terça-feira, 12 de setembro de 2017

Encerramento e premiados - Cachoeira Doc 2017


Curtas e longas premiados na VIII edição do festival ratificam sua postura de cinema de urgência


João Paulo Barreto

O Cachoeria Doc encerrou sua oitava edição confirmando ser a grande festa do cinema no interior da Bahia. Com uma extensa programação que contou com mostras competitivas de curtas e longas-metragens; estreias mundiais de filmes; exibições especiais de curtas raros; homenagens a personalidades marcantes como Luiz Paulino dos Santos; mini-curso ministrado pela montadora e autoridade no ofício, Cristina Amaral; colóquio Cinema, Estética e Política, além de muita música ao final de cada dia, porque nenhum cinéfilo, crítico, parte da equipe do evento ou simples frequentador das sessões é de ferro. Animando a cidade, shows de diversos estilos esquentaram a noite às margens do rio Paraguaçu.

Sobre a premiação, o júri jovem, composto Álex Antonio dos Santos, estudante de cinema na UFRB; Fábio Rodrigues Filho, coordenador e designer do Cineclube Mário Gusmão e Geilane de Oliveira, também estudante de cinema em Cachoeira, premiou o impactante e essencial curta, A Gis, que conta a história do assassinato, em 2006, de Gisberta Salce, mulher transexual brasileira que vivia em Lisboa e foi torturada e morta por motivos homofóbicos.

A Gis, impactante curta de denúncia, recebeu menção honrosa
Além deste, o curta Deus, de Vinicius Silva, em um texto que salientou a plena identificação do júri com a luta de sua personagem principal, também foi premiado. Na menção honrosa, o júri jovem salientou a importância de Historiografia, filme de Amanda Pó, curta bem direto em sua mensagem de reconhecimento ao tabalho de mulheres no curso da história da humanidade.

O júri oficial do festival, composto pelo crítico e pesquisador, Rafael Carvalho; pela também pesquisadora Laura Bezerra e pela própria Cristina Amaral, confirmou um perfil que norteou todo o evento: o de valorizar um cinema de urgência, que dialogue com seu público buscando alertá-lo quanto ao esmagamento de minorias. Com duas menções honrosas, o júri salientou a importância de obras como Na Missão, com Kadu, de Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito, no qual a abordagem tirânica das forças do Estado esmagam minorias que buscam apenas pelo direito de moradia.

Na Missão, Com Kadu, também lembrado em menção honrosa
Na segunda menção, o corpo de jurados ratificou a ideia de um cinema simples, mas eficiente, destacando um tema crucial como a liberdade de expressão sexual como símbolo de uma busca através da alegria. O curta em questão, CorpoStyleDanceMachine, uma pequena pérola de apenas 7 minutos, dirigida pelo jovem cachoeirano, Ulisses Arthur, aborda a figura folclórica de Tikal, morador da cidade do recôncavo que luta para manter sua afirmação em uma opção sexual que diverge de um padrão dito “normal”. Nas palavras do próprio Tikal ao contar sua história e na sua dança, uma eficiente mensagem de conscientização.

Como Melhor Curta Metragem, o júri agraciou Travessia, curta de Safira Morena, que aborda de modo poético a busca pela memória do povo negro através de fotografias e “a reconstrução de laços destruídos pelo processo de escravidão”. Bastante emocionada, a diretora desabafou no palco ao dedicar o prêmio a “todas as meninas pretas, pois é foda estar nesse rolê”.  Um dos momentos que definem essa edição.

Os dois júris, tanto o jovem como o oficial, optaram por premiar o filme denúncia Ava Yvi Vera – A Terra do Povo do Raio, longa dirigido por um grupo de jovens e lideranças das tribos Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso. O longa consegue casar imagens impactantes em sua beleza estética com uma crucial mensagem de restabelecimento da cultura nativa daquelas pessoas cujo desejo básico é o de viver da terra. 

Trata-se de um trabalho obrigatório para o audiovisual na sua função de registrar a luta atual dos Guarani e Kaiowá.

Cachoeira Doc termina e já deixa saudade.

Filmes premiados no VIII Cachoeira Doc

Júri oficial

- Melhor longa-metragem:
Ava Yvy Vera – A Terra do Povo do Raio (Minas Gerais, 2016, 52 min.)
De Genito Gomes, Valmir Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes, Sarah Brites, Joilson Brites

- Melhor curta-metragem:
Travessia (Rio de Janeiro,  2017, 4 min.)
De Safira Moreira

- Menção honrosa:
CorpoStyleDanceMachine (Bahia, 2017, 7 min.)
De Ulisses Arthur
Na Missão, com Kadu (Minas Gerais, 2016, 28 min.
De Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito

Cena de Ava Yvy Vera – A Terra do Povo do Raio, longa vencedor
Júri jovem

- Melhor longa-metragem:
Ava Yvy Vera – A Terra do Povo do Raio (Minas Gerais, 2016, 52 min.)
De Genito Gomes, Valmir Gonçalves Cabreira, Jhonn Nara Gomes, Jhonatan Gomes, Edina Ximenez, Dulcídio Gomes, Sarah Brites, Joilson Brites

- Melhor curta-metragem: A Gis (São Paulo, 2016, 20 min.)
De Thiago Carvalhaes
Deus (Rio Grande do Sul/ São Paulo, 2016, 25 min.)
De Vinicius Silva

- Menção honrosa:

Historiografia (São Paulo, 2017, 4 min.)
De Amanda Pó

O pequeno tesouro que é CorpoStyleDanceMachine, de  Ulisses Arthur

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