TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO EM A TARDE DIA 11/09/2017 http://atarde.uol.com.br/cinema/noticias/1893643-curtas-e-longas-premiados-no-cachoeiradoc-ratificam-sua-postura-de-cinema-de-urgencia
Curtas e
longas premiados na VIII edição do festival ratificam sua postura de cinema de
urgência
João Paulo Barreto
O Cachoeria Doc encerrou sua oitava edição confirmando ser a
grande festa do cinema no interior da Bahia. Com uma extensa programação que
contou com mostras competitivas de curtas e longas-metragens; estreias mundiais
de filmes; exibições especiais de curtas raros; homenagens a personalidades
marcantes como Luiz Paulino dos Santos; mini-curso ministrado pela montadora e
autoridade no ofício, Cristina Amaral; colóquio Cinema, Estética e Política, além
de muita música ao final de cada dia, porque nenhum cinéfilo, crítico, parte da
equipe do evento ou simples frequentador das sessões é de ferro. Animando a
cidade, shows de diversos estilos esquentaram a noite às margens do rio
Paraguaçu.
Sobre a premiação, o júri jovem, composto Álex Antonio dos
Santos, estudante de cinema na UFRB; Fábio Rodrigues Filho, coordenador e
designer do Cineclube Mário Gusmão e Geilane de Oliveira, também estudante de
cinema em Cachoeira, premiou o impactante e essencial curta, A Gis, que conta a história do
assassinato, em 2006, de Gisberta Salce, mulher transexual brasileira que vivia
em Lisboa e foi torturada e morta por motivos homofóbicos.
A Gis, impactante curta de denúncia, recebeu menção honrosa |
Além deste, o curta Deus,
de Vinicius Silva, em um texto que salientou a plena identificação do júri
com a luta de sua personagem principal, também foi premiado. Na menção honrosa,
o júri jovem salientou a importância de Historiografia,
filme de Amanda Pó, curta bem
direto em sua mensagem de reconhecimento ao tabalho de mulheres no curso da
história da humanidade.
O júri oficial do festival, composto pelo crítico e
pesquisador, Rafael Carvalho; pela também pesquisadora Laura Bezerra e pela
própria Cristina Amaral, confirmou um perfil que norteou todo o evento: o de
valorizar um cinema de urgência, que dialogue com seu público buscando
alertá-lo quanto ao esmagamento de minorias. Com duas menções honrosas, o júri
salientou a importância de obras como Na
Missão, com Kadu, de Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito, no
qual a abordagem tirânica das forças do Estado esmagam minorias que buscam
apenas pelo direito de moradia.
Na Missão, Com Kadu, também lembrado em menção honrosa |
Na segunda menção, o corpo de jurados ratificou a ideia de
um cinema simples, mas eficiente, destacando um tema crucial como a liberdade
de expressão sexual como símbolo de uma busca através da alegria. O curta em
questão, CorpoStyleDanceMachine, uma
pequena pérola de apenas 7 minutos, dirigida pelo jovem cachoeirano, Ulisses
Arthur, aborda a figura folclórica de Tikal, morador da cidade do recôncavo que
luta para manter sua afirmação em uma opção sexual que diverge de um padrão
dito “normal”. Nas palavras do próprio Tikal ao contar sua história e na sua
dança, uma eficiente mensagem de conscientização.
Como Melhor Curta Metragem, o júri agraciou Travessia, curta de Safira Morena, que
aborda de modo poético a busca pela memória do povo negro através de
fotografias e “a reconstrução de laços destruídos pelo processo de escravidão”.
Bastante emocionada, a diretora desabafou no palco ao dedicar o prêmio a “todas
as meninas pretas, pois é foda estar nesse rolê”. Um dos momentos que definem essa edição.
Os dois júris, tanto o jovem como o oficial, optaram por premiar o filme denúncia Ava Yvi Vera – A Terra do Povo do Raio, longa dirigido por um grupo de jovens e lideranças das tribos Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso. O longa consegue casar imagens impactantes em sua beleza estética com uma crucial mensagem de restabelecimento da cultura nativa daquelas pessoas cujo desejo básico é o de viver da terra.
Trata-se de um trabalho obrigatório para o audiovisual na sua função de registrar a luta atual dos Guarani e Kaiowá.
Cachoeira Doc termina e já deixa saudade.
Filmes
premiados no VIII Cachoeira Doc
Júri oficial
- Melhor
longa-metragem:
Ava Yvy Vera – A Terra do Povo do Raio (Minas Gerais, 2016,
52 min.)
De Genito Gomes, Valmir Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes, Sarah Brites, Joilson Brites
De Genito Gomes, Valmir Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes, Sarah Brites, Joilson Brites
- Melhor
curta-metragem:
Travessia (Rio de Janeiro,
2017, 4 min.)
De Safira Moreira
De Safira Moreira
- Menção honrosa:
CorpoStyleDanceMachine (Bahia,
2017, 7 min.)
De Ulisses Arthur
De Ulisses Arthur
Na Missão, com Kadu (Minas Gerais, 2016, 28 min.
De Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito
De Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito
Cena de Ava Yvy Vera – A Terra do Povo do Raio, longa vencedor |
Júri jovem
- Melhor
longa-metragem:
Ava Yvy Vera – A Terra do Povo do Raio (Minas Gerais, 2016,
52 min.)
De Genito Gomes, Valmir Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes, Sarah Brites, Joilson Brites
De Genito Gomes, Valmir Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes, Sarah Brites, Joilson Brites
- Melhor
curta-metragem: A Gis (São Paulo, 2016, 20 min.)
De Thiago Carvalhaes
De Thiago Carvalhaes
Deus (Rio Grande do Sul/ São Paulo, 2016, 25 min.)
De Vinicius Silva
De Vinicius Silva
- Menção honrosa:
Historiografia (São Paulo, 2017, 4 min.)
De Amanda Pó
De Amanda Pó
O pequeno tesouro que é CorpoStyleDanceMachine, de Ulisses Arthur |
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