(La Vache, França,
2016) Direção: Mohamed Hamidi. Com
Fatsah Bouyahmed, Lambert Wilson, Jamel Debbouze.
Por João Paulo Barreto
É curiosa a atração que o cinema tem pelos underdogs. Diversos filmes já abordaram
uma história que traz alguém cujas chances de conseguir êxito em uma missão
auto-imposta são mínimas, mas que, nesse intento, acaba por cativar personagens
descrentes e, claro, o espectador. Vide Forrest
Gump ou, mais recentemente, Eddie theEagle. Curiosamente, é uma fórmula que raramente erra no sentido de causar
empatia entre o público e o protagonista.
O mais novo exemplar desse tipo de filmografia é o francês A Vaca (tradução literal do La Vache, que no Brasil ganha um título
fácil para o público: A Incrível Jornada
de Jacqueline.) Aqui, Fahad, um agricultor da Argélia, tem no amor e
cuidado com a sua vaca (a Jacqueline do título) sua motivação para o trabalho
com o animal leiteiro. Após anos de tentativas de inscrições frustradas, Fahad recebe
um convite dos organizadores da feira agropecuária de Paris para exibir seu
bicho de estimação no evento. O único detalhe é que a feira não banca os custos
da viagem, e Fahad decide ir a pé da Argélia à Paris.
Fahad e Jacqueline: ongo trajeto da Argélia à Paris |
No trajeto, o homem passa por diversos percalços. E é
justamente no apelo cômico das situações nonsenses em que ele se envolve que se
resume os pontos positivos desta obra sem grandes ambições. Além disso, o filme
traz curiosas observações acerca dos costumes argelinos em relação a aspectos
banais, como o tratamento carinhoso de um marido para com sua mulher (o momento
em que Fahad decide escrever uma carta de desculpas à sua esposa define bem) ou
a relação que possuem tais pessoas com a atual situação da França no que se
refere ao terrorismo (a frase “Je suis
Charlie” é ouvida em alguns dos momentos cômicos do longa.)
Focando não somente na situação delicada dos imigrantes em
relação à permanência na França, os quais o filme parece colocar em situações
semelhantes vendendo artigos telefônicos para ligar para seus países no oriente
ou trabalhando com quinquilharias da China, o longa também aborda o problema
econômico que também afeta os próprios franceses. Vivendo atrás de um título de
conde, o personagem de Lambert Wilson é um exemplo. Sendo um dos que ajudam
Fahad em seu intento, o nobre sem dinheiro claramente tem em sua origem
familiar apenas um disfarce para a verdadeira situação de quebra financeira que
vive, mas que evita deixar transparecer.
Fahad ao lado do Conde falido Philippe e de seu cunhado, Hassan |
Trata-se de uma obra que tem no carisma e inocência de seu
protagonista seu grande trunfo. Um meio eficiente de conquistar o público por
conta de seu modo sincero de agir, tornando seu plano, apesar de descabido para
muitos, sua verdadeira razão para se manter fiel a ele. Descoberto por uma repórter,
se torna um fenômeno de mídia, virando notícia em toda a França, em mais um
eficiente estudo que o filme se propõe a fazer no sentido de analisar o modo
como a sociedade parece necessitar de ídolos e de pessoas que a inspirem.
Mesmo não sendo totalmente integro em seus atos (o suborno
pago a um funcionário público mostra bem isso), Fahad se transforma justamente em
um ídolo. Do mesmo modo inspirador como Forrest Gump parecia atrair a todos em
sua corrida sem motivo pelos Estados Unidos, Fahad parece fazer o mesmo. A
diferença está apenas em seu intento final, que, ao subir dos créditos,
percebe-se ser bem mais do que apenas uma feira agropecuária.
Um filme inofensivo, mas bastante enriquecedor.
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