostrar ao espectador uma face mais intima daquele personagem. Então, quando seu pai é trazido à tona como um dos pontos catalisadores para explicar o que ele é hoje, o roteiro escrito pelo próprio montador em parceria com Greengrass acerta ao denotar o quão frágil emocionalmente se tornará o personagem, uma vez que até mesmo sua base familiar lhe foi retirada, deixando-o apenas com a sua vida de agente militar como algo a que se apegar.
E tudo lhe é retirado, mesmo. Aliás, é válido observar a
quadrilogia Bourne justamente como um estudo do modo como as perdas físicas e psicológicas
deste personagem o afetam. O vemos perder sua amada Marie na segunda parte,
algo que contribuiu não somente para sua ira calculada, mas para torná-lo ainda
mais pragmático em seus atos. Aqui, outra perda lhe é desferida de modo doloroso,
e quando a descoberta de que até mesmo sua família pode fazer parte do espiral autodestrutivo
que sua vida representa, não lhe resta muito pelo que lutar, a não ser puramente
por vingança. Calculada e pragmática, mas, ao final, apenas a pura e simples
vingança. E é ainda mais interessante perceber como a tal fragilidade emocional
não o afeta em seu pragmatismo.
Bourne e Nicky Parsons: reencontro trágico |
Como antagonista direto, Vincent Cassel interpreta o agente
de mesmo nível de Bourne. Com a única diferença de que, ao contrário dos rivais
anteriores, uma questão pessoal o motiva a querer matá-lo. Nessa busca, o
primeiro local onde os dois se encontram é na Atenas atormentada por conflitos
civis. E é neste ponto que retorno ao começo dessa crítica ao abordar como a excelência
da montagem de Rouse e o domínio técnico da direção de Greengrass se fazem perceptíveis.
Com a diferença de usar um espaço aberto e isso poder lhe propiciar (ou não)
mais liberdade na construção do ritmo do longa, montador e diretor criam uma
narrativa rápida e eficiente, sem confundir o espectador, guiando-o através de
uma linha temporal que culmina em um final emocionalmente impactante. Uma
notável superação da citada cena de Waterloo vista no terceiro exemplar da
franquia.
Além disso, é curioso observar como em Jason Bourne Greengrass se permitiu ousar mais (leia-se: chutar o
balde, mesmo). O ponto de maior percepção neste sentido está em seu desfecho
nas ruas de Las Vegas, quando uma fuga e perseguição pelas ruas repletas de
veículos servem de cenário para uma
catártica destruição. E o filme se mostra atualizado com o contexto paranóico do
mundo moderno, ao citar os vazamentos orquestrados por Edward Snowden em
comparação com certas descobertas que um hacker faz das novas operações
orquestradas pela CIA, como a Treadstone e a Blackbriar, vistas nos longas
anteriores.
Cassel: o matador sem nome que se equipara a Bourne |
Na presença de Alicia Vikander no papel de uma suposta
aliada de Bourne dentro da CIA, um tom de arrogância e mais pragmatismo é
inserido pela personagem. Além dela, o burocrata a liderar todo o plot da vez encontra
na face de Tommy Lee Jones a presença ideal de desconfiança. Após Chris Cooper,
Brian Cox e David Strathairn vestirem personagens semelhantes, é interessante
notar como o rosto marcado de Jones se adequa bem ao papel de conspirador.
Ao final, com um gancho ambíguo para uma possível reviravolta
em uma futura quinta parte (sim, desconsidere O Legado Bourne), espera-se apenas que a repetição constante destes
elementos não torne Jason Bourne um personagem tão previsível quanto James
Bond.
Mas, se observamos o que foi apresentado aqui e nos outros
dois filmes dirigidos por Greengrass, as chances disso acontecer são nulas.
Vikander e Jones: a face da CIA corrupta dentro do universo Bourne |
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