domingo, 17 de setembro de 2017

A Gente

(Brasil, 2013) Direção: Aly Muritiba. 


Por João Paulo Barreto

Há um labirinto tanto físico, feito de paredes concretas, quanto um feito de burocracias que, apesar de imateriais, aprisionam do mesmo modo os personagens de A Gente, novo documentário do diretor Aly Muritiba. Nestes dois labirintos, co-habitam presos e agentes penitenciários, estes últimos, foco principal da lente do cineasta nesta terceira parte da trilogia do cárcere, iniciada pelos curtas A Fábrica e Pátio. Dentre estes agentes está Jefferson Walkiu, um dos coordenadores internos de um presídio em Curitiba. Observar a postura de Walkiu diante dos problemas que lhe são apresentados em sua rotina de trabalho é observar a desfragmentação contínua de um homem em cinco atos, que Muritiba insere na tela representados por códigos radiofônicos.

A câmera segue o agente Walkiu por estes corredores labirínticos. Mostra seus diálogos com os presos, focando sempre na imagem dele e dos outros profissionais. A voz dos presos é ouvida, mas o direcionamento está na relação dos funcionários diante dos desafios daquele dia a dia. Enquanto segue em sua abordagem de diálogo com os detentos, Walkiu esbarra nas limitações de um sistema carcerário que foca no lucro em detrimento de qualquer suposta função de ressocialização.

Ao espectador, fica a percepção de que a ideia quantitativa de pessoas atrás das grades rege todo o interesse comercial daquela forma de lucro. Quanto mais presos, maior a necessidade de terceirização de serviços e maior o número de contratos que o governo terá que abrir com empresas sem qualquer viés de investimentos na melhoria da qualidade de vida dos internos.

Jefferson Walkiu e sua rotina na penitenciária
Assim, observamos com perplexidade a ausência de algemas e coletes para os agentes; a diminuição quantitativa de itens, como o impressionante momento em que Walkiu precisa explicar aos detentos sobre a redução do café destinado a eles; as propostas sindicais de melhorias salariais que estagnam diante da omissão do Estado, e, ao final, o que notamos na expressão daquelas pessoas é uma crescente sensação de inércia perante aquela rotina.

Walkiu é apresentado, também, fora daqueles muros, quando atua como pastor evangélico. É inevitável perceber o sorriso no rosto do homem diante de sua congregação e não pensar que aquela expressão só existe quando além da instituição. Em outro momento, observá-lo conversar com alguns jovens acerca de estudos bíblicos faz o espectador imaginar que aquela conversa possui, também, uma ação conscientizadora: aja agora para que não seja preciso encarar aqueles jovens por entre barras de metal futuramente.

Ao retornar ao seu posto de trabalho, no entanto, aquele sentimento cessa. A tensão retorna e voltamos a perceber aquele desgaste correr o homem que parece ser inabalável diante de seus desafios profissionais. Um diálogo final, no entanto, e uma reação cansada perante um jogar da tolha, leva o espectador a concluir que todos possuem um limite. Para o agente Jefferson Walkiu, esse limite chegou. 


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